O julgamento do homem acusado de atropelar mortalmente o adepto italiano de futebol Marco Ficcini junto ao Estádio da Luz, em Lisboa, em abril de 2017, foi adiado pela terceira vez, para 4 de fevereiro. O início do julgamento esteve marcado para 21 de novembro de 2018, foi adiado para 11 de setembro de 2019 e depois para 15 de janeiro deste ano, mas agora novamente adiado para as 9h30 de 4 de fevereiro.
Segundo um despacho judicial, a que a agência Lusa teve hoje acesso, este terceiro adiamento deve-se ao facto de o processo ter sido “objeto de redistribuição” a um novo coletivo de juízes do Tribunal Central Criminal de Lisboa, que terá Francisco Henriques como juiz presidente. A manhã de 4 de fevereiro está reservada para declarações de arguidos e inquirição de duas testemunhas, e à tarde prosseguem as inquirições de testemunhas. O presidente do coletivo de juízes agendou ainda sessões para 11 e 18 de fevereiro (todo o dia).
Em 16 de abril de 2018, o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa decidiu levar a julgamento Luís Pina, principal arguido, pelo homicídio de Marco Ficcini e por outros quatro homicídios na forma tentada, enquanto os restantes arguidos serão julgados pelos crimes de participação em rixa, de dano com violência e de omissão de auxílio.
Além de Luís Pina, a juíza de instrução criminal Isabel Sesifredo decidiu levar a julgamento os restantes 21 arguidos no processo: outros nove adeptos do Benfica com ligações à claque No Name Boys e 12 adeptos do Sporting da claque ‘Juventude Leonina’, nos exatos termos da acusação do Ministério Público (MP).
A instrução — fase facultativa em que um juiz decide se os arguidos vão a julgamento — foi requerida por dez dos arguidos, incluindo Luís Pina, que, no requerimento de abertura de instrução, a que a Lusa teve acesso, sustentava que “nunca teve intenção” de atropelar e “muito menos matar um ser humano”. A juíza de instrução criminal pronunciou então os 22 arguidos — todos em liberdade — nos exatos termos da acusação do Ministério Público (MP), tendo dado “por integralmente reproduzidos” e provados os factos descritos.
Luís Pina, que estava em prisão preventiva desde 29 de abril de 2017, foi libertado em 02 de março de 2018, porque não foi proferida decisão instrutória no prazo máximo de dez meses após a data em que lhe foi aplicada aquela medida de coação. Este arguido está ainda proibido de se aproximar dos estádios da Luz e Alvalade.
Marco Ficcini pertencia à claque do clube italiano Fiorentina O Club Settebello, era também adepto do Sporting e morreu após um atropelamento e fuga junto ao Estádio da Luz (do Benfica), na sequência de confrontos ocorridos na madrugada de 22 de abril de 2017, horas antes de um jogo de futebol entre o Sporting e o Benfica, da 30.ª jornada da I Liga, dessa época, no Estádio José Alvalade, em Lisboa.
Segundo a acusação do MP, nessa madrugada, um grupo de adeptos do Benfica dirigiu-se às imediações do Estádio José Alvalade (do Sporting) e lançou um foguete luminoso de cor vermelha na direção do topo sul. Adeptos sportinguistas que se encontravam no Estádio José Alvalade a distribuir bilhetes e a preparar as coreografias da claque Juventude Leonina dirigiram-se ao Estádio da Luz a fim de “ripostarem” pelo lançamento do foguete luminoso, levando consigo barras de metal.
Durante os confrontos e perseguições que se seguiram, Luís Pina terá atropelado mortalmente Marco Ficcini, “arrastando o corpo por 15 metros” e imobilizando o carro só “depois de ter passado completamente por cima do corpo da vítima”, descreve a acusação, acrescentando que o arguido abandonou o local “sem prestar qualquer auxílio”.