Catarina Loureiro, filha do ex-ministro social-democrata Dias Loureiro, é suspeita de ter criado uma empresa fictícia que servia para justificar mais de quatro milhões de euros vindos da Petróleos da Venezuela para as contas da família Morodo, avança esta quinta-feira a Sábado, que teve acesso a novos documentos do processo que está a correr num tribunal espanhol em Madrid.
De acordo com esses documentos, Catarina Loureiro estará envolvida nesse alegado esquema de branqueamento de capitais com o marido, Alejo Morodo, e os sogros — Raúl Morodo, antigo embaixador espanhol na Venezuela, e a mulher, Cristina Cañeque de Sola. A filha de Dias Loureiro e Alejo Morodo seriam sócios de uma sociedade de compra e venda de propriedades; e consultoria fiscal, laboral e jurídica, constituída em 2007 com o nome Aequitas, Abogados y Consultores Associados, descreve a Sábado.
No entanto, as autoridades espanholas suspeitam que essa sociedade serviria apenas como fachada para os negócios mantidos com a Petróleos da Venezuela. Um dos documentos citados pela Sábado afirma que as relações comerciais entre a Aequitas e os venezuelanos tinham como único objetivo a “prestação de serviços pessoalíssimos” de Alejo Morodo. A Agencia Tributária afirma ainda: “Resulta claro para esta inspeção que não foi possível conhecer em concreto quais os serviços prestados”.
Tal como o Observador noticiou esta semana, a Galp também está a ser investigada neste caso porque a Aequitas Abogados terá prestado serviço a várias subsidiárias da empresa de energia portuguesa.
Alejo Morodo terá sido sido consultor da Galp Energia España, SA entre 2012 e 2013, tendo recebido cerca de um total de cerca de 50.499 euros de remunerações. No relatório do fisco espanhol pode ainda ler-se que o filho de Raul Morodo prestou serviços à subsidiária espanhola da Galp “desde 2004”. Os valores que Alejo recebeu desde 2004 não são revelados, mas a Galp já afirmou que pagou um valor superior em cinco mil euros ao que foi declarado por Alejo Morodo.
Ainda em maio de 2019, a casa de Alejo Morodo e de Ana Catarina Loureiro, assim como a casa e o escritório de Raul Morodo, foram alvo de buscas pelas autoridades judiciais espanholas. O casal chegou a ficar em prisão preventiva. No relatório da Autoridade Tributária espanhola, a que o Observador teve acesso, Ana Catarina Loureiro é referenciada por ter tido 50% do capital da sociedade Intercatera Desarrollo SL em 2005. Esta sociedade terá sido usada por Alejo Morodo entre 2012 e 2014 no alegado esquema de branqueamento de capitais.
Essa é a mesma sociedade de Alejo Morodo que alegadamente transferiu cerca de 70 mil euros para António Vitorino, que também está a ser investigado Departamento Especial Contra a Corrupção e a Criminalidade Organizada do Ministério Público (MP) de Espanha neste alegado esquema de corrupção e branqueamento de capitais.
Em causa estão transferências de cerca de 350 mil euros que os Morodo transferiram para contas pessoais de Vitorino e da sua empresa de consultadoria. “Parece necessário investigar se os serviços de consultadoria prestados pela Emab Consultores Lda. e António Manuel Carvalho Ferreira Vitorino que deram lugar a estas transferências são reais e se existe documentação que provem os mesmos serviços”, lê-se no relatório da Unidade de Apoio da Autoridade Tributária Espanhola a que o Observador teve acesso.
O relatório sugere que Raul e Alejo Morodo terão sido protagonistas de um esquema de branqueamento de capitais de mais de 4,4 milhões de euros que tiveram origem em contas da Petróleos da Venezuela e que resultaram na compra de diversos imóveis em Madrid. O nome de António Vitorino e da sua empresa de consultadoria terão sido duas das entidades que receberam fundos dos Morodo.
Além de Ana Catarina Loureiro, também Manuel Dias Loureiro está a ser investigado no âmbito do caso “Juzgado Central de Instrucción”. O fisco espanhol ficou de olho nos negócios da família depois de Catarina e Alejo terem comprado um apartamento de luxo em Madrid à DL-Gestão e Consultoria SA, que tem como administrador o ex-ministro do PSD e como administradora suplente a filha dele.
Segundo a Sábado, o apartamento foi adquirido por 350 mil euros, apesar de, logo no ano seguinte, já estar avaliado em mais de 1,3 milhões. Além da divisão do apartamento — 22% ficou com Alejo, 78% para Catarina e acabou arrendada por uma diplomata brasileira — o fisco começou a investigar o circuito de dinheiro dentro da família porque, segundo a Sábado, nem a DL não apresentou declaração fiscal sobre o imposto de renda, nem Alejo e Catarina apresentaram declaração fiscal de retenção na compra de imóveis. Mais: a aquisição do apartamento acontece dias depois de Dias Loureiro ter transferido 150 mil euros para a filha. E o fisco quer saber a origem desse dinheiro.