Morreu o ator e argumentista Tozé Martinho, aos 72 anos. A notícia foi avançada pela Sic Notícias que esclareceu que o ator se sentiu mal e foi “levado para o Hospital de Cascais” onde acabou por morrer. A TVI confirmou posteriormente a informação através de uma fonte da família do ator.
No início de novembro do ano passado o ator tinha sofrido uma aparatosa queda e sido submetido a uma cirurgia ao cólo do fémur.
António José Bastos de Oliveira Martinho, conhecido como Tozé Martinho era filho da também atriz Maria Teresa Ramalho, conhecida por Tareka, e do médico António Martinho e irmão da escritora Ana Maria Magalhães e de Manuel Maria Martinho.
Antes de se dedicar à representação, Tozé Martinho estudou Medicina Veterinária e Economia mas acabou por se licenciar em Direito. Na representação, começou a carreira nas telenovelas da RTP “Vila Faia”, no papel de Inspetor Silveira e a última participação foi na telenovela da TVI “Louco Amor” já em 2012, da qual também foi coautor.
A estreia nos ecrãs dos portugueses foi feita no programa “A Visita da Cornélia”, aos 30 anos, em contracena com a mãe, Tareka. A Visita da Cornélia era um concurso da RTP1, que foi emitido em 1977 era apresentado por Raul Solnado com a companhia da vaca Cornélia. No Youtube é possível encontrar um vídeo onde o ator e a mãe recordam esse momento.
Na lista de telenovelas escritas, entre 1996 e 2012 contam-se ainda “Roseira Brava”, “Vidas de Sal” e “A Grande Aposta” todas na RTP e sete já na TVI: “Todo o Tempo do Mundo”, “Olhos de Água”, “Amanhecer”, “Dei-te Quase Tudo”, “A Outra”, “Sentimentos”.
Numa entrevista ao site ‘a televisão’ o ator e argumentista não poupou críticas às opções atuais nas telenovelas em Portugal e explicou que passou da representação para o guionismo depois de ter começado a fazer algumas sugestões ao autor da novela “Origens”. Tozé Martinho assume que começou a escrever novelas também para fazer frente às telenovelas brasileiras que conquistavam mais audiências e tinham entrado na televisão portuguesa através dos canais privados.
Além da carreira na representação e escrita televisiva, Tozé Martinho é também autor dos livros “Coisas do Dinheiro” e “Dá-me Apenas Um Beijo”.
Em 2016, depois da morte de Nicolau Breyner, Tozé Martinho emocionou-se em direto num programa da TVI enquanto falava do colega e amigo.
Na política, Tozé Martinho era militante do PSD pelo qual concorreu, em 2009, à Assembleia Municipal de Benavente, no distrito de Santarém. Tozé Martinho era natural de Salvaterra de Magos.
O eurodeputado do PSD Paulo Rangel já reagiu através do Twitter à morte do ator e argumentista afirmando que “a televisão fica mais pobre”.
Gostava imenso de Tozé Martinho. Cruzei-me com ele uma poucas vezes. Um grande actor, um grande amante de tudo o que diz respeito às artes cénicas. Um forte abraço à família e a todos os colegas. A televisão fica mais pobre. https://t.co/1sLfkoYO3s
— Paulo Rangel (@PauloRangel_pt) February 16, 2020
Marcelo Rebelo de Sousa sobre Tozé Martinho: “Tornou-se num dos atores e guionistas portugueses mais ativos”
Numa nota publicada no site da presidência, Marcelo Rebelo de Sousa recordou o início da carreira do ator e argumentista, ao lado da mãe Tareka e as décadas que se seguiram. “Tornou-se num dos atores e guionistas portugueses mais ativos, em novelas da RTP e da TVI, além de séries, telefilmes e algum cinema”, escreveu o Presidente da República.
“Durante todos esses anos esteve presente no nosso imaginário pelos recorrentes papéis de personagens empáticas, decentes, confiáveis”, acrescentou antes de terminar a nota apresentando “os sentidos pêsames à família”.
Ministra da Cultura recorda “vivência profissional e cordialidade”
Em comunicado, assinado por Graça Fonseca, o ministério da Cultura lembra o início do percurso de Tozé Martinho e endereça “sentidas condolências à família e amigos” do ator e argumentista.
“A sua vivência profissional e cordialidade suscitaram um largo apreço e empatia junto de várias gerações do público português e da comunidade de atores e autores nacionais”, pode ler-se.
José Eduardo Moniz: “Há figuras que a historia deve preservar e que deve saber enaltecer”
Há figuras que a historia deve preservar e que deve saber enaltecer e, obviamente, no panorama da televisão ele é uma dessas figuras”, disse à Rádio Observador o ex-diretor-geral da TVI
José Eduardo Moniz afirmou estar “chocado” com a notícia da morte de Tozé Martinho, mas diz que guardará “muito boas recordações de manhãs e tardes de trabalho” com o ator e argumentista que, nota, “marcou uma época da televisão em Portugal”.
“Era um homem cheio de projetos, muitos deles não viram a luz do dia, mas é a vida e a televisão é isso mesmo, sobretudo quando vivemos num clima que é cada vez mais concorrencial, mas a verdade é que ele marcou uma era e essa homenagem tem que lhe ser prestada com as devidas honras”, disse acrescentando que irá guardar o “exemplo de tenacidade, vontade de estar sempre a criar e a fazer melhor que o projeto anterior”.
O ex-diretor da estação onde Tozé Martinho passou grande parte da sua carreira desafiou ainda “quem hoje em dia tem a responsabilidade de gerir as estações de televisão” a prestar a “devida homenagem” ao ator.
Também a Adelaide Ferreira, que contracenou com Tozé Martinho se mostrou “chocada” com a notícia. “Gostei muito de trabalhar com ele, era um ser humano excelente. Quando nos são próximos e pessoas queridas choca mais”, afirmou a atriz e cantora à Rádio Observador.
Também o diretor de programas, Nuno Santos, já reagiu, em nome da TVI, à morte do ator no Instagram. “A história de uma novela conta-se numa caixa de fósforos”, escreveu num texto de homenagem “a uma das maiores figuras da sua cultura popular”. “Actor, além de autor, tornou-se uma figura familiar que deixa saudades a todos com quem se cruzou durante décadas. Pioneiro da indústria das novelas portuguesas, a sua longa carreira inspirou os guionistas nacionais abrindo portas para uma actividade que hoje mobiliza centenas de pessoas”, escreveu.
https://www.instagram.com/p/B8o9V3dHJfC/
Júlio Isidro “é sempre uma pena perder mais alguém da minha geração”
Numa curta declaração à Rádio Observador, Júlio Isidro recordou o facto de Tozé Martinho ter terminado o curso de direito e ser advogado.
Júlio Isidro sobre Tozé Martinho: “Morreu um autor e actor talentoso””
“Morreu não só um ator talentoso, um autor talentoso, também advogado, e é sempre uma pena perder mais alguém da minha geração”, afirmou.
Também Simone de Oliveira recordou um “amigo correto e boa pessoa” que “deixa uma saudade muito grande”.
Já Vitor Espadinha lembrou a estreia de Tozé Martinho no teatro. “Estreou-se em teatro comigo, nos anos 80, numa comédia no teatro ABC, na comédia “Helena a terrível” e mais tarde contracenámos em novelas”, disse.