– Então, senhor Elton, doente outra vez? Isso está complicado… Olhe, por mim o senhor está dispensado, agora só depende dos senhores guardas prisionais, quando o podem levar. Pode ser?
No segundo bloco do Tribunal de Monsanto, Elton Camará, um dos dois arguidos do caso de Alcochete, acenava com a cabeça. Arrancava assim a 32.ª sessão do julgamento do caso de Alcochete, com a audição de quatro dos arguidos que estiveram na Academia – e cada um com o seu papel (ou não papel) no que se passou. Do assumir de agressões com o cinto ao reforço da condição de inocente, houve um pouco de tudo com lágrimas à mistura. Este foi um dia diferente. E percebeu-se que assim seria na audição de Tiago Silva, mais conhecido por Bocas, visto pela acusação como uma espécie de operacional que organizou via WhatsApp o dia 15 de maio de 2018.
– Senhor Tiago, só responde às perguntas que quiser, sem qualquer prejuízo pode não dizer nada.
– Sim, sim. Então por ordem cronológica, 7 de abril [de 2018]…
– Desculpe, deixe-me só perguntar uma coisa antes: é sócio do Sporting?
– Sim, sou sócio penso que desde 2004…
– E da Juventude Leonina?
– Da Juventude Leonina talvez há dez ou 11 anos.
– E faz parte da Direção?
– Não, tratava da parte da bilhética mas não faço parte da estrutura. Tenho um telefone, uma central de reservas, por causa dos bilhetes para todos os jogos.
– Que já não devia ser pouco… Vamos então começar, conte-nos o que ia dizer. 7 de abril, aquela tal reunião que houve na Casinha da Juventude Leonina…
“Estava lá nessa reunião, era uma reunião dos núcleos da Juventude Leonina. A minha única função era bilhética, não tinha ligação aos núcleos. Era normal existirem estas reuniões, sobretudo com os núcleos da zona da Grande Lisboa, onde se debatiam assuntos da claque e do Sporting”, começou por referir.
– Houve alguma coisa excecional nessa reunião?
– Sim, tinha acabado de chegar o presidente da altura, Bruno de Carvalho.
– Mas era normal ele ir às reuniões?
– Não, por isso é que fiquei surpreso. Era depois do jantar, 21h30 ou 22 horas…
“Fiquei no início da reunião. A minha mulher trabalha no Alvaláxia, ia buscar a minha filha depois a casa da minha mãe e por isso fiquei no inicio da reunião. Deviam estar umas 50 pessoas, penso que estava também, além do então presidente, o André Geraldes e o Bruno Jacinto. Vasco Santos? Diretor de segurança? Não tenho memória… Havia uma opinião dúbia ali, uns estavam contra os posts do Facebook de Madrid. Achava que podia ou não ter razão naquilo, mas não era preciso ser na opinião pública, devia resolver-se dentro de casa. A grande maioria tinha essa opinião. Independentemente de ter ou não razão, não se resolvia assim, de pôr cá para fora. É o seguinte: no início as pessoas estavam contra os posts de Madrid e tentaram transmitir isso ao presidente. Depois fui-me embora, por volta das 22h, 22h30 mais ou menos. O Bruno começou a falar, a tentar justificar mas também não me recordo de qual era a justificação possível para tais factos… Também poderia existir alguma contestação ao fraco desempenho dos jogadores, mas faz parte… Uns eram contra os jogadores, outros contra o presidente. Existiam esses dois tipos de opiniões. Só estive na parte inicial dedicada a esses posts“, começou por referir.
“Quem marcou? Deve ter sido o Daniel Samico ou a Direção da Juve Leo. O Samico também tinha essa ligação com os núcleos. Penso que só soube no próprio dia da reunião. O que aconteceu depois? Depois sei que continuaram a falar contra o presidente porque a justificação não convenceu os adeptos mas isso foi opinião com amigos, não foi ninguém da Juve Leo que me disse”, acrescentou, antes de recordar que depois desse jogo frente ao Atl. Madrid a equipa começou a ganhar e fez uma série de vitórias seguidas. A seguir, houve a deslocação à Madeira.
“Fui ver esse jogo ao estádio. Estava com o Fernando Mendes. Penso que o Nuno Mendes [Mustafá, líder da Juve Leo] não foi assistir ao jogo. Alguns jogadores foram agradecer o apoio dos adeptos no final, outros jogadores insultaram os adeptos. O Acuña começou a chamar filho da p***. Gerou-se ali uma grande revolta. Apesar de ganharem ou perderem foi uma falta de respeito para quem gasta dinheiro para seguir o Sporting. Foi a frustração de uma época perdida, neste caso. Houve alguns assobios, algumas vaias [da bancada]. Quando se ganha, bate-se palmas; quando se perde, assobia-se. Houve também alguns cânticos…”, contou.
– Não muito afáveis, imagino
– Sim, exato…
“Fui deixar uma faixa ao hotel que dizia Juventude Leonina e fui para o aeroporto. Aquelas faixas atrás da baliza, fui guardar ao hotel. Ia para Lisboa na segunda-feira só, não sei se antes ou depois de almoço. Sim, era no período da manhã. Fui ao aeroporto com o Fernando Mendes. Ia com o objetivo neste caso de falar com os jogadores para tentar perceber o porquê de terem essa atitude com os adeptos. Cheguei lá ao aeroporto, deparo-me a falar com o Battaglia. Fui falar com o Acuña e o Battaglia interceta-me e começa a falar comigo. Mais uma vez, fui insultado pelo Battaglia e estava lá a PSP. Disse que não éramos ninguém, chamou-nos filhos da p***, a perguntar o que é que queríamos. Um agente dos spotters até disse ‘Ouvi o que ele disse mas não podes fazer nada’. Veio defender o outro jogador e diz essas palavras, estavam lá spotters. O Jorge Jesus diz depois para sairmos dali porque estavam ali as câmaras e que era mau para o Sporting”, salientou.
“Fui com o Rui Patrício, o William e o Jorge Jesus para trás de uma loja de conveniência, falar. Disseram que não se resolviam as coisas ali, que com câmaras era mau e depois fomos embora. O Fernando [Mendes] acompanhou-me depois, quando estávamos a falar na loja de conveniência. Nas imagens é que me apercebi depois de que o Fernando falou com o Nélson também . Não me recordo depois do que disse o Fernando, lembro-me de que os jogadores disseram que as coisas não se resolviam ali, que estava tudo de cabeça quente. Vendo bem, vendo agora, percebo agora que não estive bem porque estava de cabeça quente, havia muita frustração do final da época e hoje percebo que não foi a melhor coisa. Depois também foi um bocado a poncha a falar, é um bocado mais forte, às vezes pode haver um pouco mais de excessos”, acrescentou antes de se emocionar pela primeira vez.
Estava devastado com toda aquela situação, mais um ano sem conseguir nada… Foi o que senti. O primeiro jogo que assisti em Alvalade vi logo o ADN do Sporting, quando perdeu com o Benfica por 1-0 com o golo do Sabry… Mas reconheço que não foi justo. Se calhar com o calor, com o excesso, de uma maneira não correta… Achava-me no direito de contestar. Dei tudo, 30 jogos em Portugal, mais o estrangeiro…”, comentou, chegando a chorar no início desta explicação.
“Depois vim de manhã, no dia a seguir, para Lisboa. Percebi que havia essa insatisfação entre mais adeptos e como muita gente estava insatisfeita com os jogadores decidiu-se ir à Academia. A conversa que tive na conversa [do Whatsapp] foi ir ao aeroporto mas o da Madeira. Houve um grande zunzun, mas o que disse foi sobre o aeroporto da Madeira”, esclareceu depois, antes de explicar o porquê da criação de um grupo específico.
“Vim dia 14 [de maio]. Na Madeira já se ouvia que se queria ir à Academia. Foi por isso que disse para se criar o grupo para ir à Academia. No grupo dos “Piranhas” eu não estava, não conheço. Porquê? Era uma maneira mais fácil de comunicar, foi por isso. O objetivo era ir dar um ‘aperto’ aos jogadores, pedir justificações e ‘apertar’ os jogadores para perceber o porquê de se ter falhado os objetivos. Depois desse ‘aperto’, era incentivar para a Taça de Portugal. Com pressão, com palavras. Se forem mais pessoas [os jogadores] olham de outra forma, se for um ou dois os jogadores viram as costas. Queríamos perceber o desempenho, saber se havia algum problema. Era para falar com os capitães, neste caso os representantes da equipa. Não era para bater, era para falar quanto mais num tom mais agressivo, para pedirem para jogar à bola por amor à camisola, para não ser só jogador pelo dinheiro. Passava um pouco por aí. Não era para bater em ninguém porque não faz qualquer sentido esse comportamento. Na altura só via Sporting, só vivia para o Sporting e achei que estava no direito de pedir justificações, de tentar perceber o que se passava porque só conseguia ver aquilo à minha frente”, referiu.
“Nessa semana tinha falado com o Bruno Jacinto e já havia uma grande confusão porque não havia bilhetes para a Taça de Portugal. Ele disse que os jogadores deviam ser apertados e disse qualquer coisa se já estava a ver as notícias. Mas não fui à Academia porque o Bruno disse isso, queria só referir isso. As notícias? Já se estava a falar de que o Jorge Jesus podia ser despedido”, recordou, antes de falar também numa outra conversa intercetada com o antigo Oficial de Ligação aos Adeptos (OLA). “Na altura não existia confirmação de que íamos mesmo à Academia e disse para não comentar nada porque não sabíamos que íamos. Às vezes é o diz que disse, chega à altura e depois não vão. Só depois de almoço é que soube. Liguei e disse-lhe que tinha a certeza, que íamos para a Academia. Disse-lhe isso no Multidesportivo. Por ser o OLA, informei que íamos à Academia. Neste caso era uma visita não formal, não é só para as claques, para todos os sócios. Só fui informar que um grupo de adeptos, uns da Juve Leo, outros só sócios do Sporting, iam à Academia porque fazia ligação aos sócios”, adiantou.
“Essa conversa foi no dia, a seguir ao almoço. Fui almoçar com a minha mulher, na zona da casa do Fernando [Mendes]. O Fernando não estava comigo na conversa com o Bruno Jacinto. Depois de almoço apanhei o Fernando, deixei a minha mulher no trabalho e fui ao Multidesportivo. Depois recebi umas mensagens para apanhar uma pessoa na Expo, já ia na 2.ª Circular. Quem? O Bruno Monteiro. O Lidl Montijo era o ponto de encontro. Estavam lá mais carros, dez ou 12 e fomos todos juntos para a Academia. Estacionámos no parque, uns carros ficaram para trás. Tinha ouvido um zunzum e disse para não baterem nos jornalistas. Tinha muitas chamadas, mais de 3.000 mensagens por causa dos bilhetes para a Taça. Parei na Estrada Nacional, disse para não baterem nos jornalistas. O nosso não foi o último carro que parou. Penso que o último foco que tinha visto na conversa era jornalistas, foi por isso que disse. Chegamos então ao parque de terra batida”, foi revelando.
– Quando saio do carro, há uma pessoa que me agarra, o Getúlio, que me pergunta ‘Bocas, isto vai dar problemas?’. Porquê a mim? Não sei. Vi depois um grupo inicial do lado direito que já ia lançado…
– Mas era o guardião da operação para lhe perguntar?
– Perguntou porque devia pensar que tinha algum papel de destaque e sendo a única pessoa que conhecia ali…
“Fui atrás desse grupo para dissuadir e para tentar perceber porque é que estava tudo a correr assim, porque entraram assim. A minha ideia era parar o treino. A minha surpresa foi porque não estava à espera de uma entrada assim, devia ser ordeira. Fui a correr atrás para tentar perceber o que se passava, para dissuadir ali porque na minha cabeça fui lá para parar o treino e confrontar jogadores. Tentei dissuadir de entrar daquela forma porque sabia que entrando ali ia ter problemas, entrar sem autorização ia dar problemas, e por isso pus o capuz e os óculos escuros. A primeira vez que me desloquei à Academia? Foi já em 2004/05, quando o Sporting perdeu a Taça UEFA e o Campeonato… Vi também o Fernando Mendes e o Nuno Torres nessa fase”, adiantou.
“Eles ficaram também surpresos e se calhar nem sequer se aperceberam do grupo. Foi tudo não planeado, neste caso foi tudo ao contrário. Achei que deveria correr, um amigo meu se calhar age de uma maneira diferente. Entrei na Academia, fui em direção ao campo de treino, vi que o Jorge Jesus estava no campo mas havia pessoas que já tinham ido para a ala profissional. Na altura fui sempre atrás para dissuadir. Não conhecia todas as pessoas e acabo por entrar também no edifício. Quando viro à esquerda não vi as tochas, só depois nas imagens. Entro na porta de vidro, vejo o Manuel Fernandes. Nunca tinha ido ali. Depois viro à esquerda. Deparo-me com o jogador Bas Dost, que já tinha caído e alguém já o tinha levantado. Continuo no corredor e viro à esquerda e entro no vestiário. Estava uma grande confusão, já tinham sido deflagrados engenhos pirotécnicos, havia fumo. Estava muita gente, muita confusão. Virei à esquerda no balneário, houve ali um grande avolumar de pessoas, contorno e paro no lado direito. Deparo-me aí com o Battaglia e ia tentar perceber… Deixei-me levar…”, foi contando.
“Vejo-o, fico com um misto de sensações e levei aí com a geleira na cabeça. Depois disse ‘Isto já deu m****, vamos embora daqui que isto vai trazer-nos problemas’. Apercebi-me quando entro no balneário e vejo engenhos deflagrados, tudo a falar em voz alta, não sei precisar o que foi dito em concreto. Foi tudo muito rápido. Na minha cabeça achava-me no direito de confrontar o Battaglia mas levei com a geleira na cabeça e percebi que tudo já tinha passado os parâmetros normais. Estava calor, muita gente, levei com aquilo e até fiquei meio abananado. Na minha cabeça, o Bas Dost sendo o melhor goleador, não fazia sentido… Na minha cabeça fazia sentido os argentinos, os capitães era só por serem porta voz da equipa, é um papel delicado…”, acrescentou.
– Porque é que o Fernando Mendes está identificado no seu telemóvel como presidente?
– Porque desde o antigo estádio que ouvia falar dele, o ícone dele é sempre o presidente interino da Juventude Leonina…
– E como combinou as coisas com ele?
– Liguei ou ele ligou-me, na terça-feira. Disse ‘Olha Fernando, vamos à Academia, a malta vem à Academia, vamos à Academia’. Como já tinha dito no aeroporto que ia lá, fomos todos.
– E o Nuno Mendes não tinha conhecimento de nada?
– O Nuno Mendes não tinha conhecimento, não foi uma visita oficial…
– E sendo oficiosa, não ia dar problemas?
– Não era só a Juventude Leonina, queriam também ir outros sócios…
– Era um grupo heterogéneo, já percebi. Havia pessoas casuais?
– Sendo sócios do Sporting e não da Juve Leo, podem ser designados assim…
“Foi falada entre nós [Musta] essa situação. Se ele tivesse ido, nada tinha acontecido porque ele conseguia controlar. Como já tinha ido algumas vezes à Academia sabia o procedimento de chegar, estacionar o carro, ficar na porta. Tendo a função dos bilhetes, achava que era alguém, achei que deveríamos ir, concordei com essa situação e fui. Assumir as despesas? Não assumi as despesas porque não fui eu que disse para ir à Academia. Isto foi feito à revelia do Nuno Mendes… Acima de Juve Leo há sempre o Sporting. Foi nesse contexto que fui, como sócio do Sporting e fui com mais pessoas que compartilhavam do mesmo sentimento. Ia para chegar lá, parar o treino. Disse para levarem tochas que era para acender no final para apoiar. Sei que as tochas são ilegais mas também sei que eles sentem isso. Como pensava que conseguia falar com os dois, escrevi isso do Nuno Mendes no WhatsApp. Acho que tinha o telefone estava desligado, nem consegui falar com ele. Não lhe ia dizer nada. Como tinha o contacto dos dois e fazia a ponte, ia contactar para informar”, referiu, em resposta a nova mensagem no processo.
– E não falou com a mulher do Nuno Mendes? Ouvi dizer que é uma boa fonte de contacto…
– Não me recordo…. O Nuno Mendes é uma pessoa pacífica que tenta evitar conflitos na bancada e é uma voz ativa porque as pessoas respeitam-no. Percebi isso aqui em Alcochete também…
“Perder assim, morrer na praia… Faz parte e infelizmente no Sporting é o habitual, é o normal… O Sporting já teve épocas bem piores, já vi o Sporting perder 3-0 com o Videoton… Nunca tivemos uma equipa tão boa, com tão bons jogadores nem estivemos tão próximos dos adversários. Já tínhamos ganho a Taça da Liga. Aquela reação… Um jogador sendo profissional… Já fui jogador, fui vaiado, fui cuspido… Andei a gastar tantos euros, a fazer tantos quilómetros, foi essa a minha frustração. A minha filha nasceu e cinco dias depois fui para Moscovo ver o Sporting. O que vejo agora é que existe vida além do Sporting. Percebi o que fiz pelo mal que fiz às vítimas, ao próprio Sporting. Caiu-me a ficha porque ninguém pode achar que tem o direito de pedir justificações, foi preciso cair na real, no mundo. Faz parte do desporto. Há valores mais importantes. Foi preciso estar na prisão para perceber isso, que há vida além daquilo. Senti-me envergonhado, revoltado comigo mesmo quando ouvi os jogadores, ao ativo e à vida humana. Não mereciam esta situação que nunca devia ter existido”, disse, a chorar.
“Se falei com o Nuno Mendes sobre isto? Não falei só com a Cristina [mulher de Nuno Mendes]. E quando estava na cadeia escrevi uma carta a pedir desculpa ao Musta. Senti naquele momento que tinha falhado com ele, era uma pessoa de confiança, que tratava dos bilhetes e senti que traí a confiança dele. Também me sinto culpado por causa do Getúlio. Ele já tinha tido problemas com a Justiça e agora está aqui. Ele se calhar era a pessoa que tinha mais confiança e maior amizade”, revelou. “Quando vi as imagens? Vi na cadeia, na televisão. O primeiro sentimento é que é uma coisa condenável, triste. Fiquei envergonhado, frustrado e revoltado comigo, envergonhado por todo o mal que fiz ao clube que gosto, aos jogadores. O sentimento continua, é sempre o mesmo. É uma situação que deixa qualquer pessoa triste. É sempre uma mágoa pelo mal que causei ao clube que gosto, aos jogadores, às vítimas, à Juventude Leonina, ao próprio desporto”, completou, antes de falar também da família, da mulher e da filha, de dois anos. Quase três horas depois, o depoimento terminou e Tiago Silva foi à casa de banho ainda de lágrimas nos olhos, cumprimentado por alguns dos arguidos. Cá fora, seria também abraçado por outros.
O pedido de socorro de Jesus, a definição de casuals e a página mais negra
Luís Almeida, que tem estado ausente de todas as sessões do julgamento do caso de Alcochete por dispensa da juíza (aplicada a todos os 44 arguidos que justifiquem estar a trabalhar ou a estudar), foi o primeiro a falar da parte da tarde, naquele que foi também o depoimento mais curto da sessão vespertina e com menos detalhes dentro de tudo o que aconteceu antes e durante a invasão da Academia, a 15 de maio. A começar logo por um pormenor diferente de alguns dos outros arguidos: essa foi a primeira vez em que foi ao centro de estágios verde e branco.
“O Guilherme [Sousa] foi-me apanhar ao estádio. Iam também no carro o Tiago Neves e depois foi também o Pavlo [Antonchuk]. Fomos para o Lidl do Montijo, era ali que iam reunir com as pessoas. Conhecia o Guilherme, que era amigo de casa há dez ou 15 anos, com o Tiago Neves tinha uma ligação que vinha do futebol, com o Pavlo nunca tinha falado, não convivia com ele mas sabia quem era”, começou por dizer, antes de falar da chegada à Academia.
“Quando estacionamos o carro, fiquei para trás, foi aí que vi tanta gente a correr. Não conhecia quase ninguém dos que iam ali. Penso que os que iam comigo taparam a cara, não sei se todos, mas foram à minha frente, em passo apressado. Depois o Fernando Mendes passou por mim, de cara destapada. Passou por mim e até perguntou ‘O que é que se passa aqui?’. Fui atrás deles até à Academia. Se ia falando com eles? Não, eram pessoas com quem nunca tive ligação, deixei-me ir atrás deles. Depois tapei a cara quando passei pelos jornalistas. Aí não levava a gola e quando saí já levava o capuz até. A gola deve ter caído porque não a tinha quando falei com Jesus”, disse.
– Mas se iam ver um treino da bola, qual é o problema?
– Não sabia se havia jornalistas lá dentro…
– Quando sai à rua também tapa a cara?
– Não, mas não queria ser reconhecido pela minha família, pelos meus clientes…
“Vi o Jorge Jesus e vi mais pessoas a correr, o Jorge Jesus a pedir auxílio porque tinha sido agredido. Disse: ‘Fernando, ajuda-me que já me bateram’ e o Fernando Mendes respondeu ‘Mas nós não viemos cá para bater’. Depois voltámos todos ao mesmo tempo para o nosso carro. Até estava aflito no meio daquilo. Fosse quem fosse, o Jorge Jesus ou outro, com uma pessoa do Sporting ser agredida era normal que me quisesse pôr longe daquilo. Só me lembro de ver o Jorge Jesus, entre jogadores e equipa técnica”, antes de uma primeira explicação sobre o que são casuals. “Para mim são pessoas que apoiam a equipa mas sem adereços. Porquê? É uma opção”.
Sei que estive presente na página mais negra da história do Sporting. Sinto-me envergonhado e arrependido. Mesmo não sendo minha intenção bater e mesmo não tendo batido, sinto-me envergonhado. O meu objetivo sempre foi apoiar o Sporting e não deitar abaixo”, confessou.
“Nem que me levassem lá agora eu conseguiria lembrar-me do percurso que fiz, muito sinceramente”, acrescentou, antes de Sílvia Pires o questionar sobre as motivações para uma ida à Academia. “Ia dar a tática ao Jorge Jesus? Não. O que despoletou esta ação? Talvez a vontade de que o clube seguisse o seu rumo certo”, atirou, antes de explicar que não era da Juventude Leonina e até costumava ver a maioria dos jogos na central “porque uma amiga arranjava bilhete”. Depois, a juíza Fátima Almeida voltou à questão dos casuals.
– Não percebo isso, os casuals parece um monstro de Loch Ness, toda a gente sabe quem é mas ninguém reconhece bem o que são nem quem são… São adeptos que vão à bola sem adereços…
– Então e os outros adeptos que não levam adereços são o quê? Qual é a diferença?
– Os adeptos são aqueles que veem os jogos em casa, os casuals são aqueles que vão a todos os jogos…
– Mas já nos disseram aqui que vão para arranjar problemas…
– Das pessoas que conheço nunca tive qualquer problema com outras pessoas ou adeptos…
“Estou sentado nesta cadeira porque estive presente na Academia na página mais negra da história do Sporting. Quero pedir desculpa pela dor e sofrimento causados aos jogadores e às suas famílias”, concluiu, antes de dizer que esteve 15 meses sem contacto com o amigo Guilherme, mas que a invasão da Academia é ainda um tema recorrente em casa com os pais, que estão sempre a falar, e a namorada, que também não esqueceu o assunto.
O convite para “bater”, o cinto em Dost e o sorriso do ex-colega Leão
“Em primeiro lugar queria pedir desculpa aos jogadores, às famílias dos jogadores e à instituição Sporting”. Foi assim que Rúben Marques, o terceiro arguido do dia, começou a sua intervenção. Poucos minutos antes, quando Luís Almeida falava, já se tinha deslocado à casa de banho corado, quase que antevendo o que se iria passar. Assim como ficara na parte da manhã, quando falou durante alguns minutos com a sua advogada no cubículo existente no segundo bloco para essas conversas, que terminou com uma atitude quase maternal de um abraço e uma festa na cabeça. Também antes de entrar para a sessão vespertina tinha havido uma curta conversa entre ambos. A tensão no arguido era por demais evidente, ficando apenas por se saber o que iria ou não dizer perante o coletivo de juízas. E não foi preciso mais do que um par de minutos para se perceber o que estava em causa.
“Sim, estive na Madeira a ver o jogo mas não vi nada com jogadores e adeptos no estádio porque saí um bocado mais cedo para não ficar lá depois fechado aqueles minutos. Percebi depois o que se passou no aeroporto porque mandaram um vídeo para o telefone de uma pessoa que estava comigo. Na segunda-feira voltei e perguntaram-me se queria ir à Academia. Disse que sim. Para quê? Disseram-me que era para bater nos jogadores”, atirou, no primeiro momento em que se notou um outro ambiente na (enorme) sala do Tribunal de Monsanto, do bloco da frente onde estão juízes e advogados ao terceiro e último onde se concentram jornalistas e público. “Depois quando o carro estacionou, pus uma balaclava que me deram e comecei a correr”, acrescentou.
“Pensávamos que os jogadores já lá estavam no campo mas afinal chegámos e só estava o Jorge Jesus, não havia jogadores nenhuns. Depois virei, cheguei a uma porta de vidro, estava fechada, volto para trás e foi nessa altura que dei com o cinto no capô de um carro, naquele porque era o que estava ali… Depois começaram a entrar no edifício, fui também naquela na direção com o cinto na mão. Entro, viro à esquerda, seguimos até à zona do balneário e aí encontrei o Bas Dost e dei-lhe uma pancada com o cinto. Como é que posso explicar, foi um bate e foge. Lá dentro olho à minha volta e deparo-me com o Rafael Leão, que começou a sorrir. Parece que me reconheceu logo apesar de ter a cara tapada, foram muitos anos na escola e lançou logo um sorriso. Encostei-me logo ali à porta, estava à espera de uma brecha para sair. Se bati no Misic com o cinto? Não, isso é mentira. Depois vi imagens no Natal que nem me lembrava, quando entro a rodar o cinto… Há partes de que não me lembro. Mas não bati em mais ninguém. Depois saí e fui com o mesmo grupo embora”, assumiu.
“Não tenho perceção se entraram mais com o cinto lá para dentro ou não, só posso garantir o que vi, o que sei e venho aqui dizer a verdade. Não sei se lá dentro havia mais alguém com cinto. Se o Jorge Jesus vinha a correr atrás de mim? Não, eu ia só a fugir dali. Não percebo também o porquê de ele vir atrás de mim a correr, depois vi isso nas imagens. Nem me lembro de me cruzar com ele, só o vi no campo de treinos quando chegámos e mais nada. O carro em que fui depois intercetado não foi o mesmo em que tinha ido para lá”, frisou, antes de haver uma curta paragem para que se pudessem ver as imagens das câmaras do circuito de vídeovigilância.
– É este aqui, que nas imagens tem a cara tapada?
– Eu conheço-me bem, sim…
– E o que pensa de tudo isto agora?
– Sinto vergonha de tudo o que a gente fez, ao Sporting e às nossas famílias…
– Mas se eu lhe disser amanhã para ir ali bater, é assim? Quem é que o convidou? Qual foi a motivação?
– Nunca pensei que ia atingir estas proporções… Nunca devia ter aceite esse convite mas abri muito os olhos nestes últimos dois anos…
– Mas porque é que aceitou?
– Foi naquela, ‘Queres ir? Bora’…
– E o que é que o motivou?
– Foi sem pensar, foi em cima do joelho, só deu tempo de dormir…
– Ainda mais me ajuda…
– Aprendi muito sobre os assuntos…
– Também era doente do Sporting, também tinha o vício do Sporting?
– Não, foi uma parvoíce…
– O que mudou então? É que estar preso com 21 anos imagino que…
– Não era o que queria, pela minha família, pela minha mãe…
– Que devia ter vergonha que estivesse preso…
– E os meus irmãos…
– E agora o senhor, depois de um ano preso mas em casa?
– Nem foi tanto uma questão de cair a ficha… Não tinha noção da gravidade, uma fivela no braço não abre o braço mas uma fivela na cabeça abre a cabeça…
– Já chegou a essa conclusão sozinho…
– Foi mais a vergonha que senti pela minha família e o que sofri…
– Sabe, os nossos atos têm uma consequência… Mas confesso que não consigo perceber… E já ando aqui há uns aninhos, mesmo percebendo os efeitos de grupo… As pessoas têm cérebro, têm consciência, isto foi para gáudio de quem, deu satisfação em quê?
– Não deu satisfação a ninguém.
– Eu agora digo ‘vamos ali partir umas perninhas’ e o senhor vai…
– Não, nunca na vida! Mas percebo a sua lógica… Peço desculpa porque percebo agora o que os jogadores e também as suas famílias sofreram…
Depois do longo diálogo direto com Sílvia Pires, Rúben Marques respondeu também à juíza Fátima Almeida e à procuradora Fernanda Matias. “Lembro-me de ver muito fumo mas só vi tochas a serem deflagradas lá fora. O porquê? A ausência de resultados… O Bas Dost não me disse nada, bati e passei. Mas não teve nada a ver com ele, foi porque foi o primeiro que vi. Se fosse o Petrovic, era o Petrovic. Não ia lá para me vingar de ninguém, ia só pedir justificações”, disse, antes de mais um diálogo com Sílvia Pires, também com algumas perguntas colocadas pela advogada de defesa mais no final, naquela que seria a parte final do depoimento.
– Ia de mãos a abanar. Quando tive a perceção de que havia pessoas a tirar cintos, também tirei o meu…
– Quando é que se apercebeu do que causara a Bas Dost e o que sentiu?
– Só mais tarde é que percebi, na televisão da GNR de Alcochete. Não era nada disso que queria causar…
– Queria bater mas era poucochinho?
– Não era para lesionar ninguém…
– Não queria partir pernas, era só um susto. Umas chapadas e umas galhetas, como disse…
– Sim, seria assim…
– A ideia era bater e não impossibilitar de jogar?
– Certo.
– Quando viu a cabeça do Bas Dost percebeu que tinha exagerado…
– Sim, aí comecei a arrepender-me e não vejo explicação para tal coisa.
– O que pensou na prisão preventiva e quais são as suas perspetivas?
– Concluir o 12.º ano, que era o meu principal objetivo já antes. Já estou a trabalhar, sou ajudante de pintor.
– E quais são os planos para o futuro? Vão cumprir a vossa pena mas têm muitos anos…
– Voltar à liberdade principalmente. Tirar a carta, arranjar um trabalho melhor porque só arranjei este agora, dar um futuro melhor à minha família…
– Mas sabe que a liberdade temos de exercer com grande responsabilidade, a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros…
– Sim, eu sei.
– E a sua família?
– Apoiam-me, não só monetariamente mas também falando comigo.
– Quer dizer mais alguma coisa?
– Quero pedir uma oportunidade a este tribunal porque não sou aquela pessoa, já não sou aquela pessoa…
Foi para apoiar. Agora, só quer saber quando lhe dizem que não fez nada
Getúlio Fernandes foi o quarto e último arguido a ser ouvido na 32.ª sessão do julgamento do caso de Alcochete. Com uma projeção de voz que quase dispensava microfone e num discurso muito direto e a falar em alguns dos nomes que estiveram envolvidos na sua ida à Academia, o membro do núcleo da Juventude Leonina de Vialonga, que já foi sócio do Sporting através do pai “em mil novecentos e noventa e qualquer coisa” mas que deixou de ser “porque a vida levou a isso”, garantiu a sua total inocência no caso e falou por mais do que uma vez na frase “Olha os miúdos, cuidado com os miúdos e o que vão fazer” ao longo da explicação do que se passou nesse dia.
“O Badolas [Hugo Ribeiro] mandou-me uma mensagem no Facebook. Na altura não podia responder. Depois ele ligou-me. Perguntou se queria ir à Academia, eu respondi que não tinha carro. Sou do núcleo de Vialonga, vivia ali no Infantado mas disse que se me apanhassem podia ir. Não me disse mais nada. Várias vezes em que a Juventude Leonina marca coisas, quando tenho disponibilidade, vou sempre apoiar. Quando não posso, não vou. Foi isso que lhe disse, que se me arranjasse boleia eu ia. Desliguei e depois fui dar treino”, começou por dizer.
“Nesse dia 15, a minha mulher saiu de casa para ir trabalhar e até me disse para não me esquecer de que o meu sogro fazia anos nesse dia. De repente liga-me o Quim [Joaquim Costa] a dizer ‘Desce’. Se conheço o Quim? Desde sempre, é da minha zona. Desci, não estava onde achava, enquanto foi fazer a rotunda até liguei ao meu sogro a dar os parabéns, e aparece numa carrinha. Nem sabia que era a carrinha da Juve Leo. Depois disse que ainda íamos ao Montijo primeiro, que tinha de ser. Do que falámos? Nem sei se estava farto da mulher dele, nem percebi o que se passava na cabeça. Quantas vezes não fui bater palmas ou gritar a dizer que não jogam nada? Parámos no Montijo e dou por mim a entrarem na carrinha. Entrou o Fernando, tenho quase a certeza que o Bocas [Tiago Silva] também, os outros nem quero falar deles porque cada um gosta do Sporting à sua maneira. O que percebi? Que ia uma pessoa a mais. Quando saímos demos de caras com a polícia e não fizeram nada…”.
– Se calhar era bom terem sido autuados, atirou Sílvia Pires
– Eh pá mas não era eu! Não estava a conduzir, só estava à boleia, não sou dono do carro…
“Mas tente perceber o meu raciocínio, estivemos uns minutos em caravana”, continuou. “Nas conversas diziam que se tinha de parar esses putos. Quando paramos no descampado, os tais putos estão a correr. Nenhum desses ia no nosso carro. Eh pá, lembro-me de que o Bocas mandou esperar mas nada, eles começaram a correr. O Bocas disse para eles estarem parados. Perguntei ao Bocas ‘Então isto não vai dar m****? É que já tive problemas com a Justiça, não quero mais’. Ele disse que não. Depois perguntei pelo Musta [líder da Juventude Leonina] e disse que não ia sem ele. Depois vem o Fernando Mendes e lá me convenceram. Começo a andar, lembro-me de estar a brincar e dizer que os putos para trás eram os gordos. E começo a ver os jornalistas…”, salientou.
“O que iam lá fazer? Não sei, eu fui lá só apoiar o Sporting! Sem o Musta, a quem podia pedir responsabilidades? Era ao Fernando [Mendes]! Ele disse-me que não havia problemas, o Bocas senti que não estava normal e foi a correr atrás dos outros. Fui tudo muito rápido… Nunca tinha visto nada disto. Desde o secundário que vou para a Juve Leo, respeito o núcleo Musta porque se não fosse ele não ia. Se conseguir ir à bola a dez euros em vez de pagar 30… Ou então não ia. Casuais? Essa história do casual ou não casual, não sei nada disso. O Fernando disse-me que não havia problemas e eu fui, mas não me estava a cheirar bem e não ia ficar ali sozinho…”, referiu.
– Foi melhor ir atrás dos encapuzados e ser preso, comentou Sílvia Pires.
– Tem uma graça, não tem?, atirou Getúlio de pronto. ‘Não fiz nada, perdi a minha casa, perdi muita coisa, comi e calei, perdi muito por não julgar ninguém..’.
– Então entrou tapado porquê?
– Tapei a cara por causa dos jornalistas, para as minhas alunas não me verem…
– Mas qual é a vergonha de ir à Academia?
– Então mas o que é que eu fiz para ser preso? Não queria ser filmado, aqui também me tapo antes de entrar porque não quero ser filmado, é igual…
“Doutora, vou ser sincero: só não quis que me identificassem a mim. Aquilo é enorme! Entrei, estava calor, tirei o casaco e pus à cintura, continuavam as conversas do ‘o que é que os putos vão fazer’. Depois ouvi a sirene [alarme de incêndio] e na direção que vim foi na direção que voltei. Não vi jogadores, não vi treinador, ninguém do Sporting. Quando me apercebi da sirene voltei para trás. Pensei assim: quem é que me vai justificar ter estado ali? Os jornalistas! Então fui para ao pé deles. Como cheguei a casa? Fui de Uber. Fiquei ali à espera mas afinal já tinham ido todos embora. E doutora, não vi ninguém. Não vi nenhum deles a sair. O mais engraçado é que saí e o jornalista não disse nada, depois queria falar e eu disse que não queria, depois mostrou-se uma foto do Bas Dost com o penso na cabeça e até achei que estava na tanga…”, prosseguiu.
“Quando ouvi o alarme não sabia o que tinha acontecido, nunca aconteceu algo assim. Estava a pensar que ia sair de casa para ir preso? Quantas vezes já me chamaram para ir apoiar? Fui sempre, dentro da minha disponibilidade. Havia o jogo da Taça de Portugal, era importante estar ali também porque se pedisse dois ou três bilhetes não me viravam depois a cara. Quando senti que estava a tocar o alarme, disse que não ia. Não vi o Jorge Jesus. Houve um que nos encaminhou para um lado. Se vi algum campo? Sim, mas acho que era dos putos. Estávamos a caminhar e a sensação era de que íamos em frente e ele disse que não, que ‘eles foram ali’. Com a sirene, fui”, completou, antes de responder a algumas perguntas da advogada de defesa, Sandra Martins.
– Como ficou e como está a sua vida pessoal?
– Há uma semana que trabalho na empresa de segurança no trabalho e ajudo o meu irmão. A empresa agora tem mais trabalho e consigo ajudar mais, mas a minha formação é desporto.
– O que quer dizer mais?, perguntou a juíza.
– Quero saber quando é que isto acaba. Um ano e tal preso e ainda não conseguiram perceber que não fiz nada?
– Olhe, a minha colega está aqui a sussurrar uma pergunta…
– Pode fazer a pergunta.
– Eu sei, eu sei as regras do jogo… Quem são as pessoas?
– Não sei, mas nunca iria bater em jogadores do Sporting…
– Em jogadores, vá…
– Eh pá, para mim são jogadores do Sporting, nunca na vida faria isso!