O júri em Manhattan chegou a um veredicto esta segunda-feira, dia 24 de fevereiro, depois de quase um mês de julgamento. Harvey Weinstein foi considerado culpado de ato sexual criminoso em primeiro grau e de violação em terceiro grau (o que remete para a falta de consentimento explícito), tal como avança o The New York Times. O júri absolveu Weinstein das duas principais acusações contra ele, ou seja, agressão sexual predatória.
A pena por ato sexual criminoso em primeiro grau é entre cinco e 25 anos de prisão. O crime de violação em terceiro grau remete para uma pena até quatros anos. Weinstein vai ser de imediato enviado para a prisão, onde aguardará sentença — de acordo com a IndyWire, esta é conhecida a 11 de março. Das cinco acusações de crimes sexuais que recaíam sobre ele, foi considerado culpado de dois crimes.
BREAKING: #HarveyWeinstein found guilty on 2 of 5 counts.
1-Predatory Sexual Assault: NOT GUILTY
2-Criminal Sexual Assault: GUILTY
3-Predatory Sexual Assault: NOT GUILTY
4-Rape, 1st degree: NOT GUILTY
5-Rape, 3rd degree: GUILTY https://t.co/It8TtwXveZ
— Rebecca Jarvis (still me) (@RebeccaJarvis) February 24, 2020
Weinstein foi considerado culpado de violação no caso de Jessica Mann, cabeleireira e aspirante a atriz cuja identidade só foi divulgada no primeiro dia de audições. Mann acusava o ex-produtor de a violar em 2013 num quarto de hotel em Manhattan. Mann alegou em tribunal que conheceu o produtor numa festa em Los Angeles e que os pedidos de massagem vieram primeiro e antecederam a prática forçada de sexo oral numa reunião sobre um filme. Sob juramento, Mann contou que fingiu o orgasmo para sair daquela situação. Semanas mais tarde, Mann afirmou ter sido violada por Weinstein num hotel. Contou ainda como o produtor a impediu de sair do quarto e como a obrigou a despir-se. “Por dentro eu estava muito zangada e muito assustada. Desisti nesse momento.” Segundo a testemunha, o produtor tinha-a manipulado desde o início, forçando-a a ter uma relação sexual.
Weinstein foi ainda considerado culpado de ato sexual criminoso em primeiro grau no que concerne à queixa de Miriam Haley, ex-assistente de produção que o acusou de forçar a prática de sexo oral, em 2006, no seu apartamento em TriBeCa (bairro no centro de Manhattan). A história de Haley (recentemente mudou o nome para Mimi Haleyi) data de 10 de julho de 2006, quando a então assistente de produção estava no apartamento de Harvey a convite deste. O relato em tribunal dá conta que Weinstein a empurrou para um quarto e, de seguida, para uma cama. Aí, ignorando os seus protestos, fez-lhe sexo oral “forçado”. Haley estava com o período, pelo que o produtor removeu à força o tampão. “Eu estava a dizer-lhe ‘Não, não, não, não faças isso’”, contou Haley em tribunal. “Era como se ele não acreditasse em mim.” A produtora, hoje com 42 anos, recorda-se ainda de ter pensado: “Estou a ser violada”. “Eu não conseguia afastar-me dele de todo, quanto mais sair do apartamento. Finalmente, ao fim de algum tempo, saí e decidi que ia aguentar isto. Naquela altura isso era a coisa mais segura a fazer.”
O ex-produtor foi, no entanto, absolvido de duas acusações de agressão sexual predatória, o que sugere que alguns (ou apenas um) membros do júri não terão acreditado no testemunho de Annabella Sciorra. A defesa bem sugeriu que a experiência de atriz de Anabella Sciorra, mais conhecida pela série “Os Sopranos”, fazia dela uma testemunha pouco fiável, mas isso não impediu que o seu depoimento marcasse o segundo dia de julgamento. Detalhes “excruciantes” da noite em que alegadamente foi violada, algures entre 1993 e 1994, foram revelados num tribunal em silêncio e interrompidos por lágrimas da própria, tal como descreveu o The New York Times a 23 de janeiro. No papel de testemunha durante mais de duas horas — ainda que o seu caso seja tão antigo que não possa ser julgado em tribunal —, Sciorra parecia “exausta”, com a voz embargada e “incapaz de controlar os soluços”. Na sua versão dos factos, Harvey Weinstein atacou-a depois de a levar a casa, no seguimento de um jantar na baixa de Manhattan.
Today is a victory for the #SilenceBreakers who refused to be silent about Weinstein, igniting a global reckoning.
It’s a victory for survivors everywhere – and for all those who believe in justice.
Read our full statement from @TinaTchen: https://t.co/EYePvrWJlI
— TIME'S UP (@TIMESUPNOW) February 24, 2020
Durante o julgamento, que arrancou a 6 de janeiro, seis mulheres testemunharam contra o produtor caído em desgraça que se declarou inocente desde o início, alegando sempre que os atos foram consentidos.
A par deste veredicto, Harvey Weinstein terá de enfrentar uma vez mais a barra dos tribunais, isto é, ir novamente a julgamento, desta vez em Los Angeles, onde é acusado de ter violado uma mulher e de ter agredido sexualmente uma outra. Ambos os casos datam de fevereiro de 2013 e terão acontecido em dois dias consecutivos. De acordo com o LA Times, Weinstein tem pela frente mais quatro acusações.