Três anos depois de ter fechado para obras de reabilitação, a estação do metro de Arroios, em Lisboa, permanece encerrada e contam-se cerca de 40 estabelecimentos que tiveram de fechar portas devido a despesas avultadas e falta de clientes.

A estação encontra-se fechada desde 19 de julho de 2017 para obras de ampliação, de modo a permitir a circulação de comboios com seis carruagens em toda a Linha Verde, visando também a reformulação de átrios, espaços de apoios à exploração e introdução de elevadores.

Numa resposta escrita à agência Lusa, o Metropolitano de Lisboa diz que as conclusões das obras estavam previstas para o primeiro semestre de 2019, mas por motivos de incumprimentos contratuais do empreiteiro a empresa viu-se obrigada a rescindir, tendo o novo concurso sido adjudicado em setembro desse mesmo ano.

A consignação da empreitada foi assinada em janeiro de 2020, data em que se iniciou, formalmente […], estando previsto que tenha uma duração de 18 meses”, refere a empresa.

Apesar de algumas perturbações devido à pandemia de Covid-19, a obra “está a decorrer em concordância com a nova normalidade” e a transportadora não antevê, para já, perturbações que impeçam a abertura da estação no segundo semestre de 2021, conforme previsto.

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Contudo, as obras de remodelação têm afetado comerciantes e habitantes de Arroios, levando inclusive ao encerramentos de estabelecimentos.

Em declarações à agência Lusa, a presidente União de Associações de Comércio e Serviços (UACS), Maria de Lourdes Fonseca, adiantou que nos últimos três anos encerraram à volta de 40 estabelecimentos, não só na Praça do Chile, mas também na Avenida Almirante Reis e outras vias que eram “alimentadas pela estação do metro”.

Estamos a falar de um misto de estabelecimentos, desde cabeleireiros, cafés, mercearias. Não tinha tanto a ver com a atividade, mas sobretudo com o local onde se situavam”, disse.

A presidente da UACS lembrou que o “comércio vive muito do tráfego humano e com as obras as pessoas não passam, não param, vão para outros sítios e adquirem novos hábitos e o comércio acaba por morrer”.

Para “ajudar ainda mais a situação”, segundo Maria de Lourdes Fonseca, há também as obras de requalificação previstas para aquela zona, que ainda não se sabe quando começam.

Estão previstas obras de requalificação da Praça do Chile. […] Nós achamos que deveria haver uma cumulação de obras, que pudessem ser feitas ao mesmo tempo com as do metro para não prejudicar ainda mais comerciantes e habitantes”, disse.

A situação preocupa também a presidente da Junta de Freguesia, Margarida Martins. Com as obras, descreveu, toda a mobilidade na zona da Praça do Chile, Avenida Almirante Reis, Rua Morais Soares, Pascoal de Melo e as demais transversais foi afetada, bem como o pequeno comércio, que, ao perder a estação, perdeu clientes.

As obras influenciam também a mobilidade dos passageiros, que ficam obrigados a deslocar-se mais uma estação, o que é efetivamente um problema particularmente para quem tem menos mobilidade e para quem vive em toda a zona adjacente à Almirante Reis e que usava a estação de metro de Arroios nas suas quatro saídas”, disse.

Segundo Margarida Martins, também a Junta de Freguesia de Arroios foi afetada com a obra.

Em termos de receita, a isenção proposta por este executivo representa uma perda anual de cerca de 6.000 euros em taxas de licenciamento. Contudo, neste momento, com a pandemia, é preciso ter em conta que a esmagadora maioria dos estabelecimentos está a auferir da isenção de licenciamento, o que representa uma perda de receita anual de dezenas de milhar de euros. Ainda estamos a finalizar as contas, atendendo que em junho a isenção foi aprovada até ao final do ano de 2020″, salientou.

Ainda sobre os apoios aos comerciantes, Margarida Martins disse que a junta deu um apoio direto através da isenção das taxas de licenciamento e solicitou ao município um programa de apoios diretos aos comerciantes no início do ano.

A junta está a preparar uma proposta para apresentar aos comerciantes, a solicitar os seus contributos para posteriormente enviar ao município.

Também o coordenador do coletivo Vizinhos de Arroios, Luís Castro, lamentou também o impacto no comércio: “Parece que finalmente as obras estão a avançar, mas os danos são muitos. Fecharam à volta de 40 estabelecimentos e eu até diria que muito em breve serão capazes de ser mais por causa da pandemia”.

Na sua opinião, quem está em pior situação são os cafés, pois o metro era fundamental à sua sobrevivência.