O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou, a título póstumo, o cantor e compositor Carlos Paião com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique, segundo a informação publicada na página das Ordens Honoríficas Portuguesas.

“A condecoração acontece 40 anos depois da primeira candidatura [de Carlos Paião] ao festival RTP da Canção”, recorda esta mensagem oficial, referindo-se à participação do músico no concurso de 1980, onde interpretou “Amigos eu voltei”, canção que não passou à final. As insígnias foram entregues aos pais do músico.

Carlos Paião morreu num acidente de automóvel, aos 30 anos, em agosto de 1988.

O produtor musical Mário Martins, que lhe reconheceu o talento e o levou para a editora Valentim de Carvalho, no final da década de 1970, disse à Lusa, quando passavam 25 anos sobre a sua morte, que Carlos Paião foi “um compositor e autor de mérito único”.

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“Se estivesse vivo, seria provavelmente o maior compositor e autor de música ligeira”, enfatizou Mário Martins, nessa entrevista de agosto de 2013, sobre o compositor de “Playback” e “Pó de Arroz”.

“Carlos Paião ganhou o Festival de Ílhavo [1978], e enviou uma cassete para a EMI-Valentim de Carvalho, que nunca mereceu resposta”. Na altura, já tinha mais de 200 canções escritas.

Então o seu primo e autor de sucessos como “Ó tempo volta p’ra trás”, Manuel Paião, com quem Mário Martins trabalhava, pediu-lhe que ouvisse a cassete.

“Fiquei abismado, pois havia ali muita qualidade”, contou o ex-diretor do Departamento de Artistas da antiga discográfica.

O Carlos [Paião] não tinha uma grande voz, mas era um extraordinário compositor e autor e, quando entrei em contacto com ele, disse-me que também não estava interessado em gravar”, recordou.

O fadista António Mourão foi o primeiro a gravar uma canção de Paião, “Fado Reguila”, que “não teve sucesso”. Seguiu-se Amália Rodrigues, que se tornou uma aliada. Amália ouviu várias canções, “deu gargalhadas e escolheu logo uma dúzia delas, como ‘O Senhor Extraterrestre’, que gravou” e à qual viria a juntar “Nosso Povo”, recordou Mário Martins.

O primeiro álbum gravado por Carlos Paião, como intérprete, “Algarismos”, surgiu depois da vitória no festival da RTP de 1981, com “Playback”.

Continuou porém a privilegiar a composição para outros cantores, como Amália , Lenita Gentil, Mísia, José Alberto Reis, Alexandra, Vasco Rafael, ou para revista, como “Escabeche”, do Teatro ABC.

Trabalhou com Herman José e foi um dos criadores das personagens Estebes e Serafim Saudade, para o qual compôs o repertório. Muitas das canções de Carlos Paião têm sido recuperadas por cantores como Fábia Rebordão, Rui Veloso, Sam The Kid, Mesa, Tiago Bettencourt.

Em 2018, uma homenagem, pensada para o Festival da Canção, deu origem ao álbum “Paião”, coordenado pelos músicos João Pedro Coimbra e Nuno Figueiredo, com interpretações de Jorge Benvinda, dos Virgem Suta, Marlon, d’Os Azeitonas, e VIA.