Quem são os grandes escritores que formam o cânone da literatura portuguesa? A pergunta terá brevemente uma resposta: na próxima semana vai ser publicado um livro de ensaios dedicado aos grandes escritores nacionais. A obra, intitulada O Cânone, será publicada pela editora Tinta-da-China e é o resultado de uma escolha feita por académicos, intelectuais, historiadores e críticos literários contemporâneos.

O livro, apoiado pela Fundação Cupertino de Miranda, foi coordenado por Miguel Tamen, António Feijó e João Figueiredo (respetivamente diretor, presidente do Conselho de Escola e professor/investigador da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), que escrevem a maioria — perto de dois terços — dos ensaios. Os restantes, entre um terço a 40%, são escritores por outros historiadores, académicos e críticos literários, como Rui Ramos, Pedro Mexia, Abel Barros Baptista, Gustavo Rubim e “uma série de outros mais novos”.

A informação foi confirmada ao Observador por Miguel Tamen, um dos organizadores do livro, que acrescentou que os textos em questão “são quase todos monográficos” e são “ensaios curtos”, na sua maioria “individuais, cada um sobre um autor”. Há ainda assim algumas exceções, de textos dedicados a “movimentos” e correntes literárias e a “conjuntos de dois ou três autores”.

O livro vai ser apresentado em Lisboa a 14 de outubro — quarta-feira da próxima semana —, pelo humorista e cronista Ricardo Araújo Pereira, em sessão a decorrer no Jardim Botânico Tropical entre as 18h e 19h. No dia seguinte a obra será apresentada no Porto, na Casa São Roque, com um convidado distinto: Pedro Sobrado, presidente do conselho de administração do Teatro Nacional São João. As duas sessões serão apresentadas “de maneira não pessoal”, com transmissão por streaming através da internet.

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A seleção dos escritores que são alvo de ensaios nesta obra dedicada ao cânone da língua portuguesa foi feita através de um “processo editorial normal”, diz ainda Miguel Tamen. “Os editores conversaram ao longo do tempo e decidiram os autores que seriam objeto de ensaios”, notando que não se trata de “um dicionário nem de uma enciclopédia” e que os ensaios “não são verbetes”, tendo um carácter opinativo e interpretativo. Para já, fica em segredo a lista de escritores canónicos escolhidos.

“Museu” não é biblioteca, é “um passeio” pela história da literatura portuguesa

Paralelamente ao livro, mas “ligado a isto” — diz Miguel Tamen — será inaugurada a 18 de outubro, um domingo, uma “torre literária”. Trata-se de “uma espécie de museu da literatura”, que ficará instalado em Famalicão, na sede da Fundação Cupertino de Miranda, “que é quem patrocinou nestes últimos anos este trabalho”.

Não se trata, esclarece Miguel Tamen, “de um museu de relíquias, que tenha, imaginemos, óculos usados por Camilo Castelo Branco”. Será antes uma “exposição permanente” que convidará a “um passeio por uma antologia muito particular dos escritores importantes da história da literatura portuguesa”.

Notando que a sede da fundação Cupertino de Miranda, em Famalicão, tem “uma torre desenhada no princípio dos anos 60” — que “vista de fora parece um prisma, um paralelepípedo, mas que foi imaginada como o Guggenheim em Nova Iorque” — Miguel Tamen detalha que a subida pelos andares da torre é feita “através de uma rampa em espiral”. O que significa que “o passeio pela exposição será feito subindo essa rampa”.

A ideia é assim que “as pessoas subam aquela rampa” e, ao longo da subida, vão-se deparando com múltiplas referências a autores do cânone literário português. Às vezes as referências serão “textos”, outras vezes sons, outras vezes ainda “imagens”, “vídeos”, gráficos interativos. Não são “livros propriamente ditos” nem esta espécie de museu será “uma biblioteca”. São apresentadas também “efemérides”, para que “as pessoas tenham ideia do que estava a acontecer o mundo na mesma altura” da escrita e publicação de obras canónicas.

Não é portanto um museu de objetos raros ou de obras de artes”, vinca Miguel Tamen

Os organizadores do livro dedicado ao cânone da literatura portuguesa estiveram envolvidos na seleção dos materiais desta exposição permanente dedicada aos grandes autores.