Agentes culturais da região Centro criticam as assimetrias na atribuição de apoios por parte da Direção-Geral das Artes (DGArtes) e consideram que deveriam ser criados mecanismos para tornar a distribuição dos recursos mais equilibrada pelo território nacional.

O último programa de apoio a projetos nas áreas de criação e edição da DGArtes revela que a maioria das candidaturas aprovadas (mais de 70%) são da Área Metropolitana de Lisboa (AML) e que apenas cerca de 4% dos apoios aprovados vão para a região Centro.

Mesmo considerando que a AML registou um número muito superior de candidaturas elegíveis a este programa, a taxa de aprovação dos projetos foi muito superior (um em cada três projetos de Lisboa foram aprovados), em comparação com os do Norte (um em cada quatro) ou as do Centro (um em cada dez), de acordo com cálculos feitos pela agência Lusa.

Face aos resultados, a Companhia da Chanca, de Penela, no distrito de Coimbra, lançou uma carta aberta dirigida ao Governo, na qual lamenta que sejam distribuídos “apenas 4% dos fundos disponíveis para a região Centro, onde vive 23% da população nacional”.

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“A Companhia da Chanca não compreende um Governo que, por um lado, reconhece as assimetrias vividas no território e, por outro, não convoca uma política cultural adequada, sabendo que a cultura é um dos aspetos fundamentais para a fixação da população no território”, critica aquela estrutura, na carta aberta a que a Lusa teve acesso.

Ana Bento, da Gira Sol Azul, de Viseu, que viu a sua candidatura rejeitada, assume que o assunto é “muito complexo”, mas salienta que “há coisas que são factos e matemática”, e, olhando para a lista, percebe-se que “há uma percentagem muito pequena de projetos fora de Lisboa”.

“Não sei se as quotas são uma solução, mas tem que haver uma atenção, porque um dos objetivos que a DGArtes define para si é precisamente o equilíbrio na distribuição territorial”, disse.

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Tiago Pereira, da cooperativa Coruja do Mato, em Valhelhas, Guarda, considera que deveria haver alguma forma de melhorar a distribuição das verbas, fosse através de “quotas ou de uma planificação de distribuição de apoios por regiões, com um número máximo e mínimo de projetos que podem ser apoiados.

Hugo Ferreira, presidente da cooperativa cultural Ccer, que gere, entre outros projetos, a editora leiriense Omnichord, contabiliza cinco candidaturas reprovadas a programas da DGArtes, referindo que decidiu avançar com a última candidatura depois de desafiado pela ministra, quando visitou as instalações da cooperativa este ano.

Para Hugo Ferreira, é preciso uma distribuição mais justa dos apoios e uma capacitação das estruturas fora dos grandes centros. Ferreira considera que os artistas da grande Lisboa e Porto “têm tudo a ganhar com o desenvolvimento cultural noutros polos do país”.

“Neste momento, em que é necessário tentar salvar as instituições, é preciso dinamizar o território da forma mais equilibrada possível”, defendeu Hugo Ferreira.

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Para o diretor da Marionet, Mário Montenegro, estar na região Centro significa sempre “menos visibilidade do que no Porto e em Lisboa”.

Este responsável diz que os projetos, mesmo quando financiados, não têm acompanhamento.

“Durante os dois anos em que tivemos apoio sustentado, ninguém veio avaliar ou ver o que fizemos. Se já não é fácil sem visibilidade, o desconhecimento sobre o que fazemos mina todas as possibilidades”, critica o diretor da companhia de Coimbra.

“Cansamo-nos de estar sempre de candidatura em candidatura, elegível, mas rejeitada porque não há dinheiro. Isto começa a parecer muito miserável. Não haver dinheiro é uma falsa questão. É uma opção política”, vincou.

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