George Blake, que foi uma das mais famosas toupeiras russas nos serviços secretos britânicos, morreu aos 98 anos. A sua morte foi anunciada na Rússia, país onde vivia há mais 50 anos. Blake era o último dos agentes duplos britânicos da Guerra Fria e o seu óbito é conhecido semanas depois de ter morrido o escritor que mais escreveu sobre o tema, John Le Carré, também ele um antigo agente do MI6, os serviços de espionagem britânicos.

Durante nove anos, a agente infiltrado no MI6 forneceu à então União Soviética informação secreta que traiu a identidade de pelo menos 40 agentes britânicos na Europa do Leste. Blake foi detido em 1960 em Londres, mas conseguiu fugir seis anos depois para a Rússia, tendo os serviços secretos russos (o antigo KGB) saudado o antigo espião como tendo “um amor genuíno pelo nosso país”. Segundo o perfil publicado no jornal britânico The Guardian, Blake assumiu o nome russo de Georgy Ivanovich, tendo sido condecorado por Vladimir Putin em 2007, para além de receber uma pensão paga pelo antigo KGB.

Numa entrevista dada à BBC em 1990, Blake revelou a estimativa de ter traído pelo menos 500 agentes ocidentais com a informação que passou para a União Soviética, mas recusou a acusação de que 42 destes espiões foram mortos depois de ter revelado a sua identidade.

As suas ligações com o KGB foram reveladas por um agente secreto polaco que desertou para o ocidente, trazendo consigo informações que comprometeram o infiltrado no MI6. Blake foi detido e julgado por traição, tendo sido condenado em 1961 por passar informação secreta à União Soviética a 42 anos de cadeia. Mas cinco anos depois, evadiu-se da prisão londrina de Wormwood com a ajuda de outros presidiários e dois ativistas, tendo sido retirado em segredo do Reino Unido numa carrinha.

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Blake foi considerado o agente duplo que mais prejudicou as operações secretas britânicas, mostrando como Moscovo conseguiu entrar no coração do MI6. Antes de ser contratado como espião, trabalhou com a resistência holandesa durante a Segunda Guerra Mundial, tendo saído da Holanda com destino ao Reino Unido via Gibraltar quando conflito ainda estava a decorrer. Filho de um judeu espanhol que lutou no exército britânico na Primeira Guerra Mundial, terá sido convidado para entrar nos serviços secretos britânicos devido ao seu pai e ao currículo na resistência.

Blake aprendeu russo em Cambridge, universidade da qual saíram os agentes duplos (para a União Soviética) mais conhecidos da Guerra Fria. Em 1948 foi enviado para Seul para obter informação sobre a Coreia do Norte, a China e o Extremo Oriente mais próximo dos soviéticos. Foi capturado e feito prisioneiro quando as forças da Coreia do Norte invadiram Seul em 1950 e terá sido durante este período que se transformou num comunista convicto.

Quando regressou ao Reino Unido depois de ter sido libertado em 1953, foi enviado para Berlim — cidade divida entre os dois blocos — para recolher informação sobre os espiões soviéticos. Terá então aproveitado a oportunidade para passar para Moscovo informação secreta sobre as operações britânicas e americanas.