A investigadora Helena Barranha defendeu esta quarta-feira que os museus portugueses precisam de recursos humanos, técnicos, qualificação e criatividade para criar “o seu próprio caminho”, e responder ao “ultimato” da transição digital que se acentuou com a pandemia.

O tema “Museus e Transição Digital” vai ser debatido a partir das 18:00, numa conferência digital inserida no ciclo de debates sobre as recomendações do Grupo Museus no Futuro, organizado pela secção portuguesa do Conselho Internacional de Museus (ICOM-Portugal), com a participação de Helena Barranha.

“A globalização das redes sociais catapultou os museus para esse espaço ´online´ para comunicarem com os seus públicos, mas o que estava a decorrer como uma transição, passou a ser um ultimato com o surgimento da pandemia. Somos obrigados a recorrer cada vez mais ao digital na vida profissional e pessoal. As redes sociais e as plataformas digitais começaram a ser uma necessidade e imposição, e não uma escolha”, avaliou a ex-diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea.

Esta transição da atividade dos museus para o mundo digital “não é nova, e tem vindo a decorrer nas últimas décadas”, com os primeiros ´websites´ a serem criados nos museus internacionais no início dos anos 1990, recordou, em declarações à agência Lusa Helena Barranha, investigadora no Instituto de História da Arte, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, onde coordena o ´cluster´ de Arte, Museus e Culturas Digitais.

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Questionada pela Lusa sobre os desafios, para os museus portugueses, desta aceleração da transição digital, a investigadora disse: “A maioria dos museus não estão preparados devido ao subfinanciamento na cultura, que perdura há muitos anos”.

“As exigências técnicas são evidentes, a necessidade de reforçar as equipas, e de fazer formação. Só a boa vontade não basta porque os públicos, hoje, são muito mais exigentes em qualidade do que eram no passado”, apontou.

Helena Barranha considera que existe um “relativo atraso” dos museus portugueses, comparativamente a outras instituições congéneres estrangeiras, mas defende que “não se deve tentar apressar a velocidade do processo, e, em vez disso, aproveitar a distância crítica para repensar o que se pretende fazer, em vez de replicar modelos, mesmo de instituições de referência”.

“Um museu de grandes dimensões, como o Louvre, em Paris, tem capacidade e recursos para estar presente regularmente em todas as redes sociais”, referiu, como exemplo.

Barranha aconselha os museus portugueses, antes de se adaptarem às novas tecnologias e responder a estes acelerados desafios digitais, a “avaliar a sua própria dimensão, recursos e objetivos, usar sobretudo a criatividade”.

A especialista alerta ainda para a necessidade de afastar a ideia de que “todas as fragilidades dos museus portugueses se resolvem com a transferência para o digital, o que não é de todo possível”.

“Pode acontecer o mesmo que aconteceu na área da educação, quando as escolas encerraram por causa da pandemia: agravaram-se as desigualdades sociais e económicas, porque nem todas as pessoas têm o mesmo acesso às tecnologias e são, consequentemente, marginalizadas”, disse a investigadora.

Helena Barranha recomenda ainda que o momento presente, “muito desafiante para o país, deve ser aproveitado, na área dos museus, para trabalhar na globalização inclusiva, e não segregadora”, tendo em conta que, “os agentes económicos que dominam as plataformas tecnológicas são poucos, algo obscuros, e detêm muito poder”.

Helena Barranha, doutorada em arquitetura e mestre em gestão do património cultural, sugere também que os Estados “criem mecanismos para proporcionar condições às instituições não se tornarem reféns das plataformas digitais”.

A investigadora deu como exemplo a plataforma digital Europeana, lançada pela Comissão Europeia em 2008, que disponibiliza acesso ao património histórico e cultural europeu, reunindo atualmente arquivos, bibliotecas e museus, com mais de 50 milhões de itens digitalizados, desde livros, música, e obras de arte.

“É uma plataforma alternativa ao Google Arts and Culture, financiada pela União Europeia, e, no entanto, tem sido desvalorizada pelos museus”, lamentou, apelando à criação de um “modelo mais inclusivo” nesta área.