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A palavra de São Matheus é tudo menos milagre (a crónica do Sporting-Benfica)

Este artigo tem mais de 3 anos

Dérbi foi intenso. Com muitos duelos, com poucas chances, com a estrelinha do miúdo que esteve 90 minutos a procurar a sorte. O Sporting é mais do que um candidato. E provou-o frente ao Benfica (1-0).

Matheus marcou apenas o segundo da temporada no Campeonato, depois de ter fechado a vitória dos leões frente ao Sp. Braga em Alvalade
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Matheus marcou apenas o segundo da temporada no Campeonato, depois de ter fechado a vitória dos leões frente ao Sp. Braga em Alvalade

Matheus marcou apenas o segundo da temporada no Campeonato, depois de ter fechado a vitória dos leões frente ao Sp. Braga em Alvalade

As diagonais que colocam Pedro Gonçalves e Nuno Santos em zonas de finalização aproveitando também o espaço que sobra com o arrastamento dos centrais por Tiago Tomás. As transições ofensivas que encontram Rafa a sair sobretudo da direita numa zona entre linhas que só raramente não termina em oportunidade a não ser que trave logo na fase inicial. A superioridade criada na subida com bola de Feddal que coloca Nuno Mendes em vantagem pela esquerda ou o jogo interior de Porro arriscando a meia distância. A exploração da profundidade com Darwin Núñez a cair na esquerda para surgir o outro avançado, um médio, o ala contrário ou até um lateral (Grimaldo) no espaço para o último toque. As bolas paradas, ao primeiro poste de forma direta ou ao segundo para um desvio para o lado contrário, procurando por princípio a colocação dos centrais na área. A lista podia continuar, a ideia ficou percebida – perceber como se joga pode tornar-se fácil, travar esse jogo é sempre complexo.

Sporting vence dérbi frente ao Benfica nos descontos e deixa águias a nove pontos da liderança

No plano teórico, o dérbi seria decidido nos movimentos típicos das duas equipas que, apesar de atravessarem no início de fevereiro momentos distintos na época por múltiplos contextos, têm esquemas, modelos e ideias de jogo já devidamente enraizadas com o tempo e dentro das próprias características de quem as lidera. No entanto, há um lado prático no futebol que faz com que na sua matemática nem sempre 2+2 sejam 4. “É fácil de interpretar a forma como joga mas é difícil de contrariar se não estivermos bem no jogo”, comentou Sérgio Conceição antes da meia-final da Taça da Liga frente ao Sporting, numa frase que já antes, no arranque da época, tinha sido aplicada por outros técnicos ao Benfica. Depois, e em paralelo com tudo isto, existe uma parte mental cada vez mais importante na alta competição. Por isso, e sendo certo que durante os últimos dias foram trabalhadas variantes dentro da mesma ideia de jogo que conseguissem surpreender o adversário, houve mais na preparação do jogo.

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Em 13 meses, o intervalo temporal entre o primeiro encontro pela equipa principal do Sp. Braga e o primeiro dérbi em Alvalade frente ao Benfica no comando do Sporting, Rúben Amorim tornou-se o treinador da moda. E o próprio sabe disso, mesmo que relativize os registos que vai somando na curta carreira. Agora, neste mercado de inverno, teve mais um voto de confiança tão ou mais simbólico do que o pagamento dos dez milhões de euros que tinha na cláusula de rescisão com os minhotos (que entretanto se transformaram quase em 14, entre juros previstos e “multas” por atraso): os leões arriscaram tudo na contratação de Paulinho, o avançado que tanto queria e que se tornou o jogador mais caro de sempre do clube verde e branco. Antes, conquistou a Taça da Liga, liderou várias jornadas o Campeonato e deu valor desportivo e financeiro a jogadores da formação ou que foram apostas vindos do mercado interno mas a fasquia, no plano interno, subiu, com a qualificação para a Champions a surgir como essencial e com este dérbi a poder dar uma almofada de nove pontos em relação ao terceiro lugar.

Do outro lado, de uma forma omnipresente por estar em casa a recuperar em casa da infeção por Covid-19, Jorge Jesus. Um treinador que passou seis anos pelo Benfica, esteve depois três no Sporting, passou pela Arábia Saudita, conquistou tudo no Brasil onde se tornou um verdadeiro herói e voltou à Luz pouco mais de uma década depois. Jesus é um treinador acima da média e que sabe (e assume isso sem problemas) que é acima da média. No entanto, e ao contrário do que pensava por esta altura, corria atrás da liderança e não fazia os outros correrem pela liderança por fatores de diversos níveis, da (inexplicável) inexperiência na gestão de alguns jogos e vantagens ao surto de Covid-19 desde o final de 2020 e que se prolongou em janeiro com as marcas conhecidas. Por isso, e tal como tinha acontecido no Dragão, quis surpreender e montou uma equipa formatada para encaixar no mesmo esquema dos leões para procurar uma vitória demasiado importante no contexto que a equipa atravessava.

No final, Amorim ganhou o primeiro duelo ao omnipresente Jesus, representado no banco por João de Deus. Não porque os encarnados tenham falhado em termos táticos mas porque perderam parte da sua identidade ofensiva com essa troca que colocou uma linha de três defesas com Gilberto e Grimaldo a fazerem os corredores e porque, no final, o Sporting voltou a ter a “estrelinha” de campeão agarrada por um miúdo que deu um salto qualitativo enorme em seis meses e que procurou a sorte num jogo onde, com ou sem golo, seria sempre o melhor em campo. Nove anos depois, os leões voltaram a ganhar o dérbi em casa ao velho rival, que ficou a nove pontos de distância. Nada ficou decidido. Mas se existe um evangelho escrito para desfazer o jejum de títulos, o mesmo foi escrito em Alvalade por um São Matheus que mostrou que transformar tostões em milhões não é um milagre.

O encontro começou com dois cantos noutros tantos minutos para o Sporting, algo atípico num dérbi, e com uma grande arrancada de Rafa a correr meio-campo em transição até adiantar a bola em demasia para corte de Nuno Mendes, algo que seria um à partida um dos pontos mais típicos do dérbi. Remates, esses, nem um, havendo no quarto de hora inicial um livre lateral que criou a sensação de perigo para os leões e uma boa jogada que levou Pizzi a cruzar atrasado para corte da defesa verde e branca. No entanto, houve um fator desmultiplicado por dois que mudou o resto do encontro: a lesão muscular de Jardel, num pique com Nuno Santos após bola longa colocada na profundidade, e o cartão amarelo a Weigl, médio que com a entrada de Gabriel recuou para central e que ficou logo “tapado” pouco depois do primeiro quarto de hora por tentar jogar em antecipação sobre Tiago Tomás.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Sporting-Benfica em vídeo]

O encaixe tático das duas equipas, quase como dois harmónios que em posse tentavam alargar jogo ao máximo e sem bola fechavam num bloco de 20/30 metros o mais subido possível sem problema de dar a profundidade numa primeira fase e em bloco mais baixo num segundo momento de reorganização. Somavam-se os cartões amarelos, multiplicavam-se as quezílias, dividiam-se as bolas perdidas. E as contas só mexiam quando Rafa entrava no jogo, nem tanto na transição mas a receber por dentro entre linhas, como aconteceu num lance em que assistiu Pizzi à direita de trivela mas o remate de pé esquerdo do médio saiu ao lado (19′). No lado do Sporting, e em jogo corrido, a primeira ameaça surgiu por Tiago Tomás que, antes de perceber que estava em posição irregular e que o lance seria anulado, foi lançado nas costas por Porro mas não conseguiu marcar isolado perante Vlachodimos (23′).

Até ao intervalo, o encontro iria dividir-se em dois momentos distintos, com o Benfica a ter uma fase curta de alguns minutos onde conseguiu ganhar mais vezes a bola no meio-campo do Sporting e impossibilitou o adversário de sair em transições e um momento mais prolongado com os leões a fazerem o mesmo no meio-campo das águias de forma mais consistente e com dois remates em lances diferentes mas com a mesma origem: bola nas costas da defesa contrária lançada por Matheus Nunes e trabalho de Pedro Gonçalves a tentar o remate (muito por cima, 31′) ou a assistir para a meia distância de Porro (desviou em Weigl e saiu para canto, 35′). Os últimos minutos passavam nesse contexto e foi aí que surgiu a melhor oportunidade dos 45 minutos iniciais, com Tiago Tomás a desviar um canto ao primeiro poste e Neto, sozinho na pequena área do lado oposto, a cabecear muito perto da baliza de Vlachodimos (40′). Num jogo “trancado”, a bola parada era mesmo uma janela de oportunidade.

Logo no recomeço, e num movimento característico do Sporting, Darwin Núñez conseguiu aparecer bem após um lançamento longo nas costas da defesa leonina e rematou forte de pé esquerdo para defesa de Adán para canto. Um sinal de que algo iria mudar? Nem por isso. Não que tivesse voltado a haver uma oportunidade mas foi mais uma vez o conjunto verde e branco a perceber melhor os momentos do jogo e o contexto em que estava inserido para explorar transições ou aproveitar a mobilidade das unidades mais ofensivas enquanto Matheus Nunes continuava a assumir um protagonismo crescente num meio-campo onde João Mário esteve muitos furos abaixo do normal. O jogo não mexia lá dentro, o jogo para mexer teria de ser a partir de fora. E começaram as substituições.

Rúben Amorim tirou João Mário e Nuno Santos para lançar João Palhinha e Jovane Cabral. Objetivo? Reforçar a parte física no corredor central, soltar Matheus Nunes para ter mais saída e explorar a meia distância do herói da meia-final da Taça da Liga frente ao FC Porto. João de Deus tirou Cervi para lançar Taarabt. Objetivo? Reforçar a saída de bola pelo corredor central, colocar Rafa mais descaído na esquerda e dar outra amplitude ao jogo ofensivo de Pizzi. Em parte essa teoria funcionou nos dois lados mas, ao mesmo tempo, nem isso isso desbloqueou a partida apesar de duas ameaças de Rafa em transição a desequilibrar mas sem criar oportunidades e uma grande defesa de Vlachodimos após ressalto de bola entre Pedro Gonçalves e Gilberto que quase surpreendeu o grego (75′).

Tabata ainda entrou para o lugar do esgotado Tiago Tomás, puxando Pedro Gonçalves para falso avançado centro, Nuno Tavares e Seferovic tiveram trocas diretas com Grimaldo de Darwin Núñez. Aquilo que havia para fazer em termos táticos já tinha acabado, aquilo que havia por fazer passava sobretudo pela inspiração individual e pela capacidade de alguns jogadores que começavam a acusar um dérbi com raríssimas oportunidades e nem sempre bem jogado mas onde não faltou entrega a intensidade. E o golo apareceu nos descontos, pela equipa que mostrou mais coração e pelo jogador que nunca perdeu a alma: no seguimento de uma defesa incompleta de Vlachodimos após cruzamento da direita, Matheus Nunes esteve no sítio certo à hora certa para desviar de cabeça para a baliza deserta e marcar o golo que decidiu o dérbi e deixou o Benfica a nove pontos da liderança leonina (90+2′).

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