O presidente da Confederação do Desporto de Portugal (CDP) disse que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) apresentado na terça-feira pelo Governo é “uma desilusão”, por deixar o desporto de fora das medidas apresentadas.
Em declarações à agência Lusa, Carlos Paula Cardoso lamentou que o desporto seja “tratado com alguma menoridade em todo o processo”, notoriamente agastado com o ‘esquecimento’ a que a atividade desportiva, “sobretudo de competição”, foi votada no PRR.
O desporto não é só o resultado em si, apesar de, normalmente, quando há grandes sucessos, também isso contribuir para a autoestima dos portugueses. Mas há todo um conjunto de outras áreas que estão envolvidas no desporto, como a arquitetura, engenharia, investigação, que têm uma ligação ao desporto que vai para além do resultado em si”, frisou o presidente da CDP.
Trata-se, portanto, de “um grande conjunto de pessoas com diferentes formações” que ficam de fora dos apoios previstos no PRR. São “pessoas que conseguem resultados fantásticos” através de um trabalho de “investigação e criação de produtos melhores”, em conjunto “com o trabalho dos atletas e dos treinadores”, e isso “é que está em causa”, no entender de Carlos Paula Cardoso.
“É todo esse conjunto de coisas que não são vistas, parece que são menores. É o reconhecimento global de uma área que é fundamental para o bem-estar das pessoas e que, ao contrário do que acontece noutros países, não tem tido a devida atenção em Portugal”, criticou.
Nesse sentido, Carlos Paula Cardoso lembrou ainda “a evolução ao longo do século passado” no plano desportivo e frisou que, “além da capacidade física dos atletas”, também teve muito a ver com “a melhoria dos materiais, a evolução médica e científica” do país. Outro problema que parece não ter fim à vista são “os escalões de formação impedidos de treinar e competir”. “Vamos ter um hiato de dois anos numa altura fundamental para os jovens que estão parados e vamos sofrer isso na pele nos próximos anos, porque há etapas do crescimento que, ou são naquele momento, ou não são”, advertiu.
Além disso, o dirigente concordou que o ‘esquecimento’ do desporto no PRR “é paradoxal” com as declarações do secretário de Estado, João Paulo Rebelo, que tem anunciado a intenção de colocar Portugal entre os 15 países da União Europeia com maiores índices de atividade física em 2030.
Nós, o Comité Olímpico e o Comité Paralímpico temos vindo a alertar desde o início [da pandemia] para estes problemas, mas parece que batemos sistematicamente ‘na trave'”, desabafou o dirigente.
O Governo colocou na terça-feira em consulta pública a versão preliminar do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que prevê 36 reformas e 77 investimentos nas áreas sociais, clima e digitalização, num total de 13.900 milhões de euros em subvenções.
O Comité Olímpico de Portugal (COP) apontou, em comunicado, que “não fazem parte do roteiro muitas das preocupações enunciadas no documento de base, Estratégia Portugal 2030, designadamente no domínio da atividade física e desportiva das populações”.