De que forma se pode olhar a escrita de Vergílio Ferreira? Abrindo-a à possibilidade de a percorrer pelo risco, pela surpresa, pelo acaso. Abra-se o livro Pensar, como quem mergulha no caos organizado da reflexão filosófica do seu autor, e surge uma inesperada luminosidade no pensamento 420. Diz o seguinte:

“Esquece a amargura, os atropelos, o cansaço. E as maledicências, as traições, os rancores. Esquece o trabalho que te traz em alvoroço e os fracassos de uma vida inteira e os projectos falhados para antes de começarem a ser projectos. E as invejas, as calúnias, as insídias como dentes por entre o sorriso. Esquece. E sê contente. E respira”.

Uma negação do pessimismo, plasmado no rosto de quem nunca teve com a vida uma relação leve e desembaraçada. Mesmo quando é luminoso, como acontece com a passagem acima transcrita, é impossível esquecer as olheiras, o ar de quem traz consigo um punhado de angústias, sem nunca as conseguir aclarar. Quem muito pensou e ruminou não podia ser de outra forma. Mas. Há muitos “mas” neste autor de desenho complexo, a merecer leituras e releituras.

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