O violoncelista Paulo Gaio Lima, de 60 anos, morreu esta segunda-feira, em Lisboa, disse à agência Lusa fonte da Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML). O funeral realiza-se na quarta-feira, a partir das 17h00, no Cemitério dos Olivais, em Lisboa.

Professor da Escola Superior de Música de Lisboa e da Academia Nacional Superior de Orquestra, que faz parte da Associação Música, Educação e Cultura (AMEC), assim como a Orquestra Metropolitana, Paulo Gaio Lima foi violoncelo solista da OML e fez parte do Quarteto Verdi de Paris e do Artis Trio.

Nascido no Porto, foi aluno de Madalena Sá e Costa, no Conservatório de Música desta cidade, e de Maurice Gendron, no Conservatório Superior de Paris, onde viveu durante sete anos, tendo sido bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e do Ministério da Cultura.

Em 1987, foi violoncelo-solo convidado da Orquestra Sinfónica do Reno, na Alemanha.

O violoncelista apresentou-se regularmente em festivais de música em Portugal e além-fronteiras, nomeadamente em Bruxelas, no âmbito da Europalia, em Huddersfield, no Reino Unido, no Marais, em Paris, em Nantes e em Uzés, em França, em Turim e Trento, em Itália.

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Trabalhou, entre outras, com orquestras de Moscovo, Szeged, Xangai, Porto Alegre, Hannover, Monterrey, Basileia, Varsóvia, Neuss e Istambul.

Colaborou com diversos grupos de música contemporânea, nomeadamente, Alternance, 2E2M, L’Itinéraire, Poikilon, Música Nova e Divertimento di Milano.

De 1992 a 2000, foi violoncelo-solo da Orquestra Metropolitana de Lisboa e, com o violinista Aníbal Lima e o pianista António Rosado, formou o Artis Trio, tendo atuado na Dinamarca, França, Portugal e Itália. Desde 2006, fazia parte do Trio.pt.

Gaio Lima apresentou em primeira audição obras de Pascal Dusapin, no encontro Música 86, em Estrasburgo, o Concerto para violoncelo, de Philippe Hersant, em 1989, em Huddersfield, e “5 Miniaturas”, de Carlos Marecos, em 2000, em Cascais.

Gravou em disco Concertos de Luigi Boccherini, trios de Beethoven, com o violinista Geraldo Ribeiro e o pianista Pedro Burmester, obras de Brahms e Schumann, assim como obras do repertório camerístico português.

Foi intérprete de António Pinho Vargas, Cláudio Carneyro e Joly Braga Santos, que gravou para editoras como a antiga EMI e a RCA.

A sua atividade pedagógica expandiu-se igualmente às Universidades de Évora e do Minho e a cursos de aperfeiçoamento em Portugal, Espanha, França, Brasil, Áustria e Estados Unidos da América.

“O músico completo e generoso” recordado pelos seus pares

Paulo Gaio Lima era “um músico completo, (…) generoso em toda a sua essência”, que os seus pares recordam como “um dos maiores” da música portuguesa das últimas décadas.

A Orquestra Clássica da Madeira, na sua página, lembra “com gratidão (…) o ser humano elevado, artista e professor, com uma carreira absolutamente extraordinária, músico completo, de fácil trato, generoso em toda a sua essência”. “O seu amor pela vida, pela música, pelos colegas e pelos alunos foi e será um exemplo”, conclui a orquestra do Funchal.

Para a Metropolitana, a que Paulo Gaio Lima esteve ligado, como violoncelo solista e como professor da sua academia, perdeu-se “um músico gigante, que fez parte [da orquestra] desde a sua fundação”, em 1992.

A Filarmonia das Beiras, por seu lado, recordou “o violoncelista ímpar (…), a sua generosidade, todo o seu amor pela música”, numa publicação no Facebook, enquanto a Orquestra Nacional de Jovens considera Paulo Gaio Lima “um dos mais brilhantes músicos portugueses de sempre”.

O Museu Nacional da Música, numa publicação nas redes sociais, recordou o recital do violoncelista, nas suas instalações, no Dia Mundial da Música de 2015. Na altura, Paulo Gaio Lima tocou o Stradivarius de 1725 “Chevillard/Rei de Portugal”, um dos tesouros nacionais da coleção do museu. O recital coincidia com os cem anos da violoncelista Madalena de Sá e Costa, sua antiga professora que, no final, o saudou: “Foste extraordinário, Paulo!”

A Escola de Música do Conservatório Nacional também manifestou o “mais profundo pesar pela morte do músico, professor, maestro, mas sobretudo amigo, Paulo Gaio Lima (…) um enorme músico e professor”.

O musicólogo Rui Veira Nery, numa publicação na sua página no Facebook, recorda “um dos maiores músicos portugueses das últimas décadas”.

“Faltam-me as palavras para expressar toda a admiração e todo o carinho que o Paulo desde sempre inspirava no mundo da Música portuguesa, como solista e professor extraordinário, mas também como um homem profundamente bom. (…) Não merecíamos esta sua partida”, escreveu Vieira Nery.

O compositor António Pinho Vargas, que teve em Paulo Gaio Lima um dos seus mais privilegiados intérpretes, recordou o “grande músico” e “querido colega”, no corpo docente da ESML. “É das suas mãos o grande som do violoncelo de ‘Monodia – quasi un requiem’”, na gravação editada pela EMI/Warner.

A Casa da Música também já tinha manifestado, na noite de segunda-feira, “o mais profundo pesar” pela morte do “violoncelista de excepção”.

Cerimónia laica na despedida do violoncelista quarta-feira em Lisboa

O funeral do violoncelista realiza-se na quarta-feira, a partir das 17h00, no Cemitério dos Olivais, em Lisboa, onde será cremado, disse à agência Lusa fonte da Orquestra Metropolitana. A cerimónia é laica, sem velório.

Paulo Gaio Lima, “um músico completo”, “generoso em toda a sua essência”, que os seus pares recordam como “um dos maiores” da música portuguesa das últimas décadas, morreu na segunda-feira, aos 60 anos, em Lisboa.

Foi um “intérprete de exceção e um músico completo”, disse a ministra da Cultura, Graça Fonseca, numa nota de pesar esta terça-feira emitida.

“Paulo Gaio Lima marcou a história da música portuguesa, sendo um dos mais prestigiados violoncelistas da sua geração, com reconhecimento nacional e internacional, num percurso profissional extraordinário, tanto enquanto intérprete, como professor”, afirmou Graça Fonseca.