Uma associação de produtores de cinema apelou esta sexta-feira à direção nacional da PSP para que colabore na produção da série televisiva “Causa Própria”, mas sem qualquer contrapartida de intervenção no guião, que apelidam de censura.

Em comunicado, a Produtores de Cinema Independente Associados (PCIA) repudiou esta sexta-feira uma “mal disfarçada tentativa de intromissão” da direção nacional da PSP na produção da série “Causa Própria”, de Edgar Medina e Rui Cardoso Martins, para a RTP.

A direção nacional da PSP arrogar-se o direito de interferir em obras de criação e ficção, indo até ao ponto de sugerir diálogos e personagens ‘alternativos’; não tem outra qualificação possível que não a de censura”, acusou a associação.

O semanário Expresso noticiou esta sexta-feira que a PSP anulou uma entrega de fardas à produtora Arquipélago Filmes, que seriam usadas na série “Causa Própria”, depois de o produtor e o argumentista terem recusado alterações ao argumento propostas pela direção nacional.

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Não compete à PSP pronunciar-se sobre o conteúdo dramático de uma série. É uma tentativa clara de censura e de condicionamento da criação artística”, afirmou Edgar Medina ao Expresso.

A associação Produtores de Cinema Independente Associados, da qual a Arquipélago Filmes faz parte, exige que a direção nacional da Polícia de Segurança Pública reverta a decisão, recordando que a PSP, como outras forças de segurança, “têm sido desde sempre uma preciosa colaboração na produção de cinema e audiovisual”.

Segundo a associação, é compreensível que a PSP “tenha conhecimento dos guiões das produções que solicitam a sua colaboração, para evitar a utilização da sua imagem em obras que incitem à violência ou façam apologia do racismo ou sejam de teor pornográfico”. Mas considera “absolutamente incompreensível” uma interferência de conteúdo.

“Como será a partir de agora possível abordar de forma realista problemas como a corrupção, o uso excessivo da força, a infiltração da extrema-direita ou a simples negligência, nas forças policiais?”, pergunta a associação. Para a associação, o recurso a equipamento ou fardamento na série “não conforme” à imagem oficial da PSP descredibiliza “totalmente o trabalho de produção cinematográfica e audiovisual”.

“Causa Própria” é uma série de ficção sobre justiça, terá oito episódios, inspirada nas crónicas “Levante-se o réu”, de Rui Cardoso Martins.