A Ligue 1 foi o único dos cinco principais campeonatos europeus a ser suspenso devido à pandemia, num acordo global que deixou também todas as equipas nas posições em que estavam e que colocava também por isso um outro interesse na nova temporada. E o que se dizia no lançamento? Que Lyon e Mónaco iriam ter campanhas melhores, o que se confirmou. Que o Rennes manteria posição entre os primeiros, o que aconteceu mesmo sem estar nos lugares da frente. Que o Marselha poderia dar mais um passo para diminuir o fosso para o primeiro lugar, o que esteve longe de suceder. Uma coisa era certa: o PSG iria ganhar o quarto título seguido e o sétimo nos últimos oito anos. Até que apareceu o Lille, quarto classificado na última época (em 28 jogos).

A formação do norte de França aproveitou a fase da Ligue 1 em que houve mais vencedores diferentes para voltar a ser campeã em 2010/11, quebrando um jejum de quase seis décadas e ganhando o terceiro Campeonato da história com nomes como Landreu, Adil Rami, Gueye, Cabaye, Moussa Sow, Gervinho e um tal de Eden Hazard, orientado por Rudo Garcia. Um plantel de luxo que, de forma natural, acabou por ir saindo para clubes de maior dimensão antes de descer na classificação nos anos seguintes para terceiro, sexto, terceiro, oitavo, quinto, 11.º e 17.º, a um lugar da descida. Em paralelo vieram também alguns problemas financeiros, que levaram o presidente Gérard Lopez a vender a participação a um fundo de investimentos luxemburguês.

Nas três últimas épocas, tudo mudou. O Lille voltou aos lugares cimeiros, andando sempre entre os quatro primeiros, e tornou-se um dos conjuntos europeus a faturar mais com as vendas, como aconteceu de novo esta época com quase 100 milhões entre as cedências de Osimhen ao Nápoles e de Gabriel ao Arsenal. Luís Campos, português que foi diretor desportivo da equipa, teve grande contribuição para essa nova marca do conjunto gaulês, que apostou forte em Jonathan David mas acabou mais uma vez com um lucro próximo dos 60 milhões entre compras e vendas. Mais do que isso, a equipa não perdeu competitividade. Tanta que, com Christophe Galtier no comando técnico da equipa, chegava à última jornada a depender de si para conquistar o título.

Depois do empate sem golos em casa frente ao Saint-Étienne que deixou o PSG apenas a um ponto e aumentou ainda mais a emoção em torno da última jornada, o Lille, que não poderia contar por castigo com José Fonte mas que teve Tiago Djaló e Renato Sanches como titulares, precisava apenas de uma vitória frente ao Angers para derrubar o projeto multimilionário do PSG, que defrontava à mesma hora o Brest. E as coisas começaram da melhor forma para o primeiro classificado, com Jonathan David a inaugurar o marcador ainda dentro do quarto de hora inicial, numa fase em que os parisienses continuavam empatados sem golos no seu encontro, depois de uma grande arrancada de Renato Sanches pelo corredor antes de fazer a assistência para o avançado (10′).

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As coisas corriam bem ao Lille e ficaram ainda melhor antes do intervalo, não obstante a vantagem do PSG com o Brest por um autogolo de Romain Faivre (37′), com Burak Yilmaz a aumentar a vantagem do Lille de grande penalidade no primeiro minuto de descontos da primeira parte que dava um conforto ainda maior ao primeiro classificado da Ligue 1, sendo que antes Neymar já tinha falhado também um penálti no mínimo caricato.

No segundo tempo, Kylian Mbappé ainda reforçou a vantagem do PSG frente ao Brest (71′) mas o Lille conseguia controlar por completo o encontro, terminando com uma vitória histórica com um golo sofrido já em período de descontos por Fulgini que reduziu a desvantagem mas que não impediu a equipa de chegar aos 83 pontos e quebrar a hegemonia do milionário PSG, que depois de uma época em que chegou pela primeira vez à final da Liga dos Campeões terminou a presente temporada “apenas” com uma Taça de França e uma Supertaça… após trocar o finallista da Champions (pelo Chelsea) Thomas Tuchel pelo argentino Mauricio Pochettino.