“Levanta a cabeça Kylian, amanhã vai ser o primeiro dia de uma nova jornada.”

Seferovic, a dor de cabeça (literalmente) de uma campeã mundial: a crónica do França-Suíça

Que o Campeonato da Europa é acompanhado em todo o Mundo, ninguém tinha dúvidas. Que poderia gerar tantas emoções, aí ninguém estaria certo. Mas gera, gera mesmo. E foi assim que, através das redes sociais, Pelé, melhor jogador brasileiro e para alguns o melhor jogador de futebol de sempre, deixou uma palavra de alento para Mbappé, o super herói que vestiu esta noite a capa de vilão no desempate por grandes penalidades que levou à surpreendente vitória da Suíça sobre uma França que se apresentava como a campeã mundial.

A época nem tinha corrido mal a nível pessoal para o avançado francês de 22 anos, que foi o melhor marcador da Ligue 1 com 27 golos em 31 jogos e o segundo goleador na Liga dos Campeões (oito golos em dez jogos). No entanto, e apesar das conquistas da Taça de França e da Supertaça, viu o PSG falhar os dois grandes objetivos da temporada: não conseguiu ser campeão pela quinta vez seguida (a primeira quando estava ainda ao serviço do Mónaco) e falhou também a final da Liga dos Campeões, sendo eliminado nas meias-finais pelo Manchester City. Só mesmo o Campeonato da Europa poderia salvar uma temporada menos conseguida mas foi ainda pior.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

As coisas não começaram da melhor forma, com um clima de tensão com Giroud que o próprio admitiu mais tarde em termos públicos depois das críticas do avançado do Chelsea à falta de bolas para combinar com os companheiros. “Conversámos sobre isso, discutimos. As pessoas falaram sobre isso, toda a gente sabe o que aconteceu. Fiquei um pouco afetado, mas não vamos dar muita importância a isso. Preferia que ele tivesse falado comigo pessoalmente. Mas isto não é um problema, são pequenas coisas. A equipa não precisa disto…”, referiu, ao mesmo tempo que rejeitou a hipótese de algum dia ter exigido jogadores para renovar pelo PSG.

Começaram os jogos, começaram os desafios. Da melhor forma até, com uma grande exibição frente à Alemanha com um golo anulado por fora de jogo e constantes transições que pareciam funcionar como cartão de visita para um Europeu à altura das expetativas. Não seria bem assim: Mbappé passou ao lado da partida com a Hungria, ganhou uma grande penalidade no jogo frente a Portugal (muito duvidoso, por sinal), fez ainda uma assistência para o primeiro golo de Benzema mas acabou por falhar a grande penalidade decisiva no desempate que afastou a França dos quartos, terminando como o jogador com mais remates sem golos na prova (14).

“Não estamos a descobrir agora que Kylian Mbappé tem um ego enorme, como a maioria dos jogadores de futebol, e ainda mais os avançados, mas mesmo assim há muitas coisas que me incomodam. Penso que o Didier Deschamps já não consegue lidar com isto e é problemático. É até espantoso que ele deixe o Kylian Mbappé fazer tantas coisas e dispersar-se. O seu ego é inconcebível. Tem sido problemático desde o início do Euro 2020. Esperamos muito mais de Kylian Mbappé. Toda a gente pensa que ele é um dos melhores jogadores da Europa mas se tu o colocares imediatamente na categoria principal, tu não te podes contentar com um passe para Benzema e um duelo fisicamente ganho e que dá o empate do Griezmann contra a Hungria”, tinha comentado antes dos oitavos o antigo internacional francês Jerôme Rothen, agora comentador da RMC.

“Dá para imaginar a tristeza que podemos sentir. Estávamos no limite das nossas forças, tínhamos feito o que era preciso e estivemos a vencer 3-1 mas fomos superados um pouco pela emoção. Provavelmente não merecíamos mais mas assumo a minha responsabilidade. Quando se vence, o crédito vai para os jogadores, quando se perde a culpa é do treinador. Estou triste como todos mas é preciso aceitar. O Kylian [Mbappé] está profundamente triste como todos os jogadores mas ninguém pode reclamar quando foi ele a assumir a responsabilidade pelo quinto penálti”, comentou no final do encontro Didier Deschamps, selecionador da França.