Os lucros das empresas do PSI20 caíram 40% em 2020, atingindo 1.829 milhões de euros, face aos 3.053 milhões de euros registados em 2019, adiantou esta sexta-feira a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

No seu relatório sobre os Mercados de Valores Mobiliários, referente a 2020, o regulador indicou que, globalmente, na Euronext, os resultados das empresas foram de 1.927 milhões de euros, uma redução de 38% em relação aos 3.131 milhões de euros registados em 2019, tendo as empresas não integrantes do PSI20 registado, por sua vez, um aumento de cerca de 25%, para 97 milhões de euros.

“A rentabilidade do capital próprio das empresas cotadas na Euronext Lisbon seguiu a tendência de descida verificada em 2019, espelhando também os efeitos da pandemia”, concluiu a CMVM.

De acordo com o regulador, “em contraste com 2019, a descida foi mais acentuada nas empresas integrantes do PSI20 (-0,032 pontos percentuais) do que nas não integrantes neste índice (-0,021 p.p.)”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Além disso, no ano passado, segundo a CMVM, “o montante dos lucros retidos diminuiu quase 93% para as empresas integrantes do PSI20, o que contrasta com o forte crescimento deste montante nas empresas não cotadas nesse índice”, o que, para o regulador, “parece estar em linha com o crescimento da preferência pela opção de autofinanciamento para 2021”.

A pandemia de Covid-19 veio afetar negativamente a saúde financeira das empresas em Portugal”, referiu a CMVM, recordando que em 2019 se verificou “um crescimento continuado da rentabilidade das empresas portuguesas e uma melhoria da sua capacidade em cumprirem com os seus compromissos de dívida, mas que, por influência do contexto pandémico, se inverteu sobremaneira em 2020”.

“Por outras palavras, com a exceção do primeiro trimestre de 2020, as empresas não parecem ter tido dificuldades de financiamento por causa das moratórias, que automaticamente estenderam o vencimento dos empréstimos, bem como das garantias públicas”, explicou a CMVM.

“No entanto, estas duas medidas não se estenderam aos empréstimos obrigacionistas, o que se traduziu numa desvantagem destes instrumentos face aos empréstimos bancários e podem ter resultado num maior afastamento das empresas na escolha do mercado de capitais como opção para o financiamento dos seus investimentos e atividades”, lê-se no relatório.

No mesmo documento, a CMVM referiu que, “no plano nacional e no mercado acionista, o PSI 20 fechou o ano com uma desvalorização de 6,1%, mais pronunciada do que a do principal índice de referência da zona euro (STOXX Europe 600), que caiu 4,0%”. Paralelamente, “no mercado de dívida, as ‘yields’ dos títulos de dívida pública portuguesa mantiveram a trajetória descendente já evidenciada no ano anterior, refletindo um período muito alargado de taxas de juro de curto prazo muito baixas na zona euro”, explicou o regulador.

Segundo a CMVM, na plataforma MTS, onde a dívida pública nacional é negociada, “os valores transacionados foram de 94,8 mil milhões de euros, um decréscimo de 28,7% face ao período homólogo”.

No ano passado, detalhou a CMVM, “a emissão de dívida direta pelo Estado, através de Obrigações do Tesouro de taxa fixa, aumentou 52,5% relativamente ao montante colocado no ano transato, para 27,75 mil milhões de euros”, e, “contrariamente ao ocorrido em anos anteriores, não houve qualquer emissão de taxa variável”.

No que diz respeito à gestão de ativos, “o valor administrado pela gestão coletiva aumentou 5,9% para 25,5 mil milhões, devido principalmente ao crescimento dos organismos de investimento coletivo em valores mobiliários (OICVM)”, sendo que na gestão individual diminuiu 22% em relação a 2019, para 48,8 mil milhões de euros. A CMVM realçou ainda “a procura crescente de organismos de investimento de países terceiros, tendo o valor colocado pelos OICVM estrangeiros aumentado 4,5% para 4,8 mil milhões de euros”.

Por fim, o regulador deu conta do comportamento “dos fundos de investimento sustentável (ambientais, sociais e de governo societário, ESG na sigla inglesa), cujo montante sob gestão aumentou 31 milhões face a 2019”.

Segundo a CMVM, em dezembro do ano passado “estavam registados em Portugal cinco fundos ESG que, em conjunto, administravam 303 milhões de euros subscritos por 20.439 participantes, maioritariamente pessoas singulares”.