A cidade romanda de Balsa, situada na Luz de Tavira, tinha umas dimensões menores do que se pensava, mas falta ainda estabelecer o seu limite oriental, segundo as conclusões provisórias das escavações arqueológicas apresentadas esta quarta-feira.

Os dados provisórios da campanha de escavações de 2021 foram apresentados na biblioteca municipal Álvaro de Campos, em Tavira, pela equipa da Universidade do Algarve que coordena o projeto e os trabalhos de campo, e arqueólogo João Pedro Bernardes apontou estes dados como dos mais relevantes obtidos nas escavações, que se iniciaram em 2019 e vão prosseguir, pelo menos, até ao próximo ano.

“Desde logo, é uma cidade mais pequena, é uma cidade que teve um período de ocupação mais longo e também que as estruturas maiores da cidade mostram que era de facto uma cidade esplendorosa, sobretudo no século I e II”, afirmou o investigador da UAlg, que teve Universidade de Cádis (Espanha) como parceira neste projeto, financiado pela União Europeia.

João Pedro Bernardes sublinhou que, a partir do século III, Balsa “era uma cidade moribunda, industrial, muito ligada aos preparados de peixe para exportação, onde se destaca uma elite comercial que vivia em duas ou três casas”.

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A pandemia alterou o plano original e os trabalhos, que contam também com a colaboração da Direção Regional de Cultura do Algarve (DRCAlg) e do município de Tavira, e falta ainda “perceber quais são as origens da cidade”, mas para isso é necessário que os donos dos terrenos onde antes Balsa se situava autorizem as equipas a trabalhar nas suas propriedades.

O outro objetivo é percebermos até onde a cidade ia para o lado oriental, em direção a Tavira, porque sabemos que havia uma necrópole, mas essa necrópole não está localizada hoje em dia e só a conseguiremos localizar se os proprietários da área oriental, para além dos dois que já nos deram autorização, nos permitirem fazer, pelo menos, as tais prospeções não invasivas com recurso ao georradar”, argumentou.

A mesma fonte apontou a descoberta de um tanque utilizado para produzir os preparados de peixe e de restos de ânforas onde eram transportados, assim como pedras de edifícios públicos, vestígios que mostram como, a partir dos finais do século II e inícios do século III, esses materiais de construção foram reaproveitados para realizar outras edificações.

João Pedro Bernardes afastou o cenário inicial levantado pelos investigadores de que existia uma grande estrutura portuária em Balsa, porque os vestígios encontrados nos terrenos, localizados junto à ria Formosa, não o comprovaram.

“Uma das grandes expectativas que os arqueólogos tinham era haver uma grande estrutura portuária de Balsa e isso está completamente esclarecido, a par com limites ocidentais da cidade e, de uma certa forma, também com as próprias dimensões da cidade, que era muito mais pequena. E essas estruturas portuárias grandiosas provavelmente não se confirmam”, disse.

É assim necessário pensar na “existência de um porto mais perto da colina”, onde hoje estão casas dos proprietários dos terrenos, “e muito mais modesto do que se supunha“.

A reutilização de grandes pedras de edifícios públicos noutras estruturas mais tardias leva também os investigadores a considerar que a destruição da cidade e dos vestígios arqueológicos não se deveu apenas à agricultura do século XX e deu-se ao longo de “várias gerações e vários séculos”.

“Temos o problema da datação, que só se consegue ultrapassar com a continuidade dos trabalhos de escavação”, antecipou o investigador, que espera regressar ao terreno já no próximo ano, o último do projeto, para concluir o objetivo inicial proposto, que era “perceber as dimensões da cidade e onde se localizam os seus vestígios”.