A biografia do coronel médico Augusto Sousa Rosa (1871-1939) destaca o papel do militar na criação de um hospital durante a Grande Guerra e como autarca do Porto, onde promoveu “melhoramentos significativos” sobretudo a nível sanitário.

O livro foi escrito pelo neto, Rui Nuno Sousa Rosa, 55 anos, que ao longo das últimas três décadas consultou vários documentos e arquivos referentes ao médico militar, desde a permanência em Moçambique, no princípio do século XX, à participação na Grande Guerra e depois como autarca da cidade do Porto.

“O meu avô apesar do papel que teve durante a I Guerra Mundial (1914-1918) e como presidente da Câmara do Porto foi demitido de autarca pela União Nacional e soube-o pelos jornais em 1933. Ao longo dos anos ninguém falava dele e eu sentia uma certa mágoa pelo facto de nunca lhe terem conferido o devido lugar que teve, sobretudo, na história da cidade do Porto”, disse à Lusa Rui Sousa Rosa.

Entre outros aspetos, o coronel médico Augusto Sousa Rosa, que ocupou o cargo de presidente da Câmara Municipal do Porto entre 1926 e 1933, impulsionou na cidade “um organismo que acaba por ser o embrião do INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica)“.

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O organismo chamava-se Serviço de Assistência Médica Domiciliária de Emergência e funcionava de forma permanente através do envio de ambulâncias junto das pessoas mais carenciadas da cidade do Porto.

De acordo com a biografia, o coronel médico Augusto Sousa Rosa “preocupava-se” com as pessoas com poucos recursos tendo impulsionado medidas sanitárias em virtude das “marcas” vividas como médico na Grande Guerra. Melhorou o abastecimento de água potável, nomeadamente através de fontes públicas, assim como aumentou a rede de esgotos da cidade.

Como presidente da Câmara Municipal do Porto, incrementou a pavimentação das artérias principais da cidade porque “o pó das ruas provocava muitas doenças pulmonares sobretudo entre os mais novos, sendo que a mortalidade infantil era muito elevada” nessa altura, refere a biografia.

Como autarca delimitou também o Parque da Cidade, no local onde se encontra atualmente, e aprovou, entre outras obras públicas, o Jardim de Arca d’Água, na zona oriental da cidade, e as avenidas do Brasil e Montevideu, na Foz do Douro.

“Na verdade, a famosa Pérgula da Foz (avenida do Brasil) foi desenhada pela minha avó à imagem das obras que o meu avô viu em França, durante a missão que cumpriu na Grande Guerra como médico militar”, disse Rui Sousa Rosa sobre um dos monumentos de estilo neoclássico mais emblemáticos da cidade do Porto.

O livro, que tem como base documentos do Arquivo Histórico Militar, destaca igualmente o papel de Sousa Rosa como médico militar em Moçambique durante a altura em que contactou com feridos e refugiados da Segunda Guerra dos Boers (1899-1902) e a partir de 1917 na Grande Guerra, em França.

Augusto Sousa Rosa só regressa a Portugal em maio de 1919, “por falta de transporte”, e segundo os diários da Ambulância nº6 esteve em três pontos diferentes de apoio aos feridos da frente de combate e a doentes afetados pela pandemia  conhecida como “gripe espanhola” e que teve origem no Estado norte-americano do Kansas.

Na Grande Guerra, cada divisão do Exército Português em França dispunha de uma ambulância por cada brigada avançada, que era guarnecida de oficiais, sargentos e praças e estava ligada a um hospital de sangue. O livro relata também os detalhes sobre o envio de enfermeiras portuguesas para os hospitais onde se encontravam os efetivos do Corpo Expedicionário Português.

O livro “Augusto Sousa Rosa – Uma Vida, Um Propósito”, de Rui Nuno Sousa Rosa, vai ser apresentado quinta-feira, na Câmara Municipal do Porto, e conta com a apresentação do historiador Hélder Pacheco.