O recente escândalo do futebol francês, que envolve duas jogadoras do PSG. Uma das atletas terá orquestrado um plano para que uma colega fosse agredida e, assim, conseguir o seu lugar na equipa. A história, ainda que no segundo caso nada tenha sido provado, como que relembra o ano de 1994, na patinagem artística norte-americana…
Começou na patinagem no gelo aos três anos, foi figura do desporto norte-americano e acabou por ser banida de competir nos EUA para a vida. Esta é a versão muito resumida dos primeiros 24 anos de vida de Tonya Harding, atualmente com 50, e cuja vida deu literalmente um filme, estrelado pela atriz Margot Robbie, em 2017. Mas a história, essa, é bem mais complexa.
Aos 21 anos, Tonya ganhou o seu primeiro título norte-americano de patinagem, em 1991, conseguindo inclusivamente tornar-se a primeira patinadora do seu país a conseguir um tripleaxel (três rotações no ar) em competição. Tonya havia deixado o high school (secundário) logo no segundo ano para seguir o seu sonho desportivo, que corria de feição. Em 1992, conseguiu a medalha de bronze nos mundiais e acabou em 4.º lugar nos Jogos Olímpicos de Inverno de Albertville, em França.
Casada entre os 20 e os 23 anos com Jeff Gillooly, Tonya Harding tornou-se uma “vilã” do desporto dos EUA quando, em janeiro de 1994, o ex-marido fez parte de um plano para lesionar Nancy Kerrigan, colega e adversária de Tonya. Estavam a acontecer os campeonatos dos EUA de patinagem artística, que serviam também de provas para os Jogos Olímpicos de Lillehammer, na Noruega. Para a história, ficam as imagens de Kerrigan, prata nos Jogos de 1992, em completo desespero, depois de ser atacada por um homem com uma barra de ferro, apontado diretamente ao joelho da atleta.
O ataque ocorreu a 6 de janeiro de 1994, um dia antes da disputa no ringue de patinagem, em Detroit. O atacante acabou por se entregar ao FBI, sabendo-se depois que além do ex-marido de Tonya Harding, também o seu guarda-costas estava envolvido no plano, que envolveu uma bastão policial de mais de 50 centímetros. O objetivo era que Nancy Kerrigan não conseguisse defender o título de 1993 e, acima de tudo, evitar que a patinadora não chegasse as Jogos Olímpicos de 1994. Porém, ambas as atletas foram convocados para os Jogos. Kerrigan ficou lesionada no joelho e na coxa, mas acabou por chegar à Noruega, onde conseguiu a medalha de prata. Tonya acabou em oitavo, numa prestação em que acabou a chorar.
Foi uma espécie de clímax da história mas esta acabou por girar sobretudo à volta do possível envolvimento de Tonya no incidente ou, até, quão grave e profunda seria a sua ligação.
Logo após o incidente e após algumas inconsistências e mudanças no depoimento, Tonya não admitiu participar no plano, mas sim ter escondido o facto de ter descoberto que este vinha de pessoas próximas de si. “Espero que todos compreendam. Estou a admitir coisas sobre alguém que gosto muito. Sei agora que o Jeff está envolvido. Lamento muito”, terá dito no depoimento, de acordo com o Seattle Times na altura. Depois de ter saído a notícia de que o ex-marido a tinha implicado no incidente, Tonya afirmou em conferência de imprensa lamentar “a falha de reportar detalhes”, mas que a situação não representava um “crime”.
A história foi destaque em muitas de grandes publicações, como a Sports Illustrated, Newsweek e TIME, tendo um dos pontos sido um treino pré Jogos Olímpicos de Inverno. em fevereiro de 1994. Ambas partilharam o ringue e, segundo o Washington Post na altura, mais de 700 elementos da comunicação social estavam presentes. Como statement, Nancy Kerrigan utilizou a mesma roupa que tinha quando foi agredida e gravada pelas câmaras in loco a gritar “porquê? porquê? porquê?”.
Com o “porquê” a ser claro, fica para a história a falta de conclusões legais, tirando o que Tonya admitiu realmente. Eternizada em canções e filmes, com uma curta carreira de boxeur ou participante em “Keeping Up With the Kardashians”, a ex-atleta, logo banida da competição em 1994, fica para sempre no imaginário dos norte-americanos e do desporto mundial, como a já referida vilã, mas também por sempre negar ser responsável a priori pelo ataque.