“Os resíduos de uns são os recursos energéticos de outros”, refere Jorge Esteves, da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), no decorrer do primeiro painel dedicado à descarbonização e aos preços da energia, neste segundo dia da Portugal Smart Cities Summit, que decorre até amanhã, 18 de novembro, em Lisboa, na FIL.
O Diretor de Infraestruturas e Redes reforçou a importância de cumprir as quatro prioridades da Agência Internacional da Energia para responder à emergência climática até 2030. É preciso assegurar uma eletrificação tão limpa quanto possível, aproveitar todo o potencial da eficiência energética, impedir fugas de metano na utilização de combustíveis fósseis e impulsionar a inovação em energia limpa.
Neste sentido, é urgente valorizar mais a eficiência dos equipamentos e maximizar o autoconsumo, sobretudo nos períodos de maior consumo, como foi o caso do último inverno em que se registou o maior consumo de gás dos últimos 10 anos.
É preciso acompanhar a transformação do mix de produção de eletricidade, tendo em conta as diferentes fontes e também o impacto do fecho das centrais termoelétricas.
Jorge Mendonça e Costa, da Associação Portuguesa dos Industriais Grandes Consumidores de Energia Elétrica (APIGCEE), deu a conhecer um projeto inovador na produção de cimentos que visa eliminar o consumo de combustíveis fósseis. Está ser implementado na cimenteira Secil e representa um investimento na ordem dos 80 milhões de euros.
O segundo painel, dedicado à transição energética e sustentabilidade, contou com a participação, por vídeo chamada, de Nuno Brito Jorge, da GoParity. A plataforma portuguesa que liga empresas a projetos com impacto sustentável publicou, recentemente, um manifesto com os 10 passos para assegurar uma transição energética democrática e justa.
É preciso incentivar os sistemas de autoconsumo e Nuno Jorge salienta que “é possível fomentar o desenvolvimento local com pequenas instalações fotovoltaicas”.
Na Azambuja, existem dois grandes projetos fotovoltaicos em construção, “que se encontram parados, à espera que o Governo defina novas regras para os concretizar”, explica o Presidente da Câmara Municipal da Azambuja, aludindo ao episódio de caça intensiva da Quinta da Torrebela. Silvino Lúcio salienta, ainda, a criação do roteiro para a neutralidade carbónica no município e a necessidade de promover a mobilidade elétrica num concelho que tem uma das áreas de maior intensidade de tráfego do país. A zona industrial e parque logístico da Azambuja representa a passagem de 10 mil veículos pesados, diariamente, correspondendo a 77% das emissões de carbono no concelho.
Antes da pausa para almoço, assistimos à conferência “Ciência e I&D: Delivering Transformation – The New European Bauhaus”, com intervenção online de Elisa Ferreira, Comissária Europeia da Política de Coesão e Reformas.
Dado o destaque aos fundos de coesão para financiamento das iniciativas Bauhaus, Elisa Ferreira diz que esta é uma oportunidade “para dar às pessoas a visão de como podem melhorar a sua forma de vida nas cidades, trazer a natureza para as cidades, escolhendo soluções naturais sobre as artificiais.”
No quadro da sustentabilidade ambiental, o combate ao plástico nos oceanos deve ser prioritário, numa altura em que as ilhas de lixo no mar já representam “um espaço equivalente a 17 vezes a área de Portugal”, sublinha Carlos Salema, Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, na sua intervenção.
Houve ainda tempo para a apresentação online de Paul Dujardin. O Historiador de Arte abordou os movimentos e raízes históricas da Bauhaus e do Avant Garde europeu, antes da participação de Miguel Araújo, investigador da Universidade de Évora, que, na sua intervenção online, apontou algumas aplicações de tecnologias de smart cities. Da gestão inteligente do tráfego e da iluminação pública até às smart houses que otimizam o uso da energia, as possibilidades são imensas no caminho da convergência entre pessoas e tecnologia.
Ao ritmo das cidades inteligentes, a Portugal Smart Cities Summit é a cimeira que não pode perder.
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