Morreu esta quarta-feira o médico legista José Eduardo Pinto da Costa. Reconhecido médico legista e professor, um dos irmãos do presidente do FC Porto. Natural de Cedofeita, tinha 87 anos e morre cerca de um mês depois da irmã Maria Alice. O homem que queria ser lembrado como “uma pessoa vulgar que se preocupou em ser feliz” e que, quando questionado pelos seus hobbies, respondia com a felicidade, lembrando que pessoas otimistas vivem em média mais sete anos e meio.

O Diário de Notícias avança que o funeral de José Eduardo Pinto da Costa realiza-se esta quinta-feira, às 17 horas, em Cedofeita.

Com uma carreira no ensino, dizia que o que o mantinha vivo era o gosto por aprender que se sobrepunha ao gosto por ensinar. Sobre a família, recordava José Eduardo que o facto de ser o irmão mais velho era sinónimo de que “determinadas tolices não lhe eram consentidas” já que tinha a “responsabilidade pedagógica de ser exemplo para os mais novos”.

Em cerca de 30 mil autópsias só por uma vez se recusou: era uma aluna

Ao longo da carreira, recordava José Eduardo Pinto da Costa em entrevistas que apenas por uma vez se recusou a realizar uma autópsia. Em causa, uma aluna que tinha morrido num acidente de viação. “Recusei-me a fazer a autópsia a uma antiga aluna brilhante que tinha morrido de desastre. Nem a vi, sequer. Quis ficar com a imagem dela consoante a tinha em vida, nunca a vi morta”, disse.

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Sobre a dificuldade de autopsiar corpos, Pinto da Costa partilhou que via todos os corpos que tinha de autopsiar como “amigos”, mas reconhecia dificuldade em ter que fazê-lo a alguém “emocionalmente muito próximo”, como aconteceu com a aluna.

Um dos episódios que mais vezes recordava era o de um susto que um cadáver lhe tinha dado. Ao passar ao lado do corpo o braço do homem tocou-lhe, mas isso porque estava fora da câmara frigorífica e um gato que ali estava empurrou o braço do morto, que acabou por lhe bater. Ainda assim, dizia que “rapidamente se tinha recomposto” do momento “grotesco”.

Até aos últimos dias, teve a companhia de ‘Ginja‘, um urso de pano que a avó materna lhe deu quando fez um ano. Numa entrevista à Rádio Portuense, em 2019, José Eduardo Pinto da Costa contou que “ninguém sabia da vida como o ginja”, que estava em todos os momentos. O médico legista contou que ainda o mantinha “sentado no quarto de dormir, conservado com menos um ano” que o próprio. O nome do urso veio da dificuldade em dizer a palavra “ursinho” — com um ano de idade, só conseguia dizer “ginja”. A dado momento, perante o perigo de ver a casa de férias assaltada, apressou-se a entrar no carro e conduzir até casa para resgatar o urso de pano que a avó lhe havia oferecido.

Académico de referência com ativismo social

Na área da violência doméstica, Pinto da Costa foi um dos membros fundadores da APAV e defendia que condenados por violência doméstica reincidentes não deviam ter penas suspensas, mas  deviam, antes, ser imediatamente sujeitos a prisão preventiva.

Irmão do presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa — atualmente com 83 anos —, de José Eduardo, de Maria Alice e Eduardo Honório (já falecidos), António Manuel e Maria Eduardo. O médico legista era o filho mais velho de José Alexandrino Teixeira da Costa e Maria Elisa Bessa Lima de Amorim Pinto.

Numa nota biográfica da Universidade do Porto lê-se que o reconhecido médico legista se inscreveu na Faculdade de Medicina daquela universidade no ano de 1953-54 e que terminou a licenciatura em Medicina seis anos mais tarde, em 1960. A licenciatura foi concluída com a defesa da tese “Morte por Acção do Óxido de Carbono”, que obteve a classificação de 18 valores e que acabou citada na revista da Interpol. A formação em Medicina foi concluída com 16 valores.

A partir desse momento, José Eduardo prosseguiu uma carreira académica de relevo e que se traduziu na nomeação de assistente de Medicina Legal e Toxicologia Forense logo no ano seguinte à conclusão da licenciatura. O doutoramento em Ciências Médicas, com prova complementar em Psiquiatria, foi concluído em 1973. Poucos anos mais tarde (1979), chegou a Professor Associado e, em 1996, foi concedido o título de Professor Catedrático da Faculdade de Medicina do Porto.

Em 1976, um ano depois de ser nomeado subdiretor do Instituto de Medicina Legal do Porto, passa a dirigir a instituição. Ainda de acordo com a mesma nota biográfica, nesse percurso ligado à Medicina Legal — e que o terá levado a realizar mais de 30 mil autópsias —, acaba por tornar-se o primeiro português a ocupar a vice-presidência da Academia Internacional de Medicina Legal e Medicina Social (lugar que ocupa entre os anos de 1985 e 1991).

Nas redes sociais, o FC Porto assinalou a morte do “irmão do presidente Jorge Nuno Pinto da Costa”. E, em comunicado, refere que, “num momento tão difícil, o FC Porto solidariza-se com os familiares e amigos de José Eduardo Pinto da Costa e endereça-lhes sentidas condolências”. Entre algumas notas pessoais, o comunicado que o médico-legista “era adepto do FC Porto, tendo sido pela mão deste irmão que Jorge Nuno Pinto da Costa assistiu pela primeira vez a um jogo do clube, em 1945, frente ao Braga, no velho Campo da Constituição”.