*Nota prévia: se ainda não viu o primeiro episódio de “And Just Like That”, o artigo abaixo revela uma parte importante do enredo da nova série (um “spoiler“).

A Peloton, uma empresa que vende equipamentos de fitness conectados à internet e serviços de subscrição por vídeo para os utilizadores fazerem exercício físico com um instrutor à distância, está a enfrentar uma crise de imagem – que levou as ações da empresa a afundarem 9% esta semana.

“And Just Like That”: um regresso com graça e elegância ao Sexo e à Cidade

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A aparição da empresa no primeiro episódio de “And Just Like That”, o spin-off da famosa série “Sexo e a Cidade”, transformou-se num pesadelo para a empresa – que não sabia que uma personagem central iria morrer momentos depois de usar uma das suas máquinas.

Foi depois de usar este serviço da empresa que morreu a personagem interpretada por Chris Noth – o Mr. Big. Aquilo que seria um product placement (quando uma marca paga ou aceitar ter um produto num filme ou série para ganhar publicidade) bom para a empresa, transformou-se numa crise de comunicação, como referem alguns órgão de comunicação social como o Engadget.

“Mr. Big” morreu por causa do “estilo de vida extravagante”

Para se defender, a empresa sublinhou que a personagem morreu não por ter usado os produtos e serviços da Peloton mas, sim, foi vítima do seu estilo de vida.

O Mr. Big viveu o que muitos chamariam de um estilo de vida extravagante – incluindo cocktails, charutos e bifes grandes“, referiu Suzanne Steinbaum, uma cardiologista que trabalha para a Peloton, em referência – recorde-se – uma personagem de ficção.

Ações da Peloton derraparam mais de 9% ao longo da última semana, pressionadas pela estreia da nova série de “Sexo e a Cidade”. Fonte: Google Finance

A médica foi mais longe e relembrou que o namorado de Carrie, interpretada por Sarah Jessica Parker, “estava em sério risco “pois teve um problema cardíaco anterior na 6ª temporada [de “Sexo e a Cidade”]”.

Ou seja, é certo que, no enredo, Mr. Big teve o ataque cardíaco após um exercício intenso ajudado por uma treinadora à distância (interpretada por Jess King, uma instrutora que trabalha na vida real com a empresa). Mas, para a médica que colabora com a Peloton, a sua morte iria acontecer de qualquer forma.

“Mais de 80% de todas as mortes relacionadas ao coração são evitáveis ​​por meio de alterações no estilo de vida, dieta e exercícios”, disse Steinbaum.

Peloton não sabia como as suas máquinas iam ser usadas na série

A Peloton assumiu ao BuzzfeedNews que autorizou que King participasse na série. No entanto, a empresa não soube antecipadamente o enredo do episódio, e, por isso, não sabia que a sua presença seria crucial para um pormenor importante que iria deixar entristecer vários fãs. Sabendo, não teria aceitado este product placement, garante.

No comunicado que enviou a alguns órgãos de comunicação social após o episódio, a empresa chega a afirmar ainda que a personagem fictícia não tinha um monitor que deteta os batimentos cardíacos — que vende separadamente.

Contudo, mesmo este desfecho e com a queda do valor da ações da empresa em cerca de 9% após a transmissão do episódio, o número de notícias sobre a mesma levou inúmeras pessoas a ficarem a conhecer a Peloton e o seu produto.

Embora toda a comunicação seja supostamente algo bom, é difícil ignorar a mudança da maré na perceção pública da Peloton”, diz a empresa.

Fundada em 2019, a Peloton permite que os clientes paguem uma subscrição mensal para que, com as bicicletas e passadeiras de exercício que vende, possam fazer exercício acompanhado à distância. Com a pandemia da Covid-19 teve um crescimento significativo de utilizadores.  Porém, já antes deste episódio a empresa enfrentava quedas de mais de 50% do valor da ações, como conta a CNBC.

Morte de uma criança numa passadeira. Este não foi o primeiro problema de imagem que a Peloton teve

Este está a ser um ano difícil para a empresa. Em maio deste ano, após uma criança de seis anos ter morrido num acidente com uma passadeira da Peloton, a empresa retirou um equipamento do mercado.

A Peloton pediu uma recolha geral de duas esteiras automáticas depois departamento dos EUA para proteção do consumidor — com quem esteve em litígio — ter revelado que recebeu “72 queixas de utilizadores adultos, crianças, animais de estimação e / ou objetos que foram puxados para debaixo da esteira, incluindo 29 relatos de lesões em crianças, como queimaduras de segundo e terceiro grau, ossos partidos e lacerações”.

Em dezembro de 2019, pouco tempo depois de a empresa ter entrado no mercado, a Peloton enfrentou também uma polémica relativamente ao primeiro anúncio de natal que fez. Neste, como conta a Vulture, um homem oferece à mulher uma subscrição e equipamento da empresa, o que foi considerado sexista por muitas pessoas que a criticaram nas redes sociais.