Muda o executivo camarário, muda a cor partidária nas empresas municipais. O executivo de Carlos Moedas vai nomear para a administração da Gebalis — empresa que gere os bairros municipais em Lisboa — uma maioria de militantes do PSD, que substituem uma maioria de militantes do PS. Na proposta que será votada esta quarta-feira de manhã em reunião de câmara, a vereadora Filipa Roseta (do PSD, que tem o pelouro da habitação) e o vice-presidente Anacoreta Correia (do CDS, que tem o pelouro das Finanças) apresentaram a proposta para nomear como presidente da Gebalis um antigo conselheiro nacional do PSD, Fernando Angleu, e como vogal executivo um antigo candidato do PSD à Assembleia Municipal de Lisboa, Gonçalo Sampaio.
O terceiro membro da administração da Gebalis, Ana Paula Cunha, não tem qualquer ligação partidária conhecida e é técnica da autarquia. A proposta não consta da ordem de trabalhos, mas entrará “extra-agenda” e o executivo votará esta quarta-feira de manhã os nomes em sessão de câmara. A proposta deverá ser aprovada já que a vereadora do PS Inês Drummond confirmou ao Observador que, “apesar de não negociar nenhum lugar”, os socialistas entendem que esta é uma “prerrogativa do presidente” e por isso devem abster-se, como é regra em todas as votações similares.
O cartão partidário também não é um problema para o PS e ao longo dos últimos da empresa tem sido associada a várias práticas de “jobs for the boys“. A prática existe há muitos anos: são famosos os tempos (da gestão de Santana Lopes) em que a empresa municipal chegou a contratar 27 militantes do PSD da secção A de António Preto. O assunto foi, aliás, relatado no livro “Predadores”, de Vítor Matos. Mas, nos últimos anos, tem sido o PS a ter o poder e a ser associado a essas práticas. Não é difícil encontrar ligações ao PS em várias estruturas municipais, como é o caso da Gebalis.
As substituições são praticamente homem a homem. Saem dois nomes ligados ao Partido Socialista e entram dois ligados ao PSD. O novo presidente do conselho de administração, Fernando Angleu é um militante de longa data e conhecedor da Câmara Municipal de Lisboa – tendo sido um dos homens do núcleo duro de Santana Lopes. Foi até com a candidatura de Santana à liderança do PSD em 2018 que voltou a assumir um papel mais ativo nos últimos anos.
Fernando Angleu é técnico superior de Línguas e Literaturas da Câmara Municipal de Lisboa, embora tenha pedido várias licenças sem vencimento – a última publicada em 2019 –, mas desempenhou também vários cargos de confiança política com Santana Lopes, quando foi autarca em Lisboa.
Na sequência das eleições diretas de 2018, Fernando Angleu foi eleito conselheiro nacional – numa lista de consenso feita entre Rui Rio e Santana Lopes –, tendo feito parte dos nomes que votaram o “impeachment” (falhado) de Rui Rio depois de desafiado por Luís Montenegro. Depois das eleições internas, foi apontado como um dos nomes que até podia sair com Santana Lopes para a formação do partido Aliança, mas acabou por continuar ligado aos sociais-democratas, onde integrava já o conselho de administração do Instituto Sá Carneiro – o think tank do PSD –, que partilhava com Gonçalo Sampaio. Se entra PSD, teve de sair PS.
De saída desde que Moedas chegou ao executivo está assim Pedro Pinto de Jesus – que em 2016 substituiu o agora presidente do PS/Lisboa, Sérgio Cintra. Ou seja: um dirigente do PS substituiu outro dirigente do PS. Pedro Pinto de Jesus foi adjunto de Duarte Cordeiro antes de assumir a função de presidente da empresa municipal de habitação mas já no passado tinha sido adjunto de António Costa na presidência da autarquia da capital. Politicamente, Pedro Pinto Jesus foi membro da assembleia de freguesia das Avenidas Novas e deputado na Assembleia Municipal entre 2005 e 2009.
O novo vogal do conselho de administração, Gonçalo Sampaio, também já teve cargos de confiança política entre os sociais-democratas mas nos últimos aos esteve mais ligado à atividade privada, como advogado – sendo o presidente para Portugal da Associação Internacional da Propriedade Intelectual –, cargo que ocupa desde 2015 depois de quatro anos como adjunto do Ministro da Defesa do governo de Passos Coelho, José Pedro Aguiar Branco. Em 2017, foi candidato à Assembleia Municipal de Lisboa.
Gonçalo Sampaio entra para outro lugar remunerado no conselho de administração, que era ocupado por Maria Helena Correia, que estava na Gebalis desde 2007 — ou seja, desde a entrada de António Costa para a presidência da Câmara Municipal de Lisboa. Licenciada em sociologia, Maria Helena Correia é t´écnica superior na Câmara de Lisboa, tendo desenvolvido trabalho em programas relacionados com os bairros municipais da cidade.
Do lugar de vogal não executivo sai Mário Patrício, que deixou em outubro deste ano a presidência da Junta de Freguesia do Parque das Nações, cargo que ocupou durante um mandato. Ligado ao setor da construção civil, Mário Patrício soma passagens pela Câmara de Lisboa como assessor da vereação e da presidência entre 2005 e 2007 e a partir de 2013 como assessor do vereador do desporto.
O cargo deixado vago pelo socialista Mário Patrício será ocupado por Ana Paula Cunha, arquiteta e funcionária da Câmara Municipal de Lisboa, para onde entrou em 1997, tendo ocupado diversos cargos de chefia intermédia ligados ao urbanismo, aos projetos e às obras na cidade de Lisboa.
Carlos Moedas admitiu que podia mudar “gestores terríveis”
Carlos Moedas, quando ainda estava na condição de candidato à câmara municipal de Lisboa, avisou que podia vir a mudar os gestores em entrevista ao Diário de Notícias: “Obviamente, porque aquilo que se está a passar, as queixas que eu oiço todos os dias, [os gestores] são terríveis. Portanto, nós vamos ter de percebê-las rapidamente, nos primeiros cem dias em que for presidente da câmara, e depois percebermos mecanismos também. Vai ter de ser pensado.” Ficava o aviso.
O agora autarca fez críticas duras àquilo que chamou de “gestão terrível”, alegando que quando andava pelos bairros se chocava com “edifícios totalmente degradados” e também “casas entaipadas, fechadas.” E acrescentava: “Temos de mudar toda a gestão de uma empresa que me parece, por aquilo que vi, porque tenho andando na rua, que está sem funcionamento, que está um pouco sem rei nem roque. A Gebalis vai ter de mudar na sua gestão e forma de olhar para os equipamentos sociais.”
Carlos Moedas prometeu também privilegiar o mérito e os independentes nos cargos da autarquia, garantido seguir essa máxima nos diretores municipais escolhidos. Há quatro que foram aprovados a 3 de dezembro, na úlitma reunião de câmara.
Para a direção municipal de gestão patrimonial, o executivo de Carlos Moedas propôs o nome de um antigo dirigente público, que saiu desse organismo em conflito com a ministra da Cultura e antiga vereadora do PS na capital, Graça Fonseca. O antigo diretor-geral do Património Cultural, Bernardo Alabaça, foi escolhido como novo diretor municipal de Gestão Patrimonial. Para diretora municipal do urbanismo foi escolhida Sofia Marques Santos Mourão Tropa, para diretor municipal do Ambiente, Catarina Freitas e para diretor municipal de Cultura, Carlos Moura-Carvalho.