Mais uma vez, Paulo Pereira. O selecionador esteve presente na melhor participação nacional de sempre num Europeu em 2020 (sexta posição), comandou depois a melhor presença portuguesa de sempre num Campeonato do Mundo em 2021 (décimo lugar), liderou de seguida a primeira passagem da Seleção nuns Jogos Olímpicos. Se a última imagem que ficasse fosse mesmo a última, não correu bem. Aliás, mais do que qualquer pessoa, o técnico e os jogadores voltaram de Tóquio com essa noção. Em paralelo com isso, e na antecâmara de nova fase final, surgiram ainda as lesões de elementos fulcrais como André Gomes, Pedro Portela, Luís Frade ou João Ferraz. E o que disse Paulo Pereira? Em bom suaíli, “Hakuna Matata”.

“Ontem [quarta-feira] gostei do treino e hoje [esta quinta-feira] mais ainda. Amanhã [sexta-feira] ainda vamos fazer um treininho curto e depois estaremos no pavilhão para defrontar a Islândia. Vai ser um jogo duro mas estamos com ambição e acho que vamos conseguir fazer algo interessante para Portugal. Vamos ver o que podemos fazer, como é que estamos e avançar para soluções. Acreditamos que vamos conseguir. Temos sido especialistas em contrariar as dificuldades e em desafiar o preestabelecido. Temos sido especialistas nesse aspeto e espero que isso se confirme outra vez”, comentara o treinador na antecâmara da estreia de Portugal no Europeu da modalidade, num grupo que se realizava em Budapeste.

Entre lesões com tempo de paragem mais longo, outros problemas físicos ou demais limitações ao longo da preparação, Paulo Pereira respondia com a célebre expressão do Rei Leão: “sem problema”. O desafio era prolongar essa capacidade de superação que venceu tudo o que um grupo pode passar (infelizmente tudo, pelas piores razões) e começando logo com um velho conhecido em fases finais, a Islândia, com alguns nomes novos entre as opções como Ángel Hérnandez, Miguel Alves ou Salvador Salvador.

A seguir à derrota na segunda fase do Europeu de 2020 (28-25) e à vitória no arranque do Mundial de 2021 (25-23), e mesmo tendo apenas quatro triunfos em dez partidas contra um adversário “apresentado”, Portugal defrontava uma equipa conhecida e bem estudada num encontro de tripla que era ainda mais acentuada perante o que se tinha passado na véspera, com os Países Baixos a conseguirem fazer uma surpresa diante da anfitriã Hungria (31-28). E se todos trabalharam para que corresse bem, dificilmente poderia ter sido pior: a Seleção esteve bem abaixo do que consegue fazer, perdeu de forma clara diante dos islandeses e vai agora ter uma final com os magiares onde quem perder está fora (28-24).

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O encontro começou com António Areia a colocar Portugal na frente e Iturriza a possibilitar um avanço maior após ter conseguido “sacar” uma exclusão de dois minutos a abrir perante o excesso de agressividade mas a Seleção não conseguiu aproveitar essa superioridade, ficando pela primeira vez atrás no resultado na altura em que a regra se manteve também para os islandeses depois dos dois minutos a Cavalcanti (3-2). A Seleção ainda conseguiu de novo virar o resultado mas Paulo Pereira seria forçado a parar o jogo perante uma série de falhas ofensivas ainda assim disfarçadas pelas defesas de Gustavo Capdeville (7-6).

Apesar das dificuldades, e não sendo um jogo brilhante, Portugal estava vivo e conseguiria mesmo chegar de novo ao empate aos 19′ mas a parte final do primeiro tempo acabou por ser demasiado penalizadora no resultado e nas ambições nacionais – mesmo sem que a Islândia fizesse um jogo brilhante. A Seleção até chegou ao intervalo com melhor percentagem de eficácia de remates (71%-63%), Capdeville fez mais defesas do que Gustavsson (5-3) mas os ataques sem finalização (4-0), o pouco critério em algumas ações, a perda de agressividade na defesa e os falhanços aos seis metros permitiram que o adversário chegasse aos 30 minutos iniciais com quatro golos de vantagem, dois deles no último minuto (14-10).

A segunda parte nem começou da melhor forma, com a Islândia a conseguir chegar aos cinco de avanço, mas um golo de ponta de Diogo Branquinho que fez o 16-13 ainda parecia dar a esperança para mais uma recuperação de uma equipa habituada a conseguir o impossível. No entanto, hoje não era o dia: entre falhas técnicas, saídas rápidas mal gizadas e alguns remates de seis metros invalidados por violação da área tudo aconteceu a Portugal, que teve ainda assim entre o central Rui Silva e o guarda-redes Gustavo Capdeville os elementos mais próximos do rendimento normal dentro de uma exibição no mínimo irreconhecível. No próximo domingo, tudo terá de ser diferente. E a própria trajetória recente merece que o seja.