Depois de um adiamento do jogo da primeira mão há duas semanas devido a um surto de Covid-19 no Liverpool, que obrigou ao adiamento do arranque da meia-final da Taça da Liga inglesa frente ao Arsenal, as duas equipas chegavam ao jogo decisivo, no Emirates, em Londres, depois de um empate sem golos. Em Anfield, há uma semana, e mesmo com o Arsenal a jogar muito tempo com menos um homem, após expulsão de Xhaka, a equipa de Cedric Soares, que saiu cedo com uma lesão, e Nuno Tavares, que jogou nos minutos finais, aguentou bem até final, deixando a equipa de Jürgen Klopp a zeros. A mesma equipa que continua órfã de Salah, Mané e Keita, todos na Taça das Nações Africanas.

Esse empate foi, contudo, algo expectável, tal como outra igualdade esta quinta-feira à noite não seria de surpreender. É que nos últimos quatro jogos de eliminatória entre ambos os dois clubes empataram. Quando é preciso eliminar, ou sair por cima do mata-mata, como diria Scolari, ambas se anulam. Em 2019 até um 5-5 aconteceu, também para a Taça da Liga.

Havia, contudo, uma estatística algo gritante para o lado de Klopp que poderia, pelo menos a nível mental, dar mais moral aos reds: nos últimos 17 jogos entre as duas equipas, o Arsenal apenas ganhou uma vez, não conseguindo marcar golos nos últimos quatro encontros. Além disso, e para isto não ter acontecido em Anfield a semana passada muito valeu a boa e voluntariosa exibição do Arsenal, o Liverpool é goleador frente aos gunners. Para Klopp muito goleador até. Com o treinador alemão ao leme o Liverpool marcou 43 golos ao Arsenal em todas as competições, mais do que a qualquer outro clube.

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Do lado dos londrinos, o treinador espanhol Mikel Arteta viu-se obrigado a defender o clube na conferência de imprensa de antevisão, depois de algumas críticas após o adiamento do jogo do fim de semana: um duelo frente ao Tottenham. Até o treinador dos spurs, Antonio Conte, disse ser a “primeira vez na vida a ver uma liga adiar um jogo devido a lesões”. Sem jogadores suficientes para ir a jogo, o Arsenal pediu adiamento e este foi concedido. Perante as reações pouco positivas, Arteta foi claro, respondendo até ao “extremamente surpreendidos” afirmado pelo Tottenham: “Não tínhamos jogadores suficientes para compor a equipa para um jogo da Premier League. Isso é 100% garantido. Sabemos que fizemos a coisa certa e trabalhámos com a Premier League e a FA [federação inglesa] para tomar essa decisão e explicar as razões. Acho que se fomos algo, foi muito, muito honestos. No mínimo”.

Abelhas não picam, Jota também não, mas o jogo 350 de Klopp foi calmo com direito a aniversário japonês

Arteta relembrou ainda o arranque de época da sua equipa, muito atingida pela Covid-19 e que mesmo assim foi a jogo frente a Brentford, Chelsea e Manchester City, perdendo os três jogos e completando o pior arranque de Campeonato em 67 anos.

E havia ainda a situação Aubameyang a pairar. Não, não era uma nova polémica entre jogador e clube ou treinador, mas sim um regresso antecipado da Taça das Nações Africanas devido a um alegado problema cardíaco após contrair Covid-19. Arteta foi pragmático sobre o caso, já depois de o avançado ter adjetivado de “falsos rumores” os que diziam que a saída da seleção do Gabão se deveu a problemas disciplinares. “Ele está a fazer alguns exames porque não tivemos nada de claro do lado da seleção nacional do Gabão sobre o porquê de ter voltado. Obviamente é a nossa obrigação ter a certeza de que o jogador está seguro em termos médicos. Porque tudo em tudo o que fizemos com o jogador até agora, ele nunca teve esse problema. Esperemos que seja o caso”, explicou o treinador de 39 anos.

Relativamente à forma das equipas, o Liverpool apenas perdeu dois jogos esta época para todas as competições — as duas derrotas foram na Premier League –, mas que foram o suficiente para estar a 11 pontos do líder Manchester City mesmo com menos um jogo. Já o Arsenal não ganhava há três jogos, incluindo nessa tríade uma eliminação da Taça de Inglaterra frente ao histórico mas agora mais modesto Nottingham Forest. Atualmente no sexto lugar, os gunners parecem estar destinados a lutar por um lugar na Champions, que deverá ser o 4.º, porque City, Liverpool e Chelsea parecem ter os três da frente bem seguros.

Mas o destino do campeonato é uma coisa e um jogo a eliminar em que o anterior não contava (devido ao tal 0-0) é outra. Assim, e por falar em destino, o Arsenal, com Nuno Tavares no banco, quis decidi-lo rapidamente, entrando melhor no jogo e com uma intensidade e rapidez assinaláveis que atrapalharam não só a construção do Liverpool, como também obrigaram Robertson (jogo 200 pelo clube), Matip, Van Dijk e Alexander-Arnold, juntamente com os médios, sobretudo Fabinho, o grande pêndulo de Klopp, a estarem atentos.

Saka pela direita e Martinelli pela esquerda vinham com tudo, mas foi Lacazette, de livre, aos 6′, a obrigar Kelleher, titular esta noite a baliza da equipa da cidade dos Beatles, a defender para a trave. O Liverpool foi começando a encetar o seu jogo, enquanto defendia o que precisava e tentava soltar na frente, uma das grandes armas da equipa.

E para confirmar que foram mesmo cerca de 20′ daquele início clássico de equipa que joga em casa e precisa de ganhar, mas sem efetividade, foi o Liverpool que fez golo. Num ataque rápido, Alexander-Arnold assistiu (para variar) Diogo Jota (19′), que foi conduzindo a bola e mesmo com três defesas à frente conseguiu rematar à baliza. O remate saiu muito frouxo, mas o Ramsdale já tinha dado um passo em falso e não conseguiu para a bola. Estava feito o 0-1 através do português, que conseguiu assim o 13.º remate certeiro da temporada, igualando o registo de toda a época passada.

As equipas foram trocando momentos de posse de bola, ainda que o Liverpool parecesse mais incisivo e o Arsenal mais bloqueado frente à defesa da equipa de Klopp. Ao intervalo era um português a fazer a diferença.

No arranque da segunda parte, foi Lacazette a estar em cima do empate, na cara do guarda-redes adversário, mas algo pressionado, a atirar por cima, com a resposta a surgir logo aos 51′. Diogo Jota deixou Ben White para trás pela esquerda sem olhar para trás e serviu Kaide Gordon, miúdo de 17 anos titular esta quinta-feira, que no meio da área disparou forte de pé esquerdo mas por cima. Passados dez minutos do segundo tempo não se sabia bem quem dominava o jogo, mas este estava bem animado.

Depois, veio um mini show do homem das assistências: Alexander-Arnold, com passes teleguiados. Mas, felizmente para o Arsenal e infelizmente para ele, ninguém fez golo. Konaté acertou no poste aos 59′, e dez minutos depois, numa jogada algo confusa mas após mais um grande passe do lateral inglês, Jota e Minamino não conseguiram finalizar.

Mas Trent Alexander-Arnold ainda tinha mais uma assistência guardada no bolso, ou melhor, nos pés, e desta vez para golo. Um passe a rasgar toda a defesa gunner e, quem mais poderia ser? Diogo Jota, a dominar de peito e de primeira a picar a bola por cima de Ramsdale (79′). Martinelli ia no 1×1, escorregou, e o Liverpool foi rapidíssimo a chegar ao golo. O português chegou assim ao 14.º golo, que definitivamente colocou o Liverpool na final da Taça da Liga, na qual já estava o Chelsea. Temos jogo grandes para decidir o troféu.