O Museu Nacional Soares dos Reis, Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova e a Universidade Católica apresentam este ano o ‘catálogo Raisonné’ de Aurélia de Sousa, assinalando o centenário da morte da artista.

O ‘catálogo Raisonné’ – por definição, um catálogo com listagem descritiva e anotada, imagens e documentos de contextualização da obra da pintora –, vai integrar toda a obra de Maria Aurélia Martins de Sousa, e ser publicado em formato ‘ebook’ e em edição impressa.

“O levantamento conta já com mais de 300 obras” e tem o apoio mecenático da Fundação Millennium BCP. Na expectativa de reunir ainda mais peças da artista, o Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR) está a apelar “a todos os colecionadores com obras por identificar o contacto pelo email geral-mnsr@mnsr.dgpc.pt”.

O projeto, iniciado em 2020, está a ser conduzido pela historiadora de arte Raquel Henriques da Silva, que dirigiu o Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado e o antigo Instituto Português dos Museus. O projeto conta igualmente com a parceria das Câmaras Municipais de Matosinhos e do Porto.

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O catálogo deverá contar com a elaboração de um inventário sistemático e com o registo fotográfico de toda a obra de Aurélia de Sousa em coleções públicas e particulares.

Nascida em 13 de junho de 1866, na cidade de Valparaíso (Chile), fixou-se no Porto, aos três anos de idade, quando os pais, emigrantes portugueses na América Latina, regressaram ao país, como recorda o comunicado do MNSR.

Maria Aurélia Martins de Sousa, autora de uma das obras de referência da arte portuguesa na viragem do século XIX para o seguinte — “Autorretrato” (1900), da coleção do Soares dos Reis, como é destacado pela instituição -, iniciou a sua aprendizagem artística com lições particulares de desenho e pintura de Caetano Moreira da Costa Lima, e apenas aos 27 anos entrou na Academia Portuense de Belas-Artes (1893/1898), onde se matriculou.

Em 1899, a artista partiu para Paris para, durante três anos, completar os cursos ministrados por Jean-Paul Laurens e Benjamin Constant, na Academia Julien.

À semelhança do programa dos bolseiros do Estado, e antes de regressar a Portugal, viajou por vários países europeus na companhia da irmã Sofia, também ela pintora, que se juntara a Aurélia em Paris.

As duas irmãs visitaram sobretudo cidades da Bélgica, da Alemanha, de Itália e de Espanha, e em particular os seus museus, que firmaram o gosto pela pintura flamenga, em Aurélia de Sousa.

No regresso ao Porto, a pintora desenvolveu uma “carreira reservada” e “algo tanto arredada dos meios artísticos da cidade, apesar da participação regular em exposições coletivas”, recorda o MNSR.

Convidada por António Teixeira Lopes para presidir a Sociedade de Belas-Artes do Porto, declinou a oferta. Entre as exposições em que participou constam as anuais da Sociedade de Belas-Artes do Porto, as mostras nas Galerias da Misericórdia e no Palácio de Cristal, assim como na Sociedade Nacional de Belas-Artes de Lisboa.

A produção artística de Aurélia de Sousa (ou Aurélia de Souza) assenta em particular no retrato, na paisagem e em cenas intimistas do quotidiano doméstico. Fez também ilustrações para a revista Portugália, entre outras publicações.

“Os motivos para as suas pinturas, além do seu próprio rosto, procurava-os no universo familiar, fonte inesgotável de inspiração: as pessoas, os recantos da casa, os aspetos do jardim, os trechos de paisagem com o rio ao fundo”, escrevem os serviços do MNSR.

Em 2004, as edições Inapa inauguraram a coleção dedicada a pintores portugueses, com Aurélia de Sousa, um volume assinado por Raquel Henriques da Silva.

Em 2016, quando se cumpriram 150 anos sobre o seu nascimento, as câmaras do Porto e de Matosinhos coordenaram-se na exposição “Aurélia, mulher artista”, comissariada por Filipa Lowndes Vicente.

A mostra esteve patente em dois polos, nas duas cidades, respetivamente na Casa Museu Marta Ortigão Sampaio e no Museu da Quinta de Santiago.

Dessa mostra foi publicado o livro “Aurélia de Sousa – mulher artista (1866-1922)”, com vários ensaios dedicados à vida e obra da pintora e fotógrafa portuense, igualmente coordenado por Lowndes Vicente.

“Conservadora nos motivos, genial e inovadora no traço e na composição, Aurélia de Sousa deu continuidade ao naturalismo que imperava na pintura portuguesa do seu tempo, acrescentando-lhe apontamentos impressionistas, realistas e até mesmo neo-realistas”, lê-se nessa obra.

Aurélia de Sousa morreu no Porto, em 1922, a poucos dias de completar 26 anos.