A Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) anunciou este domingo que apresentou uma denúncia ao Ministério Público pelo “comportamento ameaçador” de Bruno de Carvalho para com uma outra concorrente do programa Big Brother. O ex-presidente do Sporting, que acabou por ser expulso na votação do público, este domingo, recusa ter exercido violência.
Segundo a CIG, entidade que está integrada na Presidência do Conselho de Ministros, o comportamento do concorrente Bruno de Carvalho é “suscetível de configurar a prática de crime público de violência doméstica, na forma psicológica e física”.
Em comunicado, a comissão adiantou que teve conhecimento de vídeos divulgados nas redes sociais que são retirados do programa televisivo Big Brother, em exibição pela TVI, “onde se pode assistir ao comportamento ameaçador do concorrente Bruno de Carvalho para com a sua namorada, a concorrente Liliana, chegando inclusive a agarrar o seu pescoço de forma indelicada e evidentemente desconfortável”.
“No cumprimento das suas competências, a CIG notificou a TVI no sentido de que esta estação televisiva tome de imediato as necessárias diligencias no sentido de pôr termo a esta situação, suscetível de configurar a prática de crime público de violência doméstica, na forma psicológica e física”, adiantou ainda a comissão, que “apresentou já uma denúncia junto do Ministério Público sobre os factos acima relatados”.
A CIG, que sucedeu à anterior Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, é o organismo nacional responsável pela execução das políticas públicas nas áreas da cidadania e da promoção e defesa da igualdade de género, sob tutela da secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade.
Bruno de Carvalho reage: “Há sempre olhos com muita maldade que quando me veem feliz têm esta vontade inabalável de fazer alguma coisa”
Na gala deste domingo, em direto, Bruno de Carvalho, que pouco antes teve conhecimento, em privado, da existência da queixa da CIG, reagiu às acusações de violência. O ex-presidente do Sporting começou por dizer que não se reconhece na queixa. E assegura que “nunca” exerceu “violência sobre ninguém”. “Ia exercer sobre uma pessoa que amo, que tenho tentado proteger desde que cá entrei?”
Há sempre olhos com muita maldade que quando me veem feliz têm esta vontade inabalável de fazer alguma coisa. E eu fui avisando, dentro das minhas possibilidades”, acrescentou.
Questionado pela apresentadora Cristina Ferreira sobre qual o seu maior receio, com a divulgação das imagens, respondeu: “Os de sempre, o meu pai, a minha mãe, a minha família, as minhas filhas, sempre isto. Há sempre uma coisa tão imbecil à volta das coisas que eu digo, serei sempre um imbecil, porque não sei que há câmaras, sou um atrasado mental.”
Bruno de Carvalho afirmou ainda que está a viver com a concorrente “uma relação dentro do jogo”, mas “é também uma parceria, para chegar à final, temos uma estratégia para chegar à final”. Confrontado com as declarações de colegas do programa que acusavam Bruno de Carvalho de “não deixar” a concorrente falar, assegurou que “nunca impedia a Liliana de falar”.
Namorada diz que nunca se sentiu “subjugada” nem “dominada”
A concorrente em questão é Liliana Almeida, cantora, que também foi chamada a reagir, em direto, à queixa e às imagens que têm sido transmitidas. A Cristina Ferreira disse que ficou “surpreendida” e que não percebe os motivos da queixa. “Não percebo qual é o ponto que faz espoletar isto tudo. Só quem está cá dentro é que sabe o que se passa aqui”, defendeu. E garantiu que “nunca” se sentiu “subjugada” nem “dominada”. “Pensei sempre pela minha cabeça.”
Num dos vídeos que está a circular nas redes sociais, Bruno de Carvalho aparece ao lado da concorrente chegando a agarrar-lhe o pescoço.
Bruno de Carvalho: Viste o que é que tu me fizeste?
Liliana Almeida: O que é que eu te fiz?
BC: Viraste-me as costas. Porquê?
LA: Virei-te as costas? Estava sentada, levantei-me.
BC: Não, não me faças de parvo.
É então que Bruno de Carvalho a agarra no pescoço, enquanto lhe diz: “Gosto de ti, estou-me a sentir mal”. A concorrente queixa-se e Bruno de Carvalho responde: “Não te estou a agarrar, estou a sentir-me mal”.
Cristina Ferreira questionou-a sobre essas imagens. Para Liliana, “era o Bruno a chamar-me para a realidade do amor”.
Questionada sobre se alguma vez teve medo, respondeu: “Não, de todo.” “O Bruno é uma pessoa muito intensa, tem as suas ideias, pensa pela sua cabeça. É fácil pegar no Bruno de Carvalho e pô-lo nesta situação”, acrescentou. E o que é ser uma pessoa “intensa”? Para Liliana, é alguém que “tem os seus queres bem definidos, o que quer para a sua vida”. “Mas se sentir que não quero o que ele quer, eu digo-o.”
“Estamos num jogo. E há muita coisa que o Bruno quer que eu entenda que eu não entendo, sobre o jogo”, disse ainda, garantindo que não considera estar numa relação abusiva. “Claro que há coisas que me irritam nele, mas não caracterizo como um homem agressivo, que me queira manipular.”
Confrontada com os relatos de outros concorrentes segundo os quais Liliana se inibe de dar a sua opinião, respondeu: “Como eu sou tão calada, as pessoas pegam nessa fragilidade. Lá fora, as pessoas estão a tirar as suas conclusões, que não deviam concluir. São meras opiniões para mim.”
Confiem em mim, sei o que estou a fazer, nunca ultrapassei as marcas de mim própria, do meu ser, não me vou violentar. Não há violência”, frisou.
Vários pedidos para a expulsão de Bruno de Carvalho
As imagens têm suscitado várias críticas nas redes sociais, com algumas personalidades a pedir a expulsão, e responsabilização, de Bruno de Carvalho. A cantora Carolina Deslandes foi uma das que se insurgiu contra as imagens, por considerar que configuram crime. No Instagram, Deslandes pede que Bruno de Carvalho seja “imediatamente expulso”.
A influencer Ana Garcia Martins, conhecida como a Pipoca Mais Doce, comentadora habitual do programa, também criticou a atitude de Bruno de Carvalho. Por considerar que o reality show “pode e deve ter uma missão pedagógica, social e educativa”, diz que tem alertado “para situações que, a meu ver, parecem perigosas, abusivas e, sobretudo, um péssimo exemplo”.
“Porque não acredito que seja preciso ter vivido uma relação tóxica (que nunca vivi) ou ter um doutoramento em psicologia (que não tenho) para reconhecer os traços de uma relação em que há um elemento dominador, possessivo, controlador, asfixiante. Parece-me tudo tão óbvio que já só consigo achar estranho (e, confesso, meio pateta) quem vê nisto amor, protecção, uma “pessoa chata” ou um “se ela não se queixa então é porque está tudo bem e não há nada a dizer” (a sério?)”, defende, numa publicação no Instagram. E acrescenta: “já não é ‘só um jogo'”.
No campo político, também já se fazem ouvir reações. A deputada do Bloco de Esquerda Joana Mortágua considera que a queixa da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género “deveria ser o ponto final que a TVI teima em não pôr à transmissão em direto de abusos contra uma mulher”. E conclui: “Violência doméstica não é entretenimento”.
A queixa da Comissão para a Cidadania e igualdade de Género deveria ser o ponto final que a TVI teima em não por à transmissão em direto de abusos contra uma mulher. Violência doméstica não é entretenimento. Estamos a assistir ao machismo misturado com o pior do capitalismo.
— Joana Mortágua ????️????????️⚧️ (@JoanaMortagua) February 13, 2022
Catarina Furtado: “Não vale tudo pelas audiências”
Embora não refira o nome do programa, a apresentadora Catarina Furtado, que também é embaixadora da ONU e tem defendido publicamente os direitos das mulheres e crianças, fez uma publicação em que defende que a televisão deve “impor limites quando os direitos humanos são violados” porque “não vale tudo pelas audiências”.
Catarina Furtado defende que “temos de ser vigilantes e agir em comunidade” quando as “princesas de hoje” se vêm privadas da sua liberdade. “Na minha opinião a televisão tem a obrigação de impor limites quando os direitos humanos são violados. Já temos informação suficiente do que não pode ser permitido”, defendeu, no Instagram, pedindo que os conteúdos televisivos “respeitem valores”.
Também a influencer Madalena Abecasis fez uma publicação no Instagram a pedir: “Não vamos esperar até Domingo” porque, considera, “esperar mais 24 horas é ser conivente”. “Esperar mais 1 hora é ser conivente. Estar a assistir a isto é ser conivente”, vincou, esperando que a TVI “não esteja à espera que um movimento nacional o expulse, com chamadas telefónicas infinitas para porem mais tostões ao bolso”.
E a atriz Jéssica Athayde defendeu, sobre as imagens: “Isto é uma vergonha. E toda a gente que é cúmplice desta situação é igualmente culpado”.