“Caixa de Memórias”

Quer sob a forma de ficções, quer de documentários, o casal de realizadores libaneses Joana Hadjithomas e Khalil Joreige tem dedicado todos os filmes ao seu martirizado país e às marcas deixadas nas pessoas e nas famílias pela guerra civil dos anos 70 e 80. Um tema de novo bem glosado em “Caixa de Memórias”, que envolve três mulheres da mesma família — avó, mãe e filha — que se instalaram no Canadá para fugirem ao conflito, tendo esta última já nascido lá (a fita tem um cunho autobiográfico para  Joana Hadjithomas). Alternando entre o passado e o presente, incorporando na narrativa materiais como filmes de 8 e 16 mm e velhas fotos, dinamizados graças à animação digital, os dois realizadores mostram, com inventividade, sensibilidade e de forma profundamente sentida, o que era ser adolescente num país em guerra civil, a dor e a nostalgia que assaltam os expatriados e a forma como as memórias desses tempos afetam os membros de diferentes gerações de libaneses.

“O Bando de Ned Kelly”

O mítico fora-da-lei australiano Ned Kelly viu-se biografado no primeiro filme de longa-metragem feito no seu país, em 1906, e a sua história já foi levada ao cinema várias vezes, nomeadamente em 1970, por Tony Richardson, em “Ned Kelly”, com Mick Jagger no papel principal. Esta nova versão, assinada por Justin Kurtzel (“Macbeth”), adapta o romance de Peter Carey “The True History of the Kelly Gang”, tem um nada convincente George MacKay na pele de Ned Kelly quando adulto, amalgama factos e ficção, e assemelha-se ao cruzamento de um “western” australiano com um exercício de sobre-excitação visual, que alguns defensores do filme apelaram de “visão pós-punk” da personagem e do seu contexto histórico. Seja como for, Kurtzel não consegue transmitir a interpretação que faz de Ned Kelly, e aquela ideia peregrina de o pôr, e aos membros do seu bando, a usar vestidos de mulher durante os assaltos, é de um ridículo épico. Russell Crowe aparece brevemente como o mentor do jovem Kelly no crime.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“O Homem que Matou Don Quixote”

Jonathan Pryce e Adam Driver são os principais intérpretes desta fita de Terry Gilliam que teve uma produção atribuladíssima e demorou quase 30 anos ao realizador para concluir, tendo entretanto adquirido a reputação de “filme maldito” no meio do cinema. Driver interpreta Toby, um outrora promissor cineasta que enveredou pela realização publicitária para ganhar dinheiro, e que volta à vila espanhola onde 10 anos antes rodou um filme de estudante sobre Don Quixote, para fazer um anúncio de ambiente quixotesco. E descobre que estragou a vida aos locais que entraram nele. Caso de Javier (Pryce), um velho sapateiro que se convenceu que é mesmo Don Quixote. O seu reencontro leva a que, após algumas peripécias, Javier se meta estrada fora montado num cavalo armado de lança e escudo levando consigo Toby como seu Sancho Pança. “O Homem que Matou Don Quixote” foi escolhido pelo Observador como filme da semana e pode ler a crítica aqui, bem como uma entrevista com Terry Gilliam.