“Onoda, 10.00 Noites na Selva”

O realizador francês Arthur Harari foi ao Cambodja filmar a incrível história de Hiro Onoda, um tenente dos serviços secretos do exército nipónico que foi o penúltimo soldado japonês da II Guerra Mundial a render-se, 29 anos após o fim do conflito, em 1974, tendo passado todo esse tempo escondido nas selvas da ilha filipina de Lubang, convencido de que o conflito ainda continuava. Mais do que julgar, condenar ou aplaudir, Harari procura compreender as razões que levaram Onoda (interpretado em jovem por Yuya Endo e na idade adulta por Kanji Tsuda) a não depor as armas, e perceber e revelar a sua psicologia e os valores e princípios que o orientavam, mostrando-o não como um louco iluminado ou um traumatizado de guerra, mas como um militar inflexivelmente orientado pelo seu sentido de dever e lealdade à pátria e ao imperador, o que o levou a tornar-se num soldado fantasma e numa lenda viva. “Onoda: 10.000 Noites na Selva” é um filme de guerra aparentemente convencional, mas que acaba por ganhar uma dimensão semi-fantástica e de absurdo, e justifica plenamente as suas quase três horas de duração.

“Um Herói”

Asghar Farhadi (“Uma Separação”, “O Passado”) ganhou o Grande Prémio em Cannes com “O Herói”, também candidato ao Óscar de Melhor Filme Internacional. O filme centra-se em Rahim (Amir Jadidi), um pobre diabo que está preso por causa de uma dívida. Durante uma saída de dois dias, procura vender um punhado de moedas de ouro que a namorada encontrou numa mala de senhora perdida na rua, mas como a cotação está baixa, opta por as devolver à sua proprietária. Os diretores da cadeia tomam conhecimento do ato e põem Rahim a ser entrevistado pela televisão como exemplo de honestidade e retidão, e ele vê-se transformado num herói pelos media e pelas redes sociais. Mas não por muito tempo. Filmando com um naturalismo minucioso e um sentido consumado da vida como ela é vivida, nos mais ínfimos pormenores do quotidiano e do comportamento humano, Farhadi aborda de novo em “O Herói” o seu tema favorito: os pequenos erros cometidos por pessoas comuns, que desencadeiam um drama irremediável. E vai retratando a sociedade iraniana contemporânea enquanto precipita a personagem num pesadelo bem real.

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“Casa Flutuante”

No novo filme de José Nascimento, autor de “Repórter X e “Tarde Demais”, este um dos melhores títulos portugueses das últimas décadas, Araci (Carolina Virgüez), uma índia de uma tribo do Amazonas, vem viver para o Alentejo com o marido (Vítor Norte), que andou no garimpo do ouro no Brasil e ficou doente, e com a neta Joana (Inês Pires Tavares), à qual passa a dedicar-se totalmente quando aquele morre. Araci, que mantém viva as tradições do seu povo, muda-se então com Joana para uma casa no rio, mas o seu sossego é ameaçado por um negócio de terras para a construção de um complexo turístico que envolve uma vizinha e a autarquia local. “Casa Flutuante” é tão pleno de boas intenções para com a situação dos índios brasileiros, a preservação da sua identidade e cultura, e a exploração da floresta amazónica, como formal e narrativamente desajeitado e confuso (os saltos temporais são abruptos, a neta de Araci cresce enquanto esta não envelhece um dia, as sequências onírico-fantasiosas caem do céu aos trambolhões), muito soporífero e com os actores quase todos numa permanente monotonia de enunciação.

“The Batman”

Robert Pattinson veste a pele de Bruce Wayne e o uniforme do Homem-Morcego pela primeira vez, neste filme que assinala um novo ciclo no cinema para a personagem criada por Bob Kane, e é realizado por Matt Reeves (“Nome de Código: Cloverfield”, “Planeta dos Macacos: A Revolta”). O enredo decorre durante o segundo ano de luta de Batman contra o crime em Gotham City. Enquanto procura descobrir e capturar um “serial killer” que anda a aterrorizar a cidade, o herói encontra provas de que a sua família, através do seu falecido pai, estava ligada a situações de corrupção e associada ao submundo do crime de Gotham, o que o deixa profundamente perturbado. Além de Pattinson, o elenco de “The Batman” inclui Zoe Kravitz (Selina Kyle/Catwoman), Paul Dano (Riddler), Jeffrey Wright (Comissário Gordon), Colin Farrell (Pinguim), Andy Serkis (Alfred), e ainda John Turturro e Peter Sarsgard. “The Batman” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.