(notícia atualizada às 10h35 com informação sobre reunião de emergência do ECDC)

Os confinamentos relacionados com a pandemia de Covid-19 podem estar na origem dos misteriosos casos graves de hepatite aguda em crianças, que já terão causado pelo menos uma morte (num país não determinado). A especialista britânica que lidera no Reino Unido a investigação aos mais de 100 casos que já surgiram no país disse esta segunda-feira num congresso em Lisboa que o fecho das escolas e as limitações à circulação terão prejudicado o desenvolvimento dos sistemas imunitários das crianças.

Meera Chand, médica que participou nos últimos dias no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infeciosas, que foi realizado em Lisboa, admite que em causa poderá estar apenas a disseminação de adenovírus comuns – a diferença é que muitas crianças estão a ser expostas a esses vírus sem terem tido exposição anterior a outros agentes, devido aos confinamentos. Já foi descartada qualquer ligação às vacinas contra a Covid-19.

A especialista britânica, Meera Chand, diz que os casos poderão estar associados a “um fator de suscetibilidade“. Citada pelo The Telegraph, a especialista diz que esse “fator de suscetibilidade” pode ter origem na “falta de exposição anterior, nesse grupo etário em particular, durante as fases formativas que atravessaram num contexto de pandemia”.

A “hipótese mais consensual”, pelo menos para já, é que os vírus que estão a causar estes problemas são “adenovírus normais, que estão a circular”, acrescentou, numa alusão aos vírus que normalmente provocam constipações ou gripes comuns mas que, em teoria, se não for devidamente combatido pelo sistema imunitário pode chegar ao fígado e desenvolver hepatites.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Podemos não estar a ver tantos casos destas infeções como em anos passados. Mas agora temos um co-fator que afeta uma faixa etária específica, de crianças pequenas, que ou está a tornar a infeção mais grave ou está a desencadear algum tipo de imunopatologia”, explicou Meera Chand.

Até agora, Portugal não tem qualquer situação registada, mas as autoridades de saúde estão vigilantes. Uma criança morreu vítima do misterioso surto de doença hepáticas que está a afetar crianças na Europa e nos Estados Unidos, anunciou a Organização Mundial de Saúde (OMS), sem revelar em que país ocorreu a morte.

Autoridades atentas e preparadas para intervir perante casos de hepatite aguda atípica

O diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais afirmou na quinta-feira que as autoridades de saúde estão “muito atentas” e preparadas para intervir caso surja uma criança com hepatite aguda de origem desconhecida em Portugal.

Segundo Rui Tato Marinho, já foram identificados no mundo 100 casos desta hepatite atípica que afeta sobretudo crianças abaixo dos 10 anos.

“Pode ser o início de uma situação nova que nós ainda não conhecemos ou pode ser que se atenue, mas temos que estar preparados para os vários cenários e acho que devemos estar preparados para o pior, que chegue a Portugal”, disse o especialista à agência Lusa.

ECDC conta publicar esta semana avaliação de risco de casos de hepatite aguda em crianças

O Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) está a monitorizar os casos notificados em vários países de hepatite aguda de origem desconhecida em crianças e conta publicar na quinta-feira uma avaliação rápida de risco.

Numa conferência de imprensa durante a qual forneceu uma atualização sobre os últimos desenvolvimentos em matéria de doenças infecciosas na União Europeia, a diretora do ECDC, Andrea Ammon começou precisamente por abordar os recentes casos de “hepatite aguda de origem desconhecida em crianças até então saudáveis”.

Apontando que “o Reino Unido foi o primeiro país a lançar um alerta, no início de abril, tendo desde então reportado mais de 100 casos”, e que, “depois desse alerta, mais países têm relatado casos, entre os quais 10 países da UE, mas também Israel e Estados Unidos”, Ammon sublinhou que muitos dos casos foram de hepatite grave e vários evoluíram para insuficiência hepática aguda, que exigiram transplantes de fígado, “o que mostra bem a gravidade da condição”.

“As investigações prosseguem em todos os países, mas, de momento, a causa desta hepatite permanece desconhecida. A hepatite habitual, de A a E, está excluída, e as autoridades nacionais de saúde estão a olhar para possíveis causas”, disse, escusando-se a especular sobre a origem destes casos até haver mais dados.

Andrea Ammon disse então que o ECDC está a monitorizar a situação, em articulação com os países que já reportaram casos e com a Organização Mundial de Saúde (OMS). “Estamos a trabalhar numa avaliação rápida de risco, que esperamos publicar na quinta-feira”, anunciou.