A relação entre os vereadores da autarquia lisboeta já terá visto melhores dias. Na reunião de câmara de quarta-feira a oposição conseguiu aprovar uma proposta que visa alterar, entre outros, a velocidade máxima nas várias estradas da cidade e dedicar artérias principais — como a Avenida da Liberdade — a espaços pedonais no mínimo uma vez por semana, ao domingo. Só o PCP ficou de fora dos votos que, contra os vereadores do PSD e CDS-PP, fizeram com que a proposta fosse aprovada. Em resposta, Carlos Moedas acusou a oposição de “soberba” e de ir “contra as pessoas”. PS acusa Moedas de “baralhar tudo intencionalmente” e Livre pede que “passe da vitimização ao trabalho”.

Lisboa. Oposição aprova proposta para proibir trânsito na Avenida da Liberdade aos domingos e feriados

Em declarações aos jornalistas, Carlos Moedas fez questão de frisar que “os vereadores dos Novos Tempos votaram contra” e acusou a oposição de “não perceber aquilo que as pessoas querem em Lisboa: poder decidir, falar com elas”.

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“Já tive de manhã todas as pessoas da Avenida da Liberdade a perguntar o que vai acontecer, porque vamos fechar a Avenida da Liberdade em dias que têm o comércio aberto. Tudo isto é grave, porque é estar a fazer contra as pessoas. Temos de caminhar para uma cidade mais sustentável, que estamos a fazer em muitos aspetos”, disse ainda o presidente da câmara.

Mas a oposição que fez aprovar a proposta não gostou da acusação de Carlos Moedas e já veio a público contrariar as afirmações do presidente da câmara. O PS, que governou a câmara até setembro e criou o programa que agora deverá ser recuperado — A Rua é Sua — acusa Moedas de “baralhar de forma deliberada o que foi aprovado” e, recuperando o que aconteceu no processo participativo sobre a ciclovia da Almirante Reis diz que “participação começa a rimar com inação.”

Numa publicação no Twitter, o Partido Socialista diz que “não há nenhuma medida para ‘fechar o trânsito na Baixa’ [numa citação a Carlos Moedas], mas para recuperar uma iniciativa que trazia, até ao início da pandemia, largos milhares de lisboetas para usufruir da Avenida da Liberdade”.

“E se é para “ouvir os lisboetas”, como diz [Carlos] Moedas, convém que seja para levar a sério o que estes dizem e não para fazer, como aconteceu na Almirante Reis, o oposto do defendido por lisboetas e associações. Participação começa a rimar com inação”, acusam ainda os socialistas.

Livre pede a Moedas que “passe da vitimização ao trabalho”

Já o Livre, contactado pelo Observador, explica que a proposta “aprovada pela atual maioria do executivo” tem duas propostas essenciais. A primeira a reativação e alargamento do programa “a Rua é Sua”, frisando que é um programa que “durante vários meses em 2019 devolveu às pessoas no último domingo de cada mês parte da Avenida da Liberdade através da promoção de eventos e feiras e que teve grande adesão, incluindo do comércio local.”

Em segundo lugar a “diminuição em 10 km/h das velocidades máximas na cidade de Lisboa, uma medida defendida internacionalmente por várias entidades, e que a própria Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária tem promovido campanhas nesse sentido (30km/h).” Sustenta o Livre que “está largamente estudado que uma velocidade média de 30km/h reduz substancialmente o risco de morte em atropelamentos.”

Referindo-se especificamente à “acusação de soberba do presidente da câmara de Lisboa” o Livre diz que “não tem qualquer fundamento”. “A proposta do Livre foi apresentada a 12 de abril, há cerca de um mês e em momento algum o presidente ou o vereador da mobilidade demonstrou vontade de a negociar com o Livre ou propôs alterações”, defende a vereadora Patrícia Gonçalves que diz esperar que o presidente da câmara “passe da vitimização ao trabalho”.

“Neste momento, e tendo a proposta sido aprovada, aquilo que o Livre espera do presidente da Câmara Municipal de Lisboa é que apresente a todo o executivo as formas de implementação desta proposta através do desejo de um ‘Programa A Rua é Sua 2.0’ e que passe da vitimização ao trabalho.”

Paula Marques, vereadora independente eleita pelos Cidadãos por Lisboa, diz que “ninguém pode ficar fora da preocupação com o ambiente” e que “Lisboa já assumiu essa preocupação como prioritária para o futuro”, frisando o que disse no momento da aprovação da proposta em reunião de câmara: “Importa no processo ouvir e envolver todos os parceiros no terreno, desde as juntas de freguesia, às entidades locais, as associações de moradores”.