Ao nono dia, chegava o dia. Porque o dia podia ter chegado numa qualquer etapa daquelas que percorreram as estradas húngaras a abrir mas o máximo que existiu foi a luta por uns segundos a menos do que os rivais mais diretos. Porque o dia podia ter chegado na subida do Etna, que mais não fez do que separar o pelotão com os principais candidatos todos juntos com diferenças pequenas. Porque o dia podia ter chegado entre a irregularidade das últimas etapas, que promoveram chegadas e vitórias das fugas depois de passagens por zonas a subir. Agora, na chegada a Blockhaus, chegava o primeiro momento de decisões do Giro.

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Na véspera do segundo dia de descanso, em Pescara, os resultados desta nona etapa da Volta a Itália iriam provavelmente manter-se pelo menos até à chegada a Turim, no final da segunda semana. Era com todo este contexto que João Almeida e a UAE Emirates começavam o dia, com cautelas do português.

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“Agora é o tempo de estar no radar. Até agora tem corrido tudo bem, comigo fora do radar como gosto, mas agora é um grande dia e quando se quer lutar pelo pódio, existe essa necessidade de aparecer. Vamos ver o que conseguimos. O [Simon] Yates, o [Richard] Carapaz, o [Romain] Bardet e o [Mikel] Landa parecem todos muito bem, é entre estes que se vai discutir a vitória no Giro. Entre tantos corredores bons, se fosse ao pódio já seria uma grande vitória para mim. Lutar pela vitória ainda é demais para mim. Como nos próximos cinco dias não será muito duro, vai ser dia de ataques no Blockhaus”, disse à Cycling News.

“Para ser sincero, não me sinto fantástico mas vou fazer o melhor que conseguir hoje na etapa e depois logo vemos. Estratégia? É claro que talvez possa tentar algo para ganhar tempo mas também vou estar à espera do que fazem outras equipas porque algumas são mais fortes do que nós, como a Ineos e outras equipas… Vamos ver o que fazem. Lutar pelo pódio vai ser complicado, uma grande luta. Colocar-me na luta pela vitória é demasiado para mim agora, vou lutar pelo pódio”, referiu antes da etapa ao Eurosport.

Depois de um primeiro grupo que aproveitou a subida de terceira categoria de Valico del Macerone para se distanciar, a fuga mais consolidada tinha Felix Gall, Joseph Lloyd Dombrowski, Jonathan Caicedo, Nans Peters, James Knox, Natnael Tesfatsion, Filippo Zana, Eduardo Sepúlveda e Diego Rosa, o grande destaque até aos últimos 50 quilómetros pela forma como foi somando pontos para a camisola azul. O transalpino não se ficou por aí, saindo com Tesfatsion no início do Passo Lanciano sem que Sepúlveda e Peters fossem na roda. As decisões estavam ainda muito longe mas a corrida começava já a partir: líderes, um grupo a 35 segundos, outro a pouco mais de um minuto e o pelotão a tentar diminuir os 3.15 minutos.

Esses grupos foram-se criando e acabando numa subida que tinha Diego Rosa como principal figura, com um salto enorme na camisola da montanha, mas a 18 quilómetros o pelotão já estava a pouco mais de 30 segundos. Era a fase em que tudo voltava ao início, com as principais equipas a começarem a posicionar-se para ditarem lei logo a partir do início da subida. E o habitual predictor apresentado pelo Eurosport não tinha dúvidas: Carapaz mais favorito a ganhar, Simon Yates e Mikel Landa como alternativas. Três corredores, três líderes, três equipas, sendo que ainda estavam por ali UAE Emirates, Bora ou DSM.

Na lógica fazia sentido, na prática não demorou a ruir: Simon Yates quebrou muito cedo na subida e quase que se despediu de qualquer objetivo neste Giro, criando também um problema para a própria equipa da BikeExchange que perdeu o seu chefe de fila. A dez quilómetros do final, o grupo estava cada vez mais curto e sem um dos favoritos, a sete quilómetros era um desfile de corredores mais veteranos no meio daqueles que são hoje os principais candidatos. Estava Nibali, Porte, Pozzovivo, Valverde, Carapaz, João Almeida, Buchmann, Hindley, Bardet, Arensman. Sem ninguém da equipa, rodando muitas vezes como último nesse bloco, o português revelava algumas dificuldades mas continuava colado no primeiro grupo.

As probabilidades de João Almeida desciam com a Ineos a puxar na frente por Richie Porte mas havia um outro jogo de estratégia na cabeça da UAE Emirates tendo em conta o objetivo de um top 3 na geral: sem Yates ou sem Kelderman, e com Carapaz como potencial favorito, Bardet e Mikel Landa eram os principais adversários do dia nesse contexto e foi esse trio que saltou para a frente depois de Carapaz ter o primeiro ataque a menos de cinco quilómetros. Valverde quebrou, Porte também, Nibali idem. E era Almeida que dava o mote na perseguição ao trio da frente, que andava apenas a dez segundos mas colou antes de mais um ataque agora de Romain Bardet para nova resposta do português e encostar mais uma vez, ficando sem forças depois para uma discussão ao sprint ganha por Hindley e com o português em quinto.

Na etapa, o australiano da Bora ganhou a Romain Bardet (DSM), Carapaz (Ineos), Mikel Landa (Bahrain) e João Almeida (UAE Emirates), com Pozzovivo (Intermarché) a ficar em sexto a três segundos. Fecharam o top 10 Emanuel Buchmann (Bora, 16 segundos), Nibali (Astana, 34”), Valverde (Movistar, 46”) e Thymen Arensman (DSM, 58”). Na classificação geral, Juanpe López, da Trek, segurou a camisola rosa com apenas 12 segundos de avanço sobre o português, seguindo-se Bardet (14”), Carapaz (15”), Hindley (20”), Martin (28”), Mikel Landa (29”), Pozzovivo (54”), Buchamann (1.09) e Pello Bilbao (1.22). Em paralelo, João Almeida fica com a camisola branca da juventude, por estar em segundo atrás de Juanpe López. Derrotados do dia e fora da luta? Hugh Carthy (EF Education, a 3.48 de Hindley), Iván Ramiro Sosa (Movistar, 4.34), Ciccone (Trek, 9.26), Kelderman (Bora, 10.53) e Simon Yates (BikeExchange, 11.15).