“Não é por estamos a voar a 90% (da oferta de 2019) que temos uma boa situação financeira”, afirmou esta terça-feira a presidente executiva da TAP no parlamento esta terça-feira. Christine Ormières-Widener assegurou aos deputados que a empresa ainda não recuperou do ponto de vista financeiro e de resultados que lhe permita repor no curto prazo os cortes salariais negociados no ano passado, no quadro no plano de reestruturação.

A CEO da TAP revelou ainda que os custos vão subir 300 milhões de euros este ano com o aumento do preço dos combustíveis e deixou o compromisso de obter um financiamento privado ainda em 2022.

O tema da reposição dos cortes salariais mais cedo que o previsto no plano negociado com a Comissão Europeia foi central na audição da comissão parlamentar de economia e obras públicas que na semana passada ouviu os representantes dos sindicatos. A gestora considera que essa negociação é prematura uma vez que “voar mais não significa que estamos a recuperar receita. Precisamos de rendimentos líquidos positivos e isso leva tempo”. A recuperação económica e financeira da TAP demora quatro anos. “Não podemos imaginar que só seis meses depois está tudo bem”, afirmou a gestora em resposta à deputada do PCP, Paula Santos.

“Os acordos (que estabelecem cortes médios de 25% nos salários) foram assinados por quatro anos. E não apenas por um ano. Temos de encontrar formas de navegar por essa situação”, reafirmou quando foi questionada pela deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, sobre a contratação de funcionários em part-time para assegurar o aumento da oferta no verão, nomeadamente de tripulantes, uma situação que está a ser vivida por outras empresas como a British Airways e a Easyjet agravada por focos de infeção por Covid-19.

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A gestora reconheceu que a TAP pode “comunicar mais” e admitiu negociações com os sindicatos sobre o aumento da inflação. Christine Ormières-Widener reconheceu alguma dificuldade em segurar competências na empresa como engenharia e tecnologias de informação onde existem lacunas. Outro tema que será discutido com os sindicatos é a mudança de sede, um projeto sobre o qual a presidente executiva da TAP evitou dar mais detalhes e evitou responder a perguntas “políticas”.

Combustíveis custam mais 300 milhões

Christine Ormière-Widener alertou ainda para os vários fatores imprevistos que estão a influenciar a execução do plano de reestruturação, como a guerra na Ucrânia, a subida taxas de juro e a valorização do dólar face ao euro. O mais relevante é o aumento do preço dos combustíveis que terá um impacto do lado dos custos para a TAP de 300 milhões de euros este ano.

Na apresentação inicial, a gestora sublinhou que estas mudanças aumentaram os desafios colocados à empresa, como o impacto de 300 milhões de euros que a TAP está a tentar mitigar, nomeadamente passando uma parte do sobrecusto para o cliente final (com tarifas mais caras ou taxa de combustível cobrada no bilhete). Christine Ormières avisa ainda que não há expetativa de que este custo venha a diminuir até ao final do ano numa audição na comissão de economia e obras públicas onde foi chamada pelo PSD. O PS chamou o presidente não executivo, Manuel Beja, que também foi ouvido esta terça-feira.

TAP só terá condições de devolver ajuda do Estado a partir de 2025 via dividendos e não será fácil

A presidente executiva referiu também as medidas de redução de custos operacionais e na renegociação com os fornecedores. E lembrou as limitações de capacidade que afetam a retoma da TAP, como o teto de 99 aviões, a redução de 18 slots diários (faixas horárias para aterragem e descolagem) e as restrições no aeroporto de Lisboa.

Apesar dessas restrições a TAP está a caminho de operar a 90% da oferta que tinha antes da pandemia, meta que estava prevista para 2023. Ainda que admita antecipar o prazo previsto para repor os cortes salariais negociados com os sindicatos no ano passado, a presidente executiva da TAP diz que é “talvez demasiado cedo para negociar” já a reposição salarial que tem vindo a ser exigida pelos sindicatos. Mas essa será também uma decisão do acionista, afirmou em resposta ao deputado do PSD, Paulo Rios de Oliveira.

Em resposta ao deputado do PS, Hugo Costa, a presidente executiva da TAP indica ainda que a empresa está a concluir o primeiro relatório sobre o cumprimento das exigências da Comissão Europeia e que irá incluir o primeiro semestre. E garante que até agora, a empresa está a cumprir o plano de reestruturação.

A TAP vai devolver a ajuda ao Estado? O compromisso é obter financiamento privado este ano

Apesar da vontade das pessoas em viajar mais, a inflação também pode ter impacto nos resultados do plano. A gestora acrescentou ainda que a subida das taxas de juro também é uma condicionante já que os contratos financeiros da TAP são todos feitos em dólares. A empresa quer melhorar o rating para poder refinanciar-se em mercado, mas a presidente executiva admite que “vai ser difícil angariar fundos este ano. Temos de esperar para ver”, referiu quando questionada pelo deputado da Iniciativa Liberal, Carlos Guimarães Pinto.

Perante a insistência das perguntas: Vai a TAP devolver a ajuda do Estado? E quando? Christine Ourmières-Widener referiu que 2,5 mil milhões de euros é muito dinheiro (a gestora retirou a fatia de compensações pela Covid-19) e nunca reconheceu aquilo que lhe foi perguntado: assume que a TAP não vai devolver a ajuda pública como estão a fazer a Lufthansa e a Air France.  O “compromisso é fazer o melhor possível para termos financiamento privado este ano. Não posso dizer quanto porque isso seria uma resposta política. Mas queremos fazer o mais depressa possível”.

O plano de reestruturação previa que a TAP fosse ao mercado obter financiamento privado de 500 milhões de euros para complementar a ajuda pública, recorrendo eventualmente a uma garantia do Estado. Mas isso não significa que esse financiamento sirva para reembolsar o Estado.

Reduzir voos para Porto e ilhas. “Qualquer rota que dê dinheiro, abrimos de imediato”

A gestora foi ainda confrontada com a redução da oferta para o Porto e para as ilhas e assegurou que “qualquer rota que possa dar dinheiro abrimos de imediato. Não há agenda escondida”, realçou em resposta a André Ventura do partido Chega. A TAP, sublinhou, “está a caminho de se tornar autosuficiente, mas não podemos tornarmo-nos uma low-cost eficiente. Não é esse o nosso modelo de negócio”, realçou quando questionada pelas rotas abertas para esses destinos por empresas de baixo custo.

Ainda em resposta ao deputado e líder do Chega, Christine Ormières confirma que foi necessário a Portugália fazer um subleasing de aviões para colmatar um atraso na entrega de seis aparelhos pela Embraer que, adianta, não cumpriam os standards de qualidade. Essa operação que envolveu também a subcontratação de efetivos foi justificada pela gestora para salvar os slots que se perderiam no caso da Portugália não conseguir realizar esses voos. Seria uma “dupla punição” além dos 18 espaços que tem de ceder.

A presidente executiva referiu ainda que a empresa está atualmente a usar o número mínimo de slots previsto pela União Europeia — 64% — que permite evitar a perda destas faixas horárias para a concorrência.