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Canções para corações despedaçados de Imagine Dragons, festa de arromba com Parcels: o NOS Alive além de Da Weasel

Este artigo tem mais de 1 ano

A banda norte-americana de pop-rock regressou ao Passeio Marítimo de Algés este sábado e teve o público consigo. Mas foi no palco secundário, com os Parcels, que vimos uma festa de arromba.

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ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

O dia era de Da Weasel, mas os cabeças de cartaz eram os Imagine Dragons. E não faltavam fãs no recinto do Passeio Marítimo de Algés — vestidos a rigor, com t-shirts e até com as palmas das mãos pintadas com o nome da banda norte-americana de pop rock, destacavam-se da multidão. Alguns seguravam bandeiras junto às grades do palco principal, onde “acamparam” ao início da tarde para garantir o melhor lugar.

Formados em 2008 em Las Vegas, no estado norte-americano do Nevada, os Imagine Dragons foram, desde o início, um sucesso comercial. O primeiro disco, Night Visions (2012), vendeu mais de 83 mil cópias nos Estados Unidos da América e chegou ao top 10 de vendas em vários países — Portugal incluído. Com os álbuns seguintes não foi muito diferente. Em plena pandemia, lançaram Mercury — Act I e, este verão, Mercury — Act II. A digressão que os trouxe a Portugal, a “Mercury Tour”, iniciada em fevereiro nos Estados Unidos da América, serve para promover os dois discos, mas não foram estes o foco do concerto no último dia do NOS Alive, que percorreu a discografia dos Imagine Dragons, sem ignorar todos grandes hits. O alinhamento foi muito semelhante ao apresentado no Mad Cool Festival, em Madrid, onde também atuaram os Metallica, à exceção da versão acústica de “Forever Young”, o famoso tema dos Alphaville.

Mas já lá vamos. Primeiro, é preciso dizer que os Imagine Dragons tiveram a tafera ingrata de subir ao palco principal do NOS Alive depois dos Da Weasel (a banda do dia, como já referimos). Os fãs ainda estavam a digerir o regresso da “doninha” quando os norte-americanos começaram a tocar os primeiros acordes de “It’s Time”, do EP homónimo de 2011. Começava a correria para chegar perto do palco . “Estou a perder o início”, gritava uma fã enquanto fazia um sprint em direção aos Imagine Dragons. Em frente ao palco, uma compacta massa de fãs cantava o refrão, “It’s time to begin, isn’t it?”, enquanto uma chuva de papéis era disparada sobre a multidão. Os Image Dragons não olharam a custos, e durante o concerto houve vários momentos de fogo de artifício, o primeiro deles logo ao segundo tema, “Believer”.

Comunicativo e energético (mas nem sempre afinado), o vocalista, Dan Reynolds, lembrou que, há dez anos, a banda tocou em Portugal “para algumas centenas de pessoas”. Este sábado à noite, o recinto no Passeio Marítimo de Algés estava cheio (o dia esgotou). “Hoje estamos a celebrar com todos vocês”, disse, descrevendo a atuação da banda como “uma celebração, com a família e amigos”. Seguiu-se “Thunder” e um trovão iluminou a noite. Reynolds saiu do palco e percorreu o corredor em direção ao público, cantando com os fãs na primeira fila. A introdução de “Shots”, o tema seguinte, foi a pensar em todos os corações partidos: “Esta canção é para todos os que amaram profundamente e perderam alguém. Espero que encontrem paz”, desejou o vocalista, explicando de seguida o quão importante a música é para si e como tem a capacidade de “nos aproximar, quando o mundo nos diz que estamos separados”.

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ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Depois de “Birds”, de Origins (2018), Reynolds apresentou o resto da banda, que de seguida tocou “Follow You”, “Lonely” e “Natural”. Perto do fim, a cover de Alphaville e, a fechar, “Radioactive”. A banda despediu-se de uma multidão de fãs contentes, que não terão razão para se queixar da atuação da banda de Los Angeles. As várias digressões internacionais que o grupo fez desde 2012 deram-lhe a bagagem suficiente para saber construir um espetáculo de encher o olho — com explosões de fogo de artifício de fazer inveja a bandas de maior dimensão.

A festa de arromba dos Parcels, a repetir em palco maior

Um dos concertos a recordar desta edição do NOS Alive foi dos Parcels, australianos que têm o seu quartel musical montado na Europa, em Berlim. Tanto assim foi, aliás, que é difícil não ficar com a pressão de que os iremos rever nos próximos anos em palcos principais dos maiores festivais portugueses, como o é este do Passeio Marítimo de Algés. A única dúvida com que ficámos é quando.

Quando arrancaram o concerto, o palco secundário em que atuaram (patrocinado por uma cerveja holandesa) estava composto, mas ainda não lotado. Porém, foi-se enchendo de gente que vinha do palco principal com o final do concerto dos Imagine Dragons. O que se seguiu é difícil de traduzir por palavras. Talvez a expressão que mais se adeque seja festa de arromba, como vimos poucas vezes nestes palcos de festivais portugueses.

Em palco, é uma máquina oleadíssima de pop eletrónica, movida a disco e soul-funk açucarados. A secção rítmica é fortíssima, nunca esmorece. Quase não há pausas entre canções, porque um concerto de Parcels é uma festa constante. Mais impressionante ainda foi o êxtase que aquela música provocou: se a dança era mais expectável, porque o ritmo e o groove de uma synth-pop relativamente simples mas inebriante tornavam difícil ao corpo resistir, as letras dos temas serem cantadas de fio a pavio por portugueses e estrangeiros, sem distinção de nacionalidade, atesta bem a força da banda.

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Ao todo são cinco: um baterista, um guitarrista, um baixista e dois teclistas, que atacam os teclados como se fossem percussionistas. O principal vocalista é o músico que se encarrega da guitarra, Jules Crommelin, mas as vozes aliam-se harmonicamente para adoçar a dança. Ao longo do concerto vê-se gente a chorar, muitas pessoas às cavalitas de conhecidos, cerveja e chapéus a voar pelos ares. O histerismo chega ao ponto de bastar à banda dizer “NOS Alive festival” para se ouvir como resposta um coro impressionante de gritos. E em canções como “Comingback”, “IknowhowIfeel” e sobretudo “Tieduprightnow” a resposta do público é simplesmente eufórica.

Percebe-se que em estúdio a banda é eficaz, doce no seu balanço festivo, mas que é em palco que têm de ser vistos e ouvidos. Já em outros dois festivais portugueses, em 2018 e 2019, ficáramos com a impressão de que os Parcels têm tudo para serem capaz de convencer multidões cada vez maiores à medida que a tarimba de palco aumenta. Este ano, ficámos com a certeza: vamos certamente revê-los com pompa e circunstância, nos próximos anos.

Um pouco menos eficaz foi o concerto das Haim no palco principal do festival, ao final da tarde. As irmãs Este, Danielle e Alana já tinham atuado por duas vezes em Portugal, em 2018 (no Rock in Rio) e em 2014 (no NOS Primavera Sound). Paradoxalmente, o concerto, que aconteceu depois do melhor disco da carreira do grupo (Women In Music Pt III), não só não foi mais inspirado do que os anteriores como terá até ficado uns furos abaixo.

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Autoras de um pop-rock despretensioso, veranil e em alguns momentos algo juvenil (mas com um instinto certeiro para as melodias), as Haim nunca foram capaz de transpor o registo de estúdio para palco. Além de alguns momentos francamente confrangedores, como quando ensaiaram um telefonema que pareceu ostensivamente simulado, nunca a pose rock and roll lhes assentou na perfeição este sábado em Algés. O concerto até foi algo em crescendo, mas nunca chegou ao clímax esperado: nem quando interpretaram “The Steps”, o último e o melhor tema do alinhamento, que ainda assim perdeu bastante para a versão registada em estúdio.

A pista de dança de Two Door Cinema Club

Depois da explosão de Da Weasel e da atuação de Imagine Dragons, questionamo-nos se haveria necessidade de enfiar mais um nome no palco principal. Suspeitávamos que essa jogada pudesse não ser a mais sensata de todas e a chegada ao recinto no momento em que os Two Door Cinema Club subiram a palco reforçou a natureza das nossas dúvidas: de tanto espaço vazio, foi fácil chegar às primeiras filas. Enfim, a coisa lá se compôs, nunca ao ponto de ser desconfortável andar de um lado para o outro, o que até é uma bênção, depois de quatro dias de festival e calor nas pernas. Ter conforto é sempre uma bênção e às vezes parece que isso passa para segundo plano no campeonato dos números dos festivais que querem ser os melhores de sempre, sempre.

A situação podia, contudo, não se ter composto de todo, se a falha de som na faixa de entrada “I Can Talk” (parecia ironia) não se tivesse resolvido de imediato. Ainda se ouviram uns “buuuuh” de desagrado, mas rapidamente já todos cantavam e falavam sem qualquer condicionalismo.

Os corpos foram-se soltando ao som de temas como “Undercover Martyn” ou da novíssima “Wonderful Life”, piscadela de olho à pop de ABBA. Assim, de mansinho, os rapazes da Irlanda lá foram agarrando a plateia, tornando o recinto do Alive uma discoteca a céu aberto, com a lua, praticamente cheia, a fazer a vez da bola de espelhos. “It’s fucking great to be back to Portugal” lá nos disse Alex Trimble, para deixar entrar o falsete de “Bad Decisions”.

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Tecnicamente, os Two Door Cinema Club foram intocáveis. Aquilo que se ouve em álbum é o que se ouve em palco, o que pode ser bom e mau ao mesmo tempo. Gostamos de saber que este trio irlandês sabe fazer o seu trabalho direitinho, mas um concerto memorável precisa sempre de algum desalinho. Um prego humanamente desculpável (e quantos mandaram ontem os Metallica), um olhos nos olhos com o público, um desatino ou excesso qualquer, enfim, um pingo de emoção que nos lembre que não somos máquinas. Talvez Alex Trimble pudesse ter despido o blazer e suado mais um pouco. Sam Halliday, parecendo ouvir-nos, agarrou no microfone para dizer que nós éramos incríveis. “Adoramos vir cá, por nós vínhamos todos os anos”. E assim soltou “Eat That Up, It’s Good for You”.

Eles dizem-nos que têm mais um par de músicas debaixo da manga, já depois de terem tocado “Lavender” e “Chasing Seasons”. “Sun” foi a primeira, mas era bem claro que todos estavam à espera “daquela”. And I can tell just what you want / You don’t want to be alone / You don’t want to be alone. Algumas pessoas que estavam encostadas atrás pularam até bem lá à frente, soltaram tudo o que tinham contido até este momento. Lá veio o “thank you” final. Estava fechada a pista de dança e o palco principal da 14ª edição do NOS Alive.

No coração de um teenager caberá sempre uma Phoebe Bridgers

Phoebe Bridgers entrou em cena ainda Da Weasel estava a meio do concerto de várias vidas – da deles, da dos fãs, da do festival. Quando chegámos ao palco secundário, já soavam os últimos acordes de “Motion Sickness” e escorriam as primeiras de muitas lágrimas derramadas durante a hora que se seguiria. Phoebe reverbera no coração do público teen, que faz questão de berrar a cada respirar entre canções, a cada “nice to see you”. Cantam “Kyoto” como se esse fosse o seu hino geracional e talvez seja mesmo.

Com a sua inabalável postura irónico-deprimida, Phoebe escreve canções para serem cantadas na solidão da noite, mas afinal não está sozinha, há muitos que lhe acompanham as palavras. Há, como lembra em “Funeral”, sempre um amigo a quem ligar para chafurdar connosco no fosse existencial, rindo-se logo depois da nossa maquilhagem borrada.

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Atrás da cantora de 27 anos, alicerçada por uma banda vestida com fatos de esqueleto, guarda-roupa que encaixaria perfeitamente no imaginário de Tim Burton, vão passando várias projeções sonhadoras, bonitas recriações de livros pop up, daqueles que abríamos em criança para ver surgir castelos, jardins encantados, a lua gorda num pano estrelado, lugar para onde todos os sonhos voam.

Ela diz que é fixe estar aqui, longe de casa, enquanto na América andam a atirar a matar sobre pessoas. “It’s all I have to say”. Prossegue com “Waiting Room” para descer à plateia totalmente em delírio – convulsões frequentes durante todo o concerto – já depois de ter passado por “Punisher”, canção título do seu último álbum editado em 2020. De lá também saíram “Chinese Satellite”, “Moon Song” e “ICU”, que teve uma falsa partida sem direito a explicação. Trinta segundos de silêncio em palco, Phoebe de olhar fixo, aparentemente indiferente, até que resolve soltar um “ok” e recomeçar o tema.

Nos microfones da banda acendem-se luzes de pirilampo, como se fossem as luzes do nosso quarto de adolescente. A voz sussurrante de Phoebe, que raramente sai de um registo monótono, é aquela que ouvimos de auscultadores, deitados na cama. There’s no place like my room, já diz em “I Know The End”, música que encerrou o seu primeiro concerto em Portugal, com uma reta final a pegar fogo, de guitarras a chorar exageradamente à Guns N’ Roses e bateria a desfazer os pratos numa psicose descontrolada.

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Antes ainda interpretou “Me & My Dog”, canção do projeto Boygenius que partilha com Lucy Dacus e Julien Baker, num momento a solo, fora do guião. No fim, o público ainda clamou pelo seu nome, a plenos pulmões, mas Bridgers não regressou. Se os programadores tiverem estado atentos a este concerto, onde o indie tristonho foi apoteose em muitas jovens almas, certamente que não tardará a regressar aos palcos portugueses.

Manuel Cruz e a fé “nessa força bruta de viver”

A faixa etária viria a subir no concerto seguinte. Arriscamo-nos a dizer que muitos dos que viram Da Weasel, estavam agora ali, no palco Heineken, para ver Manel Cruz. Carlão bem advertiu que ele iria tocar às 23h30. O aviso foi levado a sério.

Manel trocou de imediato os vês pelos bês para puxar do bom vernáculo do Porto, “É tão lindo, caralho. Fodasse! Se as caralhadas não se dizem numa altura destas, nunca se dizem”. Está tudo certo. No concerto de hoje ele foi one man show, ora pegando na guitarra, ou no baixo acústico ou no cavaquinho, conforme ia passando de músicas com maior ou menor “dor de corno”. “Ainda não acabei” ou “O Navio Dela” foram debitadas por todos quanto o viam e, com uma ajuda deste calibre, ele nem sequer precisou de ninguém em palco, deixa bem claro, em tom de agradecimento.

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Sempre descontraído e bastante conversador, Manel viajou entre “Vida Nova”, o álbum que lançou em 2019, e músicas pré Ornatos Violeta, coisas tão “fodidas” que nem sequer “passaram na alfândega”. O que vale é que Kinorm – amigo, baterista dos Ornatos e road manager escondido atrás da mesa de som – é tão maluco como Manel e curtiu a tal música que ficou meia esquecida no bloco de juventude. “Falso Graal” é um fado de sarjeta lentamente arpejado na guitarra, tocado com passo errante e finalizado com uma harmónica ao estilo de Bob Dylan.

Manel Cruz acabou o concerto de tronco nu (como não?) declarando a sua fé nas novas gerações, “nessa força bruta de viver”. “Enquanto eu puder, vou simplesmente ignorar qualquer ordem para desistir”. Não serás o único a fazê-lo, felizmente.

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