A Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB) defendeu esta quarta-feira que o passe Navegante de transporte público na Área Metropolitana de Lisboa deve incluir as bicicletas partilhadas, “sem um esforço suplementar” no preço a pagar pelos utilizadores.
No âmbito do II Fórum Cidades e Vilas com Bicicletas Públicas Partilhadas, que decorreu em Lisboa, o presidente da FPCUB, José Manuel Caetano, disse que o sistema de bicicletas partilhadas “não é para dar lucro”, pelo que “ganham todos” com a proposta de o incluir no passe Navegante.
Em declarações à agência Lusa, José Manuel Caetano reforçou a necessidade de investir nos modos suaves de transporte, inclusive a promoção do uso da bicicleta, para contribuir no combate às alterações climáticas, assim como “reduzir a taxa de poluição muito elevada, sobretudo em Lisboa”.
O representante da FPCUB destacou a importância de ter estações de bicicletas partilhadas nos interfaces de transportes públicos, porque isso permite a “conjugação perfeita” dos diferentes modos, nomeadamente autocarro, metro, comboio e bicicleta, oferecendo a possibilidade de escolha aos utilizadores consoante as necessidades de mobilidade.
José Manuel Caetano enalteceu a rede de bicicletas partilhadas GIRA, disponibilizada pela Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL), considerando que “é um bom exemplo” para a promoção do uso da bicicleta e que “está a resultar”, em que há a possibilidade de fazer viagens até 45 minutos de forma gratuita e o custo do passe anual é de 25 euros.
Em Lisboa, em cada 10 bicicletas na rua, sete são partilhadas e três são de cidadãos”, indicou o representante dos utilizadores de bicicleta, referindo que andar com a bicicleta própria sempre atrás acaba por ser “um prejuízo económico para o utilizador”, uma vez que este é um bem que “é roubado com muita facilidade”.
Para a federação, é preciso também avançar na acalmia de tráfego rodoviário, com o alargamento das zonas de 30 quilómetros por hora (km/h) na cidade, “até porque é uma ilusão as pessoas pensarem que quando vêm de automóvel para Lisboa que andam a mais de 30 km/h, porque os engarrafamentos são constantes”.
O presidente da FPCUB referiu que o espaço público deve ser partilhado de forma equilibrada, inclusive permitir que as crianças brinquem na rua, em que a circulação dos diferentes modos de transporte fica sujeita “à velocidade das crianças, quer sejam bicicletas, quer sejam automóveis”.
A nível nacional, a expectativa da federação é que a implementação de sistemas de bicicleta partilhada seja generalizada a todo o país.
Presente no II Fórum Cidades e Vilas com Bicicletas Públicas Partilhadas, o presidente da EMEL, Luís Natal Marques, afirmou que o investimento na rede GIRA é “um capital positivo” da empresa municipal de Lisboa, mas que “não é lucrativo”, apesar de os benefícios sociais não serem contabilizáveis, explicando que o financiamento deste sistema é assegurado com receitas do estacionamento.
Luís Natal Marques indicou que a rede de bicicletas partilhadas GIRA é “um sistema público de transporte”, sendo uma alternativa aos outros modos de transporte público, em vez de ser dedicado a transporte lúdico, revelando que “a utilização ao fim de semana desce para menos de metade”.
Neste momento, a rede GIRA dispõe de 1.600 bicicletas e 140 estacões e já realizou 12 milhões de quilómetros e mais de sete milhões de viagens, informou o presidente da EMEL, acrescentando que uma bicicleta realiza em média sete viagens por dia, enquanto um lugar de estacionamento é ocupado em média por três automobilistas por dia.
Referindo que 70% do espaço público em Lisboa é dedicado ao estacionamento de automóveis, em que algumas zonas da cidade chegam aos 85%, o responsável da EMEL criticou a “guerra civil entre automobilistas e ciclistas”, defendendo que o espaço tem de ser partilhado por todos e há a necessidade de “equilibrar” o domínio do automóvel para dar espaço aos modos suaves, em que as ciclovias beneficiam ambos em termos de segurança nas vias.