“Os Jovens Amantes”

Shauna, uma arquiteta septuagenária reformada (Fanny Ardant), e Pierre, um médico quarentão casado e com filhos (Melvil Poupaud), voltam a encontrar-se 15 anos após se terem conhecido, e envolvem-se um com o outro. A novidade deste filme de Carine Tardieu (que desenvolve uma ideia da falecida Solveig Anspach) não é tanto a relação entre uma mulher idosa e um homem muito mais novo que ela e com família constituída, mas sim a relutância e o realismo com que aquela a encara. Aqui, quem perde a cabeça e não pára de pressionar o outro é o homem, e não a mulher. Tardieu não permite que o filme resvale para o melodrama fungão ou que se torne implausível, e Fanny Ardant é magnífica de intensidade e subtileza emocional numa Shauna ao mesmo tempo contente e lisonjeada por ser alvo do interesse amoroso de um homem, ainda por cima muito mais novo do que ela, e resistente e temerosa dos avanços deste, por perceber que a sua idade e estado de saúde vão condicionar  a relação inevitavelmente.

“Nunca Nada Aconteceu”

Um velho agricultor muda-se do campo para Lisboa, para casa do filho, que está desempregado, e da nora, que o trai com outro homem, enquanto que o neto, um adolescente, falta às aulas para estar com a amiga e o amigo com os quais forma um trio inseparável, tomado por uma inquietação que sentem, mas não sabem definir. Gonçalo Galvão Teles trabalha aqui sobre um argumento original de Luís Filipe Rocha retomado por Tiago R. Santos e dispõe de um elenco de atores experimentados (Filipe Duarte — foi o seu último filme –, Ana Moreira, Rui Morisson, Beatriz Batarda) e jovens (Bernardo Lobo Faria, Alba Baptista, Miguel Amorim). Mas esta história de uma família em implosão e de alienação juvenil resulta numa fita prostrada, apática e terrivelmente monótona, desprovida de energia narrativa e palpitação dramática, com interpretações monocórdicas, impossibilitando a necessária captação do interesse do espectador e o seu envolvimento emocional com o enredo, as situações e as personagens.

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“Fogo-Fátuo”

O novo filme de João Pedro Rodrigues é uma comédia satírica “gay” com laivos de musical, que abre no Portugal de 2069, onde um aristocrata agonizante, Alfredo (Joel Branco na velhice/Mauro Costa na juventude), recorda os seus tempos de rapaz e príncipe em que, contra a vontade da sua reacionária família, se foi oferecer como voluntário para os bombeiros e ajudar a combater os incêndios que assolavam o país. Acabou por se descobrir homossexual e ter uma relação com Afonso (André Cabral), um colega negro, de origem social nos antípodas da sua e de apelido Carbonário. É difícil dizer o que é menos conseguido em “Fogo-Fátuo”, se o primarismo sem suspeita de piada da “charge” contra os monárquicos, se o simplismo traquina do discurso pseudo-provocatório que percorre todo o filme, nas suas componentes socio-políticas e sexuais. João Pedro Rodrigues é bem mais talentoso e inspirado do que isto.

“Boa Sorte, Leo Grande”

Emma Thompson interpreta, neste filme da australiana Sophie Hyde escrito pela inglesa Katy Brand, uma sexagenária viúva e professora de Moral e Religião reformada chamada Nancy Stokes, que depois de uma longa vida conjugal sexualmente rotineira e frustrante, em que nunca teve um orgasmo, quer finalmente saber o que é o prazer e viver uma experiência sexual que a satisfaça. Por isso, Nancy contactou um acompanhante de luxo (ou, na terminologia politicamente correta de hoje, “trabalhador do sexo”) e reservou um quarto num hotel para o receber. Quando o dito, de nome profissional Leo Grande (Daryl McCormack) aparece, revela-se ser um rapaz educado, afável, compreensivo e paciente. “Boa Sorte, Leo Grande” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.