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Ewan & Ethan e a vontade de matar o pai

Este artigo tem mais de 1 ano

Ewan McGregor e Ethan Hawke encontram-se, enfim, no mesmo filme: “Raymond & Ray”, o novo original da Apple TV+. A ver, conscientes de que não desceremos abaixo dos três palmos e meio de literatura.

Raymond (McGregor) é o filho certinho, com a roupa e a profissão certinhas e que, no entanto, acumula casamentos errados; Ray (Hawke), o rebelde sem causa, músico, ex-toxicodependente em recuperação e eterno playboy
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Raymond (McGregor) é o filho certinho, com a roupa e a profissão certinhas e que, no entanto, acumula casamentos errados; Ray (Hawke), o rebelde sem causa, músico, ex-toxicodependente em recuperação e eterno playboy

Raymond (McGregor) é o filho certinho, com a roupa e a profissão certinhas e que, no entanto, acumula casamentos errados; Ray (Hawke), o rebelde sem causa, músico, ex-toxicodependente em recuperação e eterno playboy

É incrível que nunca nos tivéssemos lembrado de juntar Ewan McGregor e Ethan Hawke no mesmo filme – e a fazerem de irmãos, claro. E dizemos isto no plural porque é culpa coletiva: como apontar o dedo aos produtores e dizer-lhes “Como é que nunca ninguém tinha pensado nisto?” Era dever cívico do próximo, tendo tido esta ideia, escrever a Hollywood, organizar abaixo-assinados, boicotes, marchas de protesto. Essa é a primeira grande vitória de “Raymond & Ray”.

O método: juntar aqui dois grandes atores, dois ícones de uma determinada época, os dois anjos caídos do fim de século, o estranho caso de dois gémeos nascidos com cinco meses de intervalo, cada um na sua margem do Atlântico. E pôr-lhes aos ombros uma pequena grande história: dois irmãos reencontram-se, ao fim de anos, para enterrar o pai. Literalmente. Só que este original da Apple TV+, que tem um daqueles trailers feel-good que parecem todos editados pela mesma pessoa, constitucionalmente obrigada a fazer crer que todo o cinema é diversão, não vai tão fundo como poderia e deveria. Pun intended. Ficamos a três palmos e meio de terra. Nos tempos que correm, é quase profundo.

[o trailer de Raymond & Ray:]

Escrito e realizado pelo colombiano Rodrigo Garcia (filho de nem mais nem menos do que Gabriel García Márquez, mas nem comecemos com comparações, porque nunca seriam justas), e produzido por um dos vértices do triângulo de ouro do cinema mexicano, Alfonso Cuarón, a fasquia é um problema que “Raymond & Ray” cedo resolve com o tom despretensioso da abordagem. Num pequeno lugar, dois homens falhados encontram-se para enterrar o pai, que não viam há anos e ambos odeiam, numa road trip que, em última instância, os reconcilie com eles próprios.

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Raymond (McGregor) é o filho certinho, com a roupa e a profissão certinhas e que, no entanto, acumula casamentos errados; Ray (Hawke), o rebelde sem causa, músico, ex-toxicodependente em recuperação e eterno playboy. Na verdade, Raymond e Ray são apenas meios-irmãos, filhos de duas das muitas mulheres da vida de Benjamin Reed Harris III (brevíssimas aparições de Tom Bower), que, no entanto, cresceram juntos durante os anos decisivos do crescimento e da constituição dos bro codes. Mas o que vão descobrir na viagem até à última morada do pai é muito mais do que a sua bizarra última vontade – que os filhos lhe cavem a sepultura –; é o que tantas vezes talvez aconteça: a vida de um homem para lá do pai que soube ou não ser.

A viagem de autodescoberta fica-se por soluções simpáticas e redenções sem especial golpe de asa, dando afinal razão ao fazedor de trailers que tudo transforma em comédia familiar de sábado à tarde

Um homem, neste caso, amado, estimado e admirado por um desfile de personagem que inclui a enfermeira dos últimos dias (magnífica Sophie Okonedo), um reverendo extravagante e (Vondie Curtis Hall) e até a derradeira companheira, Lucia, aliás, o reencontro com a maravilhosa Maribel Verdú (“Y Tu Mamá También”), espanhola de Madrid que talvez pensemos sempre como mexicana, exatamente da mesma geração de Hawke e McGregor, novamente ao serviço de um ambíguo papel de materna tentação.

É uma pena que “Raymond & Ray” – que, a dado passo, ainda junta à composição mais um condimento de luxo: a música, o jazz, no trompete que traz de novo à vida a personagem de Hawke – não tire tudo quanto podia (e devia) de tão felizes elementos. A viagem de autodescoberta fica-se por soluções simpáticas e redenções sem especial golpe de asa, dando afinal razão ao fazedor de trailers que tudo transforma em comédia familiar de sábado à tarde. E se Hawke é tudo quanto se podia esperar dele, carregando atrás, sem embaraço, o seu próprio património fílmico e acrescentando-lhe mais esta encarnação, McGregor é pouco mais do que uma desilusão, numa figura de menino de coro tão pouco convincente que nunca consegue sequer fazer-nos esquecer da sua origem britânica, quanto mais levar-nos a outra verdade qualquer, mais humana.

“Great Expectations” era, ironicamente, o título da outra vez em que Rodrigo Garcia (então operador de câmara), Alfonso Cuarón (realizador) e Ethan Hawke se tinham cruzado. 24 anos depois, quase se confirmavam.

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