O chanceler alemão, Olaf Scholz, realiza na sexta-feira a primeira visita à China desde que assumiu o poder, numa altura em que Alemanha e União Europeia (UE) estão a reajustar a abordagem em relação a Pequim.

A visita de Scholz vai enfrentar um escrutínio minucioso. Embora o seu governo tenha já sinalizado um afastamento da abordagem puramente comercial em relação àquele país asiático, cultivado pela antecessora Angela Merkel, Scholz leva consigo uma delegação empresarial, que inclui os presidentes executivos da Volkswagen, BioNtech ou Siemens.

A deslocação surge também após a polémica suscitada pelo investimento de uma empresa de gestão de portos chinesa num terminal de contentores alemão.

O líder da maior economia da Europa vai reunir em Pequim com o Presidente Xi Jinping e o primeiro-ministro Li Keqiang, durante a visita de um dia. Face às altamente restritivas medidas de prevenção contra a Covid-19 que vigoram na China, a delegação alemã não vai passar a noite em Pequim.

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Trata-se da primeira visita de um líder da UE desde o início da pandemia e ocorre logo depois de Xi obter um terceiro mandato como secretário-geral do Partido Comunista Chinês e promover aliados ao topo da hierarquia do poder na China.

A deslocação surge também num contexto de crescentes tensões entre China e Taiwan e após um relatório da ONU ter considerado que os abusos contra minorias étnicas de origem muçulmana na região de Xinjiang, no noroeste da China, podem equivaler a “crimes contra a humanidade“.

Um alto funcionário alemão, que informou os repórteres sob condição de anonimato, caracterizou a visita como uma “viagem de exploração“, para apurar “onde está a China, para onde vai a China e que formas de cooperação são possíveis com esta China específica, na atual situação global”.

O funcionário apontou para a “responsabilidade particular” de Pequim, como aliada da Rússia, em ajudar a pôr fim à guerra na Ucrânia e pressionar Moscovo a suavizar a sua retórica nuclear.

O chanceler vai também procurar “equilibrar” as relações económicas.

A China foi o maior parceiro comercial da Alemanha, em 2021, pelo sexto ano consecutivo. Aquele país asiático foi a principal origem das importações alemãs e o segundo maior destino das exportações, a seguir aos Estados Unidos.

O Governo de Scholz reconheceu já, no entanto, que a China é cada vez mais um concorrente e um “rival sistémico”, bem como um parceiro em questões como as alterações climáticas. A sua coligação, composta por três partidos, prometeu elaborar uma “estratégia abrangente para a China“.

A ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, disse no domingo que teme “que o erro cometido pela Alemanha nos últimos anos com a Rússia se possa repetir”, equiparando a dependência do gás russo à dependência no mercado chinês.

“Devemos evitar isso”, apontou.

Os comentários de Baerbock surgiram depois de o Governo alemão ter debatido se permitiria ou não que a chinesa COSCO assumisse uma participação de 35% num terminal de contentores no porto de Hamburgo. Baerbock e outros governantes opuseram-se ao acordo, enquanto Scholz minimizou a sua importância. A COSCO foi autorizada a assumir uma participação abaixo dos 25%. Uma participação superior permite ao investidor bloquear as decisões da empresa.

Ao contrário dos seus dois antecessores imediatos, Scholz fez do Japão, e não da China, o seu primeiro destino asiático e está a incentivar as empresas a diversificarem, mas não está a desencorajar os negócios com a China.

Após uma cimeira da UE, realizada no mês passado, o líder alemão afirmou: “Ninguém está a dizer que temos que sair [da China], que não podemos mais exportar, importar ou investir [na China]”.

Mas, num mundo cada vez mais multipolar, “não devemos concentrar-nos em apenas alguns países”, sublinhou.

“Não colocar os ovos todos na mesma cesta é o mais sábio”.

Na mesma cimeira, os líderes dos 27 países da UE discutiram a redução da sua dependência face à China no fornecimento de equipamentos de tecnologia e minerais brutos, e concordaram em exigir um melhor equilíbrio nas relações económicas, enquanto trabalham com Pequim em questões globais.

Citado pelo jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, Scholz garantiu que está a viajar “como europeu” e que Berlim consultou de perto os parceiros europeus e transatlânticos antes da visita.

Disse também que a “política da Alemanha em relação à China só pode ser bem-sucedida se incorporada numa política europeia”.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China Zhao Lijian disse, na terça-feira, que Pequim acredita que a visita de Scholz “vai injetar novo ímpeto” no desenvolvimento da “parceria estratégica abrangente” entre os dois países e que “contribuirá para a paz, estabilidade e crescimento mundial”.