A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, garante que só soube da conta arrestada de Carla Alves “depois da tomada de posse e pela comunicação social”.

A ministra foi ouvida na sequência da demissão de Carla Alves, que foi secretária de Estado da Agricultura durante pouco mais de 24 horas, tendo apresentado a demissão após as notícias que davam conta do arresto de contas bancárias. A audição foi pedida pelo PSD, Chega, IL e PAN.

Aos deputados, a ministra adiantou que questionou Carla Alves sobre se esta tinha condições para assumir o lugar e se tinha algum processo. “Ela deu conta que não tinha nenhum processo, e que o processo do marido não tinha implicações com ela própria”, afirmou.

A ministra começou por afirmar que a escolha para a secretaria de Estado, para substituir Rui Martinho que pediu para sair devido a um problema de saúde, recaiu em Carla Alves devido ao seu perfil, que enquanto diretora regional de agricultura, tendo passado pela CRESAP, “demonstrou grande competência nas matérias” e o setor “reconhece o seu mérito”. “Tem um currículo no qual ninguém pode pegar”, defendeu a ministra, e dava “a garantia continuidade das políticas que queremos seguir”

A ministra afirmou que questionou Carla Alves sobre se tinha condições para assumir o lugar, até por questões logísticas, por viver em Trás os Montes, e questionou a existência de processos. “Fomos confrontados por um órgão de comunicação social que falava do processo do marido. Perguntámos, e mais uma vez foi dito, que o processo era do marido. Soubemos que havia uma conta conjunta que tinha tudo declarado. Foi essa a informação que passámos ao órgão de comunicação social, que não foi tida em conta”, adiantou Maria do Céu Antunes.

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“Fomos surpreendidos com a notícia do Correio da Manhã. Dirigi-me à secretária de Estado e chegámos à conclusão de que há um processo do marido, que diz respeito às funções de autarca do marido, que é acusado, mas o MP não acusou Carla Alves”, sublinhou. “A conta arrestada era conjunta. Em momento nenhum ela foi arguida, acusada, e a informação que nos deram foi esta. A avaliação política foi feita pela própria. Carla Alves entendeu que não tinha condições políticas e pessoais para continuar no cargo”, explicou a ministra.

Após nova ronda de questões, a ministra reafirmou o que já tinha dito. “Não tinha conhecimento de qualquer processo judicial que a envolvesse à data que a convidei. Escolhi alguém que tecnicamente me pudesse ajudar a dar continuidade às políticas, e o currículo de Carla Alves, o conhecimento dos seus pares, dos agricultores, das confederações, todos eram favoráveis a esta pessoa”, afirmou.

“Nada indiciava que não reunisse as condições para o fazer. Foi nesse pressupostos que lhe fiz o convite e que a própria aceitou, reconhecendo que tinha condições para o fazer. Após a tomada de posse, recebemos pergunta do Correio da Manhã sobre se tínhamos conhecimento do processo que envolvia o marido e o arresto das contas. Não tinha conhecimento do arresto nem de outras questões que foram publicitadas no dia seguinte”, concluiu.

Questionado pelo Chega sobre a notícia do jornal Público que dava conta de que a ministra tinha conhecimento do processo, a ministra revelou que o jornal questionou o gabinete às 21h do dia 5 de janeiro, e que a resposta foi que “não tinha conhecimento” e que “o Público não publica isto”. “No dia 6, o Público noticia o meu conhecimento, fala em três fontes mas não diz quais. Não foi considerado o meu comunicado a desmentir. O meu gabinete esclareceu a comunicação social durante todo o dia. Decidi não prestar mais declarações perante o anuncio de uma audição em comissão de inquérito. Acho que não restam dúvidas sobre esta matéria”, declarou, não respondendo se vai processar o jornal.

Questionário serve para “auto avaliação mais criteriosa”

Os deputados que requereram a audição da ministra insistiram em mais explicações. Pedro Frazão, do Chega, afirmou que “ninguém acredita que a senhora ministra não soubesse”, envolvendo-se até numa discussão à margem com a deputada socialista Berta Nunes. Frazão questionou ainda a ministra sobre se já preencheu o formulário de 36 perguntas criado pelo Governo para a escolha de governantes, questão repetida pela IL. Rui Rocha quis saber porque é que “um processo que envolva o agregado familiar agora é motivo para não entrar para o governo e antes não era?”.

Sobre esta questão, a ministra enumerou todos os cargos para os quais foi eleita ou nomeada, desde 2006, afirmando que sempre avaliou se tinha condições pessoais e políticas para assumir esses cargos. “Fi-lo com o sentimento de poder dar uma resposta cabal ao que entendo ser um serviço publico, que é ir além da espuma dos dias e desenvolver políticas que ajudem as pessoas. Desde 2006 que faço essas perguntas”.

Para a ministra, o questionário tem a função de levar o convidado “a fazer a sua auto avaliação de forma mais criteriosa”. Sobre a substituição de Carla Alves, Maria do Céu Antunes adiantou apenas que “estamos a preparar-nos para encontrar uma solução que sirva e que seja a melhor para a agricultura portuguesa”. E que com esta audição “espero que possamos fechar este capítulo”, finalizou.