O filme “Sombras Brancas”, que Fernando Vendrell fez sobre o escritor José Cardoso Pires, a partir do livro “De profundis, valsa lenta”, estreia-se nos cinemas a 20 de abril, disse à Lusa a distribuidora Zero Em Comportamento.
“Sombras Brancas” foi coescrito por Fernando Vendrell e Rui Cardoso Martins, adaptando para cinema o romance “De profundis, valsa lenta” (1997), no qual José Cardoso Pires relata a experiência de “morte branca”, ao ter sofrido um acidente vascular cerebral em 1995, aos 71 anos.
É uma obra única do ponto de vista literário e humano e reparto com o escritor esta obsessão da importância da memória como evidência do humano”, afirma Fernando Vendrell na nota de intenções.
Na longa-metragem, a figura de José Cardoso Pires é interpretada pelos atores Rafael Gomes e Rui Morison, em diferentes idades, que contracenam com Ana Lopes e Natália Luíza, no papel de Edite, a mulher do romancista.
O elenco conta ainda com atores como Raquel Rocha Vieira, Iris Cayatte, Soraia Chaves, Maria João Bastos e Rogério Samora, num dos seus últimos papéis no cinema.
“Sombras Brancas” foi rodado no final de 2020, em plena pandemia da Covid-19, e montado no segundo confinamento geral, em 2021.
“Este filme foi também uma experiência limite em que eu, o elenco e a equipa técnica nos confrontámos com a fragilidade humana”, lembrou Fernando Vendrell.
Aquando da rodagem, o realizador e produtor contou à agência Lusa que o filme, apesar de partir do livro “De profundis, valsa lenta”, se estende a todo o universo literário de Cardoso Pires, que morreu em outubro de 1998.
É uma biografia invulgar do escritor, referenciando muito o universo da escrita dele, até do universo visual, as amizades, as dificuldades que teve, a censura. Traço assim uma espécie de pórtico estranhíssimo. No filme, estamos na cabeça do escritor, onde memória, ficção e imaginário se misturam”, contou o realizador.
Quando foi editado em 1997, “De profundis, valsa lenta” teve um prefácio do neurocirurgião João Lobo Antunes, que considerou o relato de Cardoso Pires um testemunho singular, porque há escassa produção literária sobre acidentes vasculares cerebrais.
Fernando Vendrell é autor de filmes como “Aparição” (2018), “Pele” (2006) e “O gotejar da luz” (2002) e das séries “Três mulheres” (2018), “O dia do regicídio” (2008) e “Bocage” (2006).
Como produtor assinou, entre outros, “Variações”, de João Maia, “Bobô”, de Inês Oliveira, e “Infância, Adolescência, Juventude”, de Rúben Gonçalves.