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Antigo Cinema Olympia em Lisboa vai ser um hotel "temático, do mundo das artes"

Este artigo tem mais de 1 ano

A sala de cinema da capital está fechada desde que deixou de exibir filmes pornográficos. As obras arrancam nos próximos meses e o hotel deve abrir portas em 2025, confirmou o proprietário.

A fachada do Cinema Olympia, fotografado na segunda década do século XX por Joshua Benoliel
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A fachada do Cinema Olympia, fotografado na segunda década do século XX por Joshua Benoliel

Arquivo Municipal de Lisboa

A fachada do Cinema Olympia, fotografado na segunda década do século XX por Joshua Benoliel

Arquivo Municipal de Lisboa

O cinema Olympia, nos Restauradores, em Lisboa, fechado desde 2001 e que nos últimos anos de atividade reproduzia filmes pornográficos, vai ser um hotel. Começam “nos próximos meses” as obras de reconversão do imóvel para um hotel de quatro estrelas, 64 quartos e um pequeno restaurante, confirma José Frazão, empresário de 54 anos e único proprietário do antigo cinema da Rua dos Condes. O hotel “temático, do mundo das artes” deve abrir em 2025.

O projeto de arquitetura é assinado por João Reino, que exerceu funções durante cerca de doze anos na Câmara Municipal de Lisboa (CML), e é responsável por projetos de reabilitação urbana e hotelaria. Será um hotel “temático, do mundo das artes”, com referências ao período em que a sala tinha encenações teatrais. “Vamos tentar homenagear os tempos do teatro. O Olympia foi vivido com o teatro. A passagem para cinema foi um fim um pouco trágico. Era um cinema que passou a passar filmes pornográficos. Mas prefiro nem falar nisso”, descarta o empresário, que recusa revelar o valor pelo qual comprou o velho cinema. “Foi uma transferência de dívida com a Caixa”, resume. No hotel temático não haverá lugar a referências para os tempos de cinema pornográfico que marcaram as últimas décadas de funcionamento. “Nem pensar. Sou português, católico. Não faz qualquer sentido passar essa mensagem”.

Será o terceiro hotel do também diretor-geral da feira ExpoSalão (Batalha), depois do Hotel Lis Baixa, na Rua dos Douradores, em Lisboa, e o Hotel Lis, também na Batalha, distrito de Leiria. Este será mais um hotel Lis e herdará o nome da mítica sala: Hotel Lis Olympia.

O projeto já foi aprovado pela CML, garante José Frazão. “A aprovação é de 2018 ou 2019, depois a Helena Roseta [na época presidente da Assembleia Municipal de Lisboa] pediu para avaliar o porquê de não ser um teatro. Pediu a alguém para lá ir ver. Depois perceberam”, diz. E revela: “Lá dentro já foi tudo destruído. Não tem nada dentro. Só não ardeu. Mas deitaram tudo abaixo”.

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Um sonho de La Féria

José Frazão comprou o Olympia “em 2015 ou 2016” ao produtor e encenador Filipe La Féria, proprietário do antigo cinema desde 2003. A ideia era fazer do prédio, que fica a dois passos do Teatro Politeama (outro espaço de La Féria, na Rua das Portas de Santo Antão, na altura em ruínas) mais uma sala de espectáculos, tirando partido do facto de serem edifícios contíguos separados apenas por uma porta. “Estou muito satisfeito, como se pode imaginar. O Olympia é um espaço mítico de Lisboa, foi um dos primeiros animatógrafos da capital, e, infelizmente, nestes últimos anos estava decadente e só passava filmes pornográficos. Agora, só posso prometer ao público que vou lá fazer espectáculos de grande qualidade, como aqueles a que o tenho habituado”, dizia então ao Correio da Manhã, sem nunca adiantar os números da compra.

Meses depois, o estado de degradação do edifício obrigaria a Câmara Municipal de Lisboa a “interditar a abertura do Olympia”. Fechado desde que deixou de exibir filmes pornográficos, as obras de recuperação e transformação do espaço só começariam em 2009, noticiava na altura o Diário de Notícias. A duração prevista então era de seis meses, e o objetivo deixara de ser apenas o de transformar o antigo cinema num teatro, mas também erguer ali uma escola de artes do espectáculo. “Não quero fazer aqui um teatro convencional. O palco é pequeno, dá para fazer um teatro shakespeariano, com três balcões de público à volta. A sala terá a altura do edifício, dois andares”, explicava o encenador à publicação.

O Olympia foi comprado por Filipe La Féria, que tinha o projeto de associar o edifício ao Politeama. Acabou por vender o cinema como forma de pagamento de dívidas

Filipa Bernardo/Global Imagens

Mas “as coisas correram mal”, admite Filipe La Féria hoje ao Observador. “Depois de comprar [o Olympia] pedi um empréstimo à Caixa Geral de Depósitos, mas há um plano da Avenida da Liberdade e o que resultou é que passaram-se quatro, cinco, seis anos e já não era capaz de pagar à Caixa porque as obras atrasaram imenso. Aquilo foi tudo abaixo. A Caixa deu-me um ultimato e tive de vender o Olympia. Vai ser um hotel. É uma história triste”, lamenta. Sem avançar o valor pelo qual vendeu o imóvel, garante que foi insuficiente para pagar as dívidas contraídas. “Foi vendido abaixo do preço, estava aflito para pagar à Caixa”. “Tive de vender coisas minhas. A dívida aumentou muito”, explica. “Os bancos são leoninos e a Caixa é leonina quando empresta”.

Matinés infantis e um fim pornográfico

O Cinema Olympia é um dos mais antigos cinemas da capital e o primeiro na Rua dos Condes, onde se instalaria mais tarde, em 1927, o Odéon (onde, de resto, sucede situação semelhante, já com obras em marcha para transformar a mítica sala lisboeta num restaurante e apartamentos de luxo). Foi inaugurado a 22 de abril de 1911 — curiosamente, um ano depois, abria no Porto também um Cinema Olympia, na Rua Passos Manuel, hoje morada da discoteca Boîte, que mantém a fachada centenária do edifício onde ainda se lê o nome da sala de cinema. Em Lisboa, o Olympia surgiu pelas mãos de Leopoldo O’Donnell, Sabino Correia, Júlio Petra Viana, Henrique O’Donnell e Jaime da Cunha Rosa, que juntos “formaram uma empresa para a construção e a exploração do novo Salão”, escreve Manuel Félix Ribeiro, fundador da Cinemateca Portuguesa, no livro “Os Mais Antigos Cinemas de Lisboa”.

“A importância que o Olympia viria a assumir no quadro do espectáculo cinematográfico da Lisboa de então é das mais significativas, facto digno de destaque, por bem merecido. Sobretudo essa relevância torna-se francamente notória a partir de 1916 pelo dinamismo imprimido à sua exploração através das mais variadas e interessantes iniciativas em que o aspeto cultural, além do critério meramente cinematográfico, embora por vezes, dele e consequência direta, se apresentava, como dissemos, de significado muito especial, o que não se observa nas salas então suas concorrentes”, continua Félix Ribeiro.

O Olympia fotografado por Arnaldo Madureira em 1960. Em cartaz estava "Crime em Havana", com Raymond Burr e John Cassavetes

Arquivo Municipal de Lisboa

Na fotografia de Arnaldo Madureira, do Arquivo Municipal de Lisboa, vislumbra-se, por exemplo, o anúncio a Crime em Havana (1957), com Raymond Burr e John Cassavetes. Mas a programação do Olympia era mais diversa e contava também com matinés infantis e filmes acompanhados à orquestra, com um sexteto residente na sala. O Olympia chegou a ter também um restaurante e um gabinete de leitura. Outro fenómeno recordado no livro escrito por Manuel Félix Ribeiro é os populares brindes “para os quais o público recebia, com o seu bilhete, uma senha que lhe dava direito a participar num sorteio mensal”. A ligação ao teatro acabaria por surgir, mais tarde, através de espectáculos durante a tarde que se intitulavam “matinés” de Arte, em que “gente de teatro, de assinalável craveira artística e profissional”, como “Ângela Pinto, Augusto de Melo, Etelvina Serra, Estevão Amarante, Joaquim Costa, Érico Braga”, “conversava com o público sobre teatro, interpretando diálogos”.

O 25 de Abril de 1974 seria um ponto de viragem no Olympia. Abolida a censura, a porta daquele cinema abriu-se às películas pornográficas. José Reis, que começou por ser empregado na sala de espetáculos, tornou-se sócio do espaço nos anos 80, época em que a exibição de filmes de cariz pornográfico dominou a sala, que foi mantendo público até à chegada da crise que acabaria por forçar o fecho de portas em 2001.

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