Numa recente entrevista concedida a Sergio Vila-Sanjuán no Museu de Palma, o escritor espanhol Pablo d’Ors descreveu o seu livro Espanto e Encantamento como uma “epopeia do diminuto” baseada na contemplação e engrandecimento das pequenas coisas. À primeira vista, a proposta ficcional tem interesse; o seu efeito, contudo, fica aquém do esperado.

A estratégia ficcional deste romance é conhecida e costuma ser associada ao espírito dos escritores e dos pintores: observar uma coisa e descobrir nela uma outra, tudo por meio de uma atitude contemplativa que funciona como uma espécie de ponte entre o prosaico e o belo de um só objecto — um exercício, enfim, relacionado com a frase feita segundo a qual a beleza está nos olhos de quem vê. Para o efeito, já se sabe, convém ao artista preferir o silêncio ao barulho, a quietude ao alvoroço, a paciência à pressa, a concentração à dispersão, e mais uma série de binómios destinada a traçar a linha que separa os contemplativos dos comuns mortais.

Alois Vogel é a personagem principal do romance de Pablo d’Ors, e parece ser o herói indicado para cumprir a mencionada estratégia. Neste livro, o que lemos são as memórias que escreveu acerca da sua experiência de vinte e cinco anos como vigilante do Museu dos Expressionistas em Coblença, cidade alemã onde nasceu. O seu objectivo é claro do início ao fim: demonstrar, através dos episódios “insignificantes” (p. 24) da vida, o brilho “da pérola que se esconde dentro do quotidiano e do milagre do banal” (p. 291). Contemplativo, é ele quem exerce, sobre o tal “diminuto”, o engrandecimento proporcionado pela observação.

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