Grande parte das fichas dos principais candidatos ao pódio na Volta a Itália estão centradas na terceira e última semana, sendo João Almeida um exemplo paradigmático disso mesmo. Porque é uma fase onde será normal acusar o desgaste das primeiras 15 etapas, porque será uma fase com muita montanha concentrada, porque haverá também a acabar mais um contrarrelógio mas a subir. “Penso que na terceira semana posso ainda ter pernas e sentir-me bem, pode ser essa a minha vantagem. Sou bastante consistente. Talvez não seja melhor no contrarrelógio do que o Remco ou o Roglic, mas acho que vou estar na luta pela geral”, comentou o português antes do início do Giro. No entanto, e até lá, tudo conta. E foi isso que se viu na véspera.

A queda provocou um corte, João Almeida passou à frente: Milan vence etapa, português mantém terceiro lugar no Giro

Um dos pontos que os principais analistas apontam a João Almeida é a necessidade de, com o passar dos anos e das provas, ir melhorando no posicionamento no pelotão, algo mais aplicado ao início das subidas, onde de quando em vez tende a descair em demasia e se vê obrigado a fazer um esforço extra para cortar o espaço para os da frente. Pouco antes da chegada a San Salvo, tudo passou por esse posicionamento mas neste caso com o português a ser “feliz” no lugar que ocupava, que permitiu fugir ao corte que foi feito no pelotão após uma queda a cerca de quatro quilómetros. Como todos os pormenores contam, a classificação geral mexeu. Para se ter noção do que podia ter acontecido, se Primoz Roglic não tivesse fugido a esse episódio, estaria já com mais de um minuto de diferença para Remco Evenepoel ao segundo dia.

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João Almeida foi o melhor dos humanos: português começa o Giro em terceiro

Remco passou, o esloveno também, o português idem. No entanto, houve quem não tivesse tanta “sorte”, o que deu uma maior margem de conforto ao líder da UAE Team Emirates na terceira posição apenas atrás de Remco (29 segundos) e Filippo Ganna (sete segundos, sendo que o italiano não entrará nas contas finais pela geral): Almeida ganhou 19 segundos ao principal nome da Ineos, Tao Geoghegan Hart, e ao companheiro de equipa Jay Vine, e 12 face ao também corredor da UAE Team Emirates Brandon McNulty. Jonathan Milan, jovem sprinter italiano da Bahrain, saiu vencedor na primeira etapa em linha e teve todo o destaque no fim do dia mas foi esse “corte” que mais deu que falar até pelo impacto que poderia ter nos dias seguintes, tendo em conta o impacto que poderia ter na estratégia de equipas como a Ineos ou a Jumbo (de Roglic).

Era nesse contexto que chegava a terceira etapa do Giro, numa ligação com mais de 200 quilómetros entre Vasto e Melfi com uma subida de terceira categoria e uma de quarta categoria a cerca de 30 quilómetros da meta que, estando longe de ser um grande quebra-cabeças, poderia mexer com o filme da tirada antes de um dia em que, pela chuva esperada e pelas poucas zonas planas do percurso, tudo será mais animado.

O início da etapa, marcada também pela visita à Soudal Quick-Step de Remco Evenepoel do antigo central do Benfica Jan Vertonghen, teve como grande protagonista a Team Corratec, que conseguiu isolar dois homens, Veljko Stojnic e Alexander Konychev (filho de Dmitri Konychev), numa fuga que chegou a ter mais de seis minutos de avanço mas que foi sendo anulada de forma paulatina pelo pelotão enquanto surgiam alguns picos de “emoção” como a passagem pelo sprint intermédio em Foggia onde Mads Pedersen bateu Jonathan Milan. A 50 quilómetros do final a distância era de dois minutos mas a “notícia” era mesmo a chuva que deixava a estrada bem mais molhada do que se tinha encontrado até essa zona do percurso.

Antes da chegada ao momento das decisões, a reportagem do Eurosport avisava sobre um perigo redobrado que iria existir após as duas subidas: o piso nos 20 quilómetros de descida, além de estar num trajeto mais sinuoso, era novo e estava bastante escorregadio, o que poderia favorecer alguns corredores e atrasar outros. Antes, a subida teve um início mais puxado do que se pensava tentando anular os principais candidatos numa chegada ao sprint, Remco e Roglic conseguiram uma colocação melhor do que João Almeida nesses primeiros quilómetros e havia alguns corredores que iam começando a ceder ligeiramente como Ganna, que ocupava o segundo lugar da geral – se depois conseguiria ou não recuperar na descida era a grande dúvida. Thibaut Pinot, da Groupama, ficou com nove pontos da montanha, passando à frente de Santiago Buitrago.

Entre a descida e a segunda subida já estavam formados dois grupos com a diferença de 50 segundos, sendo que João Almeida continuava mais na cauda do primeiro com companheiros de equipa como McNulty ou Jay Vine. Nas várias movimentações, Mads Pederson beneficiou do trabalho da Trek e conseguiu reentrar outra vez na frente para discutir a etapa, sendo que entre os atrasos entrou também João Almeida, que teve de colocar os pés no chão após uma queda, perdeu algum terreno mas contou com a UAE Team Emirates a esperar para fazer a colagem de novo ao grupo da frente enquanto Remco e Roglic puxavam dos galões para irem buscar três e dois segundos, respetivamente, no último sprint intermédio a dez quilómetros da meta. Faltava apenas saber o vencedor da etapa e quem conseguia bonificar na chegada a Melfi, com Michael Matthews (Team Jayco) a bater Pedersen (Trek) e Kaden Groves (Alpecin) e com Remco a tentar “marcar” Roglic na chegada, sendo que o esloveno ainda tentou algo mais mas terminou a etapa na sétima posição.

João Almeida terminou esta terceira etapa da Volta a Itália no 41.º lugar com o mesmo tempo de Michael Matthews, subindo com isso ao segundo lugar da geral depois da queda de Filippo Ganna para 121.º a mais de 15 minutos (Brandon McNulty, companheiro do português na UAE Team Emirates, desceu também do top 10 para 75.º). O corredor de A-dos-Francos está a 32 segundos do líder Remco Evenepoel, pelas bonificações conseguidas no último sprint intermédio, tendo agora atrás de si na terceira posição Primoz Roglic, a 44 segundos do belga. Fecham agora o top 10 Stefan Küng (46”), Geraint Thomas (58”), Aleksandr Vlasov (58”), Tao Geoghegan Hart (1.02), Michael Matthews (1.02), Jay Vine (1.08) e Mads Pedersen (1.18).