O diretor do Serviço de Ginecologia/Obstetrícia do Hospital de São Bernardo, em Setúbal, admite estar “muito preocupado” com a falta de médicos no serviço que dirige e com a “perspetiva de mais saídas” nos próximos meses, a somar àquelas que se registaram nos últimos anos.

Ao Observador, José Pinto de Almeida perspetiva “um verão difícil” e realça que este serviço deveria ter 24 médicos, mas neste momento só tem seis (praticamente um quarto dos especialistas necessários para assegurar as escalas).

O responsável admite que, mesmo com o esquema de funcionamento rotativo, em que o Hospital de Setúbal alterna as escalas de fim de semana das urgências de Ginecologia/Obstetrícia e Blocos de parto com outros hospitais da região (até final de Maio com o Centro Hospitalar do Barreiro-Montijo e, a partir de junho, com o Hospital Garcia de Orta), os médicos disponíveis “já não chegam”.

José Pinto de Almeida sublinha que o serviço tem “um elevado recurso a médicos tarefeiros”, mas, mesmo entre esses, “alguns têm pouca disponibilidade” e terão ainda menos durante o período de verão, porque “também gozam férias”. Já os médicos do quadro “fazem muitas horas extra”, estando, por isso, no limite das suas capacidades.

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Hospital de Setúbal prevê mais de 20 dias de encerramento nas urgências de obstetrícia no verão

As “dificuldades sempre foram muitas”, lembra o médico. Já em 2020, a Ordem dos Médicos alertava para a possibilidade de encerramento da urgência devido à saída de cinco especialistas. No ano seguinte, em agosto, José Pinto de Almeida apresentou a demissão do cargo de diretor do serviço, devido à falta de médicos para assegurar a urgência. Já em junho de 2022, o médico, que acabou por não abandonar o cargo, admitia encerrar o serviço de urgência de Ginecologia/Obstétrica por falta de médicos nas escalas, o que, aliás, acabou por acontecer nalguns fins de semana durante o verão.

Neste momento, reina a descrença, uma vez que, realça o médico, “não se tem notado um esforço do governo para tornar atrativas as vagas para recém-especialistas que são abertas”, mas que depois não são preenchidas. “O tempo corre e não se veem resultados das negociações no que diz respeito à atualização da grelha salarial. E a questão da dedicação plena ainda não está definida”, critica José Pinto de Almeida, em declarações ao Observador.