“The Quiet Girl-A Menina Silenciosa”

Irlanda rural, anos 80. Cáit é a mais nova de várias irmãs que vivem com os pais numa quinta. A mãe está grávida e sobrecarregada de trabalho, e o pai mais interessado na bebida e no jogo do que nas filhas e na exploração. E enquanto o bebé não nasce, a silenciosa, humilde e observadora Cáit é enviada para a quinta de uns primos da mãe, que não têm filhos. Lá, a menina vai receber a atenção, o carinho e o amor que lhe faltam, afeiçoar-se à prima e em especial ao primo, e descobrir que há um segredo naquela casa em que se sente tão bem. Primeira realização de Colm Bairéad e finalista ao Óscar de Melhor Filme Internacional, “The Quiet Girl-A Menina Silenciosa” é uma fita inteligente, de poucas falas e sensibilíssima, toda feita à base da sugestão, do não-dito e dos silêncios expressivos, que trata temas melindrosos (a infância negligenciada e pobre de afecto, a morte de um filho) com enorme delicadeza, compreensão e um recato dramático que nunca compromete, antes realça, a força emotiva da história. No papel da paciente e carente Cáit, a límpida Catherine Clinch mete o filme no bolso e leva-o para casa.

“Terra de Deus”

Realizado pelo islandês Hlynur Pálmason, “Terra de Deus” foi uma das coqueluches recentes do cinema europeu. Passado no final do século XIX, o filme tem na sua base a suposta descoberta de sete placas fotográficas de vidro, datadas dessa época, numa remota zona costeira da Islândia. Pálmason põe em cena o autor ficcional das mesmas, Lucas (Elliott Crosset Hove), um jovem padre dinamarquês, e amante de fotografia, que foi enviado para a Islândia para construir uma igreja e levar a palavra de Deus a uma região remota do país. E que escolhe atravessá-lo da forma mais demorada e difícil, a cavalo, com um intérprete e um guia local, para o conhecer e ir fotografando natureza e gente pelo caminho. A paisagem da Islândia, majestosa e rude, transcendente e inclemente, domina a primeira parte do filme, preenchida pela complicada viagem do sacerdote e dos seus acompanhantes. Na segunda parte, após a chegada deste ao seu destino, perde impacto e interesse visual e torna-se previsível, tal como a sorte da personagem principal. “Terra de Deus” é meio bom filme.

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“Marlowe: O Caso da Loira Misteriosa”

Liam Neeson interpreta Philip Marlowe, o imortal detective particular criado por Raymond Chandler, nesta fita realizada por Neil Jordan, também autor do argumento com William Monahan, baseado no livro “The Black-Eyed Blonde”, escrito por John Banville sob o pseudónimo de Benjamin Black. Marlowe é contratado por uma sofisticada e esquiva loira, Clare Cavendish (Diane Kruger), para que descubra o paradeiro do seu ex-amante, que pode ou não ter morrido num muito suspeito acidente de automóvel à porta de um exclusivo clube da cidade. O detective mete-se então numa história de tráfico de droga e de deboche sexual entre os ricos e privilegiados,  que toca também em Hollywood.  E cruza-se com personagens como a mãe de Clare, Dorothy Quincannon (Jessica Lange), uma antiga e riquíssima estrela de cinema, ou o bem-falante mas cruel “gangster” Lou Hendricks (Alan Cumming). “Marlowe: O Caso da Loira Misteriosa” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.