A seleção francesa tem vindo a realizar um percurso de ascensão ao topo do futebol feminino europeu, muito à boleia do sucesso do Lyon e da formação de qualidade nos clubes franceses, mas a verdade é que o primeiro título continua a escapar — num patamar que Países Baixos e Inglaterra, outros dois exemplos de nações emergentes, já alcançaram.
Ainda assim, França entrava neste Mundial 2023 enquanto candidata a chegar às últimas eliminatórias: principalmente pelo que fez em 2011, quando só caiu nas meias-finais, e pelas campanhas até aos quartos de final tanto em 2015 como em 2019. Num Grupo F onde o Brasil é o outro grande candidato ao apuramento, Jamaica e Panamá surgem como wildcards — mas como se tem vindo a perceber neste Campeonato do Mundo, com os exemplos recentes do Haiti e da África do Sul, nenhuma seleção pode ser automaticamente afastada.
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The World Cup starts tomorrow for Les Bleues ????
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Contudo, a maior adversária da seleção francesa é mesmo a própria seleção francesa. Os últimos anos foram de autêntico turbilhão interno, com a relação entre a equipa e a selecionadora Corinne Diacre a tornar-se completamente insustentável — ao ponto de algumas jogadoras, incluindo a influente capitã Wendie Renard, recusar voltar a ser convocada. A situação aliviou no início do ano, quando a treinador foi despedida e substituída por Hervé Renard, que esteve no Mundial do Qatar com a Arábia Saudita. Mas a insegurança criada persiste.
França estreava-se no Mundial contra a Jamaica, este domingo, e procurava entrar com o pé direito para não ser obrigada a pegar na calculadora para chegar aos oitavos de final. Renard era naturalmente titular — naquele que foi o maior “reforço” que as francesas conquistaram com a saída de Corinne Diacre –, e Hervé Renard só tinha a lamentar as ausências de Henry, Cascarino e Katoto, três internacionais que falharam a competição por lesão.
Can either side find a breakthrough in the second half? ????#FIFAWWC
— FIFA Women's World Cup (@FIFAWWC) July 23, 2023
As duas equipas chegaram sem golos ao intervalo e repetia-se com França a dificuldade que Inglaterra teve contra o Haiti e que a Suécia teve contra a África do Sul. A seleção de Hervé Renard tinha mais bola, procurava tirar partido das bolas paradas mas esbarrava quase sempre na organização defensiva da Jamaica, que ia beneficiando de um jogo algo atípico e com muitas paragens e interrupções. Pelo meio, Diani era a principal desequilibrador francesa, enquanto que Shaw era o elemento de referência das jamaicanas.
A lógica manteve-se na segunda parte, ainda que França tenha regressado do intervalo com maior intensidade e vontade de fazer diferente, e o empate a zeros não foi alterado. Na jornada inaugural do Mundial, num jogo que pode tornar-se decisivo devido à presença do Brasil no mesmo grupo, a seleção francesa não soube quebrar a organização defensiva da Jamaica e é a primeira grande desilusão da competição.
A peróla
Embora não tenha conseguido quebrar o empate a zeros, Kadidiatou Diani foi claramente a principal desequilibradora francesa. Incluída no grupo que recusou voltar à seleção enquanto Corinne Diacri ainda lá estivesse, fica claro que a avançada do PSG seria uma perda de peso para uma equipa onde a criatividade já não abunda.
O joker
Apesar de ter terminado expulsa, ao ver um segundo cartão amarelo já no período de descontos, Bunny Shaw é naturalmente a referência maior da Jamaica. Aos 26 anos, a jogadora do Manchester City é o exemplo para as restantes colegas e sempre a principal inconformada, acelerando o jogo no ataque e recuando muitas vezes para ajudar no processo defensivo.
A sentença
Com o Brasil incluído no mesmo Grupo F, França vê-se agora sem qualquer tipo de margem de erro nas duas jornadas restantes se quiser garantir o apuramento para os oitavos de final do Mundial. O próximo encontro, contra a seleção brasileira, pode ditar se uma das principais candidatas a ser finalista fica de fora da prova ainda na fase de grupos.
A mentira
Ao contrário do que França quis fazer parecer, as ondas de choque dos últimos dias de Corinne Diacre à frente da seleção ainda não foram ultrapassadas. A seleção francesa é uma equipa magoada, sem grande confiança ou espírito de grupo, e terá de se superar para conseguir mais do que um empate a zeros perante a Jamaica.