No mesmo dia em que o Grupo A chegou ao fim, com Suíça e Noruega a seguirem para os oitavos de final, o Grupo H fechava ainda a segunda jornada. Alemanha e Colômbia defrontavam-se em Sydney e disputavam a liderança do grupo, já que as alemãs tinham goleado Marrocos e as colombianas tinham vencido a Coreia do Sul no primeiro jogo, entrando em campo com os mesmos três pontos.
A Alemanha tem sido algo consensual no que toca a apostas, sendo apontada quase sempre como a grande favorita à conquista do Mundial — não só pela goleada imposta a Marrocos como também pelas fragilidades demonstradas por Inglaterra, Estados Unidos ou Países Baixos, as outras candidatas a uma presença na final. Do outro lado, a Colômbia tornou-se um wildcard que está a mostrar que o futebol feminino da América do Sul é mais do que o Brasil. Principalmente à boleia da história de Linda Caicedo.
Um pontapé de fora de área para continuar uma história Linda (a crónica do Colômbia-Coreia do Sul)
Aos 18 anos e acabada de assinar com o Real Madrid, a promissora avançada fez um dos golos da Colômbia contra a Coreia do Sul e tornou-se a segunda sul-americana mais nova a marcar num Mundial — ficando apenas atrás de Marta. O facto de ter sobrevivido a um cancro nos ovários diagnosticado aos 15 anos, porém, só torna ainda maior o feito de ter marcado no Mundial Sub-17, Sub-20 e A no espaço de um ano.
Um enquadramento que fez com que Linda Caicedo, pelos melhores e piores motivos, fosse a protagonista dos últimos dias de Campeonato do Mundo. Durante um treino da Colômbia, a avançada sentiu uma dor no peito e caiu no chão, num vídeo que correu o mundo e que deixou muitas dúvidas sobre a continuidade da jogadora na competição. Este domingo, quando o onze inicial sul-americano foi anunciado no Allianz Arena de Sydney, os adeptos colombianos tiveram o primeiro motivo para festejar quando ouviram o nome de Linda Caicedo.
Unbelievable scenes. pic.twitter.com/jtgqXZoDFU
— FIFA Women's World Cup (@FIFAWWC) July 30, 2023
Mas o show de Linda Caicedo estava apenas a começar. Num jogo onde a Colômbia surpreendeu a Alemanha com agressividade, reação à perda da bola e uma organização defensiva que anulou o poderio ofensivo adversário, a avançada de 18 anos decidiu fazer a diferença à passagem do minuto 52. Recebeu a bola na grande área, tirou duas alemãs da frente com uma finta brilhante e atirou um pontapé em jeito que só parou no fundo da baliza e não deu qualquer hipótese à guarda-redes.
A Alemanha chegou ao empate já na reta final, com Alexandra Popp a converter uma grande penalidade cometida pela guarda-redes colombiana, mas o conto de fadas já estava predestinado. No sétimo minuto de descontos e na sequência de um canto cobrado na direita, Manuela Vanegas apareceu sozinha a cabecear na marca de penálti e deu a (justa) vitória às sul-americanas.
Num jogo que altera as contas no que toca a candidatos e favoritos à conquista do Mundial, a Colômbia garantiu desde já o apuramento para os oitavos de final. Já a Alemanha, contrariamente ao esperado mas sem surpreender ninguém que tenha assistido à partida, vai procurar assegurar a qualificação contra a já eliminada Coreia do Sul na última jornada.
Spectacular. pic.twitter.com/VPbmIzLJS9
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A peróla
Como não? Linda Caicedo continua a confirmar que é uma das protagonistas deste Campeonato do Mundo — e que quer ser uma das protagonistas do futuro do futebol feminino. A avançada de 18 anos assinou mais um golo brilhante e vergou a toda-poderosa Alemanha, deixando a Colômbia nos oitavos de final e garantindo que vai continuar a espalhar magia pelo menos durante mais dois jogos. Ainda voltou a preocupar já na reta final, parecendo ressentir-se da tal dor no peito que sentiu no treino, mas quis regressar ao relvado e só foi substituída já nos descontos.
O joker
1,78m de avançada que tantas vezes é central. Mayra Ramírez é a referência ofensiva da Colômbia, sendo quase sempre a jogadora mais adiantada da equipa, mas é também o elemento que mais recua para apoiar nas transições defensivas e impor o poderio físico nas bolas paradas. Figura central de um Levante que ficou no 3.º lugar em Espanha (e onde também joga a portuguesa Tatiana Pinto), foi uma das jogadoras em evidência contra a Alemanha.
A sentença
O Grupo H tem uma vaga de apuramento ocupada e outra por ocupar. A Colômbia somou duas vitórias em dois jogos e está nos oitavos de final, enquanto que a Coreia do Sul somou duas derrotas em dois jogos e está desde já eliminada. A Alemanha vai tentar carimbar o apuramento na derradeira jornada, contra as sul-coreanas, sendo que Marrocos ainda pode chegar ao segundo lugar depois de ter conquistado três pontos contra as asiáticas, também este domingo.
A mentira
A Alemanha não é indestrutível. A seleção de Martina Voss-Tecklenburg sofreu a primeira derrota numa fase de grupos de um Mundial desde 1995 e anulou todo o favoritismo que lhe tem sido atribuído nas últimas semanas, mostrando-se muito dependente da inspiração de Alexandra Popp no ataque e demasiado presa de movimentos e ideias.